Em clima de palanque, Lula diz que incomoda por governar para pobres

A uma platéia de trabalhadoras rurais, presidente retoma crítica à 'elite', que acusa de só ter beneficiado os ricos

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Por Lisandra Paraguassu
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Brasília - Em um discurso com tom de comício de campanha eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou ontem suas críticas à "elite" brasileira. Na cerimônia de encerramento da Marcha das Margaridas - um encontro de mulheres trabalhadoras rurais -, o presidente afirmou que "tem muita gente incomodada" com seu governo e que sua preferência é fazer política para os mais pobres.  Ouça o discurso do presidente "Eu digo todo santo dia: sou presidente de 190 milhões de habitantes, mas não tenho dúvida de que a minha preferência é fazer política para a parte mais pobre da sociedade brasileira, que é quem precisa do Estado brasileiro", afirmou para uma platéia calculada pela Polícia Militar em torno de 15 mil pessoas, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília. No seu discurso, Lula prometeu simplificar o Programa de Financiamento da Agricultura Familiar (Pronaf) e investir mais no programa de aquisição de alimentos, em que a produção de pequenos agricultores é comprada pelo governo, e contou a evolução do Programa Luz para Todos. "Eu sei que tem muita gente incomodada. E vão se incomodar muito mais, porque nós vamos fazer muito mais. Eu tenho três anos e meio de mandato, tenho clareza dos discursos que fiz por este país a vida inteira", afirmou Lula. "E eles se incomodam porque antes era fácil ganhar as eleições com o voto dos pobres e depois governar só para os ricos." GASTO O presidente rebateu comentários feitos durante o fim de semana, de que o governo estaria financiando a marcha das mulheres. "Quando milhares de mulheres, de 27 Estados deste país, a grande maioria trabalhadora rural, se dispõem a andar dias e dias de ônibus, passando privações, ainda vem alguém dizer: ?Essas mulheres foram pagas pelo governo?", reclamou. "Se eu pudesse, se eu tivesse dinheiro, não precisava ser dinheiro do governo, eu daria dinheiro do meu bolso para trazer mais mulheres do que têm aqui. E, mesmo que tivesse trazido, o trabalho que vocês tiveram para produzir uma pauta de reivindicações com mais de 100 itens é um fato quase inédito na história deste país." Antes de Lula falar, a coordenadora da Marcha, Carmem Foro, já havia reclamado dos comentários. "Tivemos que fazer muita ação entre mulheres, vender bolo, bordar chapéus, vender cabrito, fazer vaquinhas para chegar aqui", discursou. "Nós que apoiamos o presidente Lula não cansamos de lutar." Atrás dos oradores do dia, um painel da Marcha trazia o nome dos organizadores - entidades sindicais e de agricultura - e dos apoiadores e patrocinadores, que incluíam Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste e Petrobrás. De acordo com a assessoria da Marcha, o custo da mobilização ficou acima de R$ 10 milhões. A maior parte dos gastos com transporte, alimentação e alojamento, foi bancada pela Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), responsável pela Marcha das Margaridas e presidida por Manoel dos Santos, por sindicatos e pelas próprias participantes. O restante, cerca de R$ 1 milhão, teria vindo de patrocínios - incluindo aí verbas do governo federal e de organizações não-governamentais (ONGs). O governo federal ainda vai investir mais R$ 100 mil. Os recursos virão da Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Seppir) e serão usados para uma publicação com os resultados da Marcha das Margaridas. O anúncio foi feito pela ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire. FRASES "Eu digo todo santo dia: sou presidente de 190 milhões de habitantes, mas não tenho dúvida de que a minha preferência é fazer política para a parte mais pobre da sociedade brasileira, que é quem precisa do Estado" "Eu sei que tem muita gente incomodada. E vão se incomodar muito mais, porque nós vamos fazer muito mais. Eu tenho três anos e meio de mandato, tenho clareza dos discursos que fiz a vida inteira. E eles se incomodam porque antes era fácil ganhar as eleições com o voto dos pobres e depois governar só para os ricos" "Quando milhares de mulheres, a maioria trabalhadora rural, se dispõem a andar dias e dias de ônibus, passando privações, ainda vem alguém dizer: ?Essas mulheres foram pagas pelo governo?. Se eu pudesse, eu daria dinheiro do meu bolso para trazer mais mulheres do que têm aqui" Luiz Inácio Lula da Silva Presidente 

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