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Em aula magna, FHC lamenta o unilateralismo

Para o ex-presidente, o unilateralismo ? o mundo dominado por uma única superpotência, os Estados Unidos - é a grande ameaça do momento e a causa da mobilização mundial antiguerra, mais do que a guerra em si.

Por Agencia Estado
Atualização:

Em passagem pelo Brasil esta semana, entre uma estadia de mais de 60 dias em Paris e uma viagem aos Estados Unidos programada para a semana que vem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não quis comentar sobre a situação política brasileira, nem deu entrevistas. Mas pronunciou-se a respeito da crise mundial, em uma aula magna realizada nesta quinta-feira, que a TV Cultura de leva ao ar na próxima segunda-feira, à meia-noite, como parte da série Grandes Cursos. Segundo ele, é um ?pensamento anacrônico? a visão de que há interesses econônicos por trás da ofensiva americana contra o Iraque. Este foi um dos pontos mais polêmicos da explanação de FHC. Para ele, se o mercado funciona de maneira independente do Estado, este não precisa de ações políticas para apoiá-lo. ?É claro que há quem se beneficie com a guerra?, ressalvou. ?Mas o fundamento pós-imperialista é a vontade de plasmar o mundo a partir de valores.? Fernando Henrique falou sob o tema O Multilateralismo e a Crise Internacional. Para ele, o unilateralismo ? o mundo dominado por uma única superpotência, os Estados Unidos - é a grande ameaça do momento e a causa da mobilização mundial antiguerra, mais do que a guerra em si. ?A vontade (do mundo) não é de evitar a guerra, mas evitar uma visão unilateral?. Ele avalia a repentina mudança de leme da opinião pública americana como uma das características da globalização e citou o pensador francês Alain Tourraine, que esteve recentemente no mesmo Teatro Franco Zampari para gravar uma aula para a TV Cultura: ?A opinião globalizada flutua?. O ex-presidente acusou a estrutura da Organização das Nações Unidas, órgão que representaria a somatória de vontades nacionais, de contribuir com a abertura para a imposição da preponderância americana que agora se assiste. Para o ex-presidente, a representatividade dos países que não são aqueles que venceram a Segunda Guerra Mundial sempre foi pouco significativa na organização. ?O Brasil sempre quis participar do Conselho de Segurança da ONU para que o mundo não caísse nessa domínio unilateral.? O ex-presidente juntou em quase duas horas de aula referêcias acadêmicas e sua experiência com a diplomacia internacional para explicar, a partir dos atentados de 11 de setembro, o cenário limite em que o mundo se encontra hoje. Lembrou que os Estados Unidos tiveram ações unilaterais anteriores, e não facilitaram a criação de convenções que de alguma forma confrontam a idéia da soberania nacional, em nome de uma soberania humana, como o tratado de Kyoto contra as emissões de poluentes. ?A crise pode trazer uma renovação,? disse. E encerrou a aula com uma reconsideração: ?Sempre acreditei que era mais fácil reorganizar as coisas resolvendo o mercado, mas quem sabe isso possa ser feito através de políticas.?

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