Estamos diante do risco de mergulhar o País numa crise generalizada de autoridade sem que haja uma força política para recompor as instituições. Como nos anos 1920, à crise política se soma a econômica e, no lugar dos tenentes com seu discurso moralizador, aparecem os juízes.
Fossem outros os tempos, haveria partidos capazes de constituir uma coalizão para levar o País até as próximas eleições. Em 1930, Getúlio Vargas liderou um arranjo de oligarquias dissidentes apoiado pelo Exército e instaurou um novo regime político.
Em tempos mais recentes, após a queda de Collor, seu vice, Itamar Franco, cumpriu esse papel ao liderar uma aliança dos grandes partidos. Isso não é possível hoje por dois motivos: eles estão desmoralizados e viveram um período de radicalização que destruiu as pontes de entendimento entre eles.
Já um presidente eleito indiretamente teria o mesmo pecado de origem do governo atual que é a falta de legitimidade obtida nas urnas. E sua escolha caberia a um Congresso suspeito de corrupção.
Mesmo que se elegesse alguém acima dos partidos, essa pessoa teria que governar com eles e se posicionar sobre as reformas que aprofundaram a impopularidade de Temer: a trabalhista e a da Previdência.
Uma emenda constitucional que permitisse as eleições diretas teria a vantagem de devolver ao povo o poder que é dele numa democracia. Só que o eleito teria um mandato curto demais para não decepcionar os eleitores.
Refundar a República mediante eleições gerais do Congresso, do Presidente e de uma Assembleia Constituinte exclusiva seria a aposta mais popular. Mas, como toda aposta, comportaria riscos como um regresso conservador ou a eleição de um outsider sem apoio organizado na sociedade civil. E a probabilidade seria mínima, pois a história nos ensina que políticos em seus mandatos jamais largam o osso.
A crise ainda parece não ter fim.
*HISTORIADOR E PROFESSOR DA USP