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Em carta de desfiliação, Marta critica PT por envolvimento em caso de corrupção

Segundo ela, investigações que envolvem integrantes do partido são motivo de 'indignação' e 'grande constrangimento'

Por Carla Araujo
Atualização:

Em carta em que pede sua desfiliação do PT, a senadora Marta Suplicy diz que o papel "protagonista" do PT no que chamou de "um dos maiores escândalos de corrupção" é a razão principal para deixar o partido que ajudou a fundar. A senadora destaca que, "mesmo após a condenação de altos dirigentes, sobrevieram novos episódios a envolver sua direção nacional", sem citar os desvios na Petrobrás investigados na Operação Lava Jato e a prisão do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto por suspeita de participação no esquema na estatal. 

Em documento protocolado na manhã desta terça-feira, 28, nos diretórios municipal, estadual e nacional do partido ao qual o Broadcast Político teve acesso, a senadora diz sentir que os princípios e o programa partidário do PT "nunca foram tão renegados pela própria agremiação". Segundo ela, as investigações diárias que envolvem membros do partido são motivo não só de "indignação" como de "grande constrangimento". O documento deve ser divulgado pela senadora na tarde desta terça pelas redes sociais.

Após uma carreira de 33 anos no PT, a senadora Marta Suplicy deixou o partido em abril deste ano. Sua saída da legenda foi o desfecho de uma crise que começou na campanha presidencial de 2014, quando Marta foi preterida pela sigla na disputa pelo governo paulista. O candidato escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Ela já havia sido preterida por Lula na disputa pela Prefeitura em 2012, quando o escolhido foi Haddad. Foto: André Dusek/Estadão

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Marta, que já vinha demonstrando publicamente sua insatisfação com o partido e com o governo da presidente Dilma Rousseff desde o ano passado, quando saiu do Ministério da Cultura, disse ainda que, por ter acreditado nos "propósitos éticos" da carta de princípios do PT, não tem agora como "conviver com esta situação sem que esta atitude implique uma inaceitável conivência." 

'Isolada'. Segundo a senadora, ela tentou exigir providências do partido e reverter a situação, mas não foi ouvida. "Percebi que o Partido dos Trabalhadores não possui mais abertura nem espaço para o diálogo com suas bases e seus filiados", afirmou. "Fui isolada e estigmatizada". Marta disse ainda que o PT não parece interessado ou não tem condições de resgatar seu programa e se distanciou completamente de seus fundamentos. 

A ex-petista acusa ainda a direção do PT de restringir e cercear seu desempenho nas atividades partidárias. "O que é mais grave, (cerceando) minha atividade parlamentar oriunda da representação política de meu mandato", escreveu.

A senadora disse vivenciar "o mais difícil e o pior momento" de sua vida política e afirmou que vive hoje uma situação de constrangimento com a bancada do PT e no plenário do Senado. "Tenho me furtado a discursar e emitir minhas opiniões por me negar a defender um partido que não mais me representa, assim como a milhões de brasileiros que nele um dia acreditaram", afirmou.

Marta diz ainda que será fiel ao seu mandato e que sua atuação como senadora "não pode ser isolada". "Todo parlamentar precisa de um partido e o partido se expressa por meio de seus representantes eleitos", disse. O destino mais provável de Marta é o PSB, pelo qual deve disputar a Prefeitura de São Paulo no ano que vem contra o petista Fernando Haddad.

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"Para quem é mandatária, como sou, eleita legitimamente por mais de 8 milhões de votos, resta-me a certeza de que minha prioridade é a fidelidade ao mandato que me foi outorgado pelo povo do estado de São Paulo", escreveu. 

Segundo um dirigente do diretório estadual, o departamento jurídico do partido está avaliando o documento entregue por Marta e deve se pronunciar em breve sobre o assunto.

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