Eleitores marcam velório de Mestrinho com histórias

Ex-governador do Amazonas morreu no domingo em razão de complicações cardiorrespiratórias

PUBLICIDADE

Por Liege Albuquerque
Atualização:

Filas de ex-eleitores marcaram o dia do velório do ex-governador Gilberto Mestrinho no domingo, 19, em Manaus. Boa parte das pessoas têm mais de 50 anos e choram como se fosse a morte de um parente. "Era como se fosse meu pai, eu pegava brinquedos das mãos dele, junto com meus irmãos, quando pequena", contou entre lágrimas Eleutéria da Conceição dos Santos, de 49 anos.

 

PUBLICIDADE

Seu marido, já falecido, trabalhou como jardineiro do Palácio Rio Negro, onde Mestrinho distribuía os brinquedos quando governador, no fim da década de 50, e onde está sendo velado. Segundo Eleutéria, o que mais marcou seu marido é que ele contava que Mestrinho o cumprimentava todos os dias, "como se ele fosse uma figura importante, com o mesmo aperto de mão e sorriso".

 

Acompanhado de seu filho mais novo, o aposentado Luis Olivença, de 81 anos, escreveu no livro de recordações na entrada do Palácio Rio Negro. "Vim velar um amigo que não tinha inimigos". Para Olivença, Mestrinho é o último dos políticos "populistas". "Na melhor tradução da palavra: honesto e que realmente gostava do povo".

 

Na frente do Palácio Rio Negro, um carro de som entoa seu jingle de governo mais conhecido, acompanhado em voz baixa pelos ex-eleitores na fila, na última homenagem ao "boto navegador". O enterro está marcado para a terça-feira, 21, pela manhã, no jazigo da família Mestrinho, no Cemitério São João Baptista.

 

BOTO

 

Mestrinho foi romanceado em vida pelo livro "A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi" de Márcio Souza e mais recentemente em uma biografia autorizada da professora Iraildes Souza. Em seus governos, fez polêmica: distribuía ranchos (cestas básicas), brinquedos e tirava dinheiro do próprio bolso quando abordado por alguém que pedia nos seus corpo-a-corpo quase diários.

 

Causou polêmica maior em seu terceiro mandato no governo, quando distribuiu motosserras a quem quisesse corroborar com sua teoria: que a Amazônia não era um "museu" e chamando ecologistas de "ecoxiitas". Para ele, as árvores grandes tinham de ser derrubadas porque "impediam as pequenas de crescerem, fazendo sombra". Também pregou a caça ao jacaré, alegando uma "superpopulação". Hoje, a carne do jacaré é comercializada no Amazonas.

Publicidade

 

LUTO

 

O governo do Amazonas decretou luto oficial de três dias por conta da morte de Mestrinho. Segundo nota do governo, Eduardo Braga, governador do Amazonas, "lamentou o desaparecimento de Gilberto e ressaltou a importância dele para a História do Amazonas e salientou a parceria política firmada com o ex-governador".

 

O governador do Amazonas afirma que Mestrinho "foi, sem dúvida, um dos grandes políticos do Amazonas, tendo sido governador do Estado por três vezes, senador uma e prefeito de Manaus uma, com realizações que marcaram a vida de todos que moram no Amazonas".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.