Em 100 dias, PT muda o diagnóstico da pobreza

Crítica ao rigor da política econômica de FHC dá lugar à ênfase no ajuste fiscal

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Por Agencia Estado
Atualização:

Bastaram cem dias de governo para que o programa econômico de Luiz Inácio Lula da Silva fosse virado de ponta-cabeça em seu principal capítulo: o social como eixo do desenvolvimento. Ao contrário do documento divulgado ontem pelo Ministério da Fazenda , que considera o ajuste fiscal como primeiro compromisso, o programa da campanha de Lula, batizado de O Brasil para Todos, afirmava que a rigidez da política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso poderia provocar a ?perda de rumo e de credibilidade?. Até o ano passado, o PT achava que a exclusão social ? caracterizada por aumento do desemprego e estagnação dos níveis de renda ? era produzida por ?políticas liberais que urge corrigir?. Na página 19 da plataforma eleitoral de Lula está escrito com todas as letras que os maiores erros do governo tucano foram a ?supervalorização? das políticas macroeconômicas voltadas para a estabilização da moeda a qualquer custo, a abertura econômica desordenada e a remuneração privilegiada do capital financeiro. ?Estabilidade macroeconômica é indispensável, é ponto de partida, mas não é suficiente?, diz o texto. É só virar a página para encontrar outro trecho com o mesmo teor: ?Trata-se de um equívoco a idéia de que basta equilíbrio macroeconômico (...) para que o desenvolvimento flua naturalmente.? Na prática, uma ?tradução? da fala do candidato ?Lulinha paz e amor? durante toda a campanha. Mesmo agora, como presidente da República, Lula repete uma de suas frases preferidas no palanque. ?A política econômica não pode ser apenas estatística. Por trás de cada número há uma mulher, um homem, uma criança?. Pista Antes mesmo de ser confirmado ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho deu uma pista de que o acerto de contas da era Lula poderia surpreender. ?O ajuste fiscal do nosso governo será maior do que o de FHC?, afirmou Palocci em entrevista ao Estado, no fim do ano passado, quando coordenava a transição pelo lado petista. O modelo econômico proposto pelo PT 2002 priorizava três aspectos: 1) o crescimento do emprego; 2) a geração e distribuição de renda e 3) a ampliação da infra-estrutura social. ?O sentido geral do nosso programa é diminuir esses grandes desequilíbrios, convertendo o social no eixo do novo modelo de desenvolvimento?, sustenta O Brasil para Todos. ?Sem crescimento dificilmente estaremos imunes à espiral viciosa do desemprego crescente, do desarranjo fiscal (...)? A plataforma petista não trata em nenhum momento da autonomia operacional do Banco Central, pivô da recente polêmica não só com os radicais, mas também com deputados da ala moderada do partido. ?Debater autonomia do Banco Central agora, com a fragilidade que o país se encontra, não interessa a ninguém?, argumenta o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. ?Não fomos nós que colocamos isso na agenda.? Mas o documento Política Econômica e Reformas Estruturais, divulgado ontem, mostrou que não é bem assim: o calhamaço trata do assunto sem nenhuma cerimônia. No que diz respeito à reforma tributária, plataforma eleitoral e diretrizes de governo coincidem. A reforma da Previdência, porém, foi apresentada na campanha como um tema de justiça social ? não como questão fiscal. Também não se propunha, como hoje, a contribuição dos servidores inativos. ?Há um forte debate com os governadores sobre isso, mas nada está fechado?, garante o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini. Veja o índice de notícias sobre o Governo Lula-Os primeiros 100 dias e a área econômica

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