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Eleições 2002: uma olhar sobre os presidenciáveis

Por Agencia Estado
Atualização:

Duas perguntas freqüentes sobre a corrida presidencial de 2002 se referem à competitividade de uma candidatura governista indicada pelo PSDB e à sustentabilidade da candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Nos dois casos, a resposta está associada ao tipo de coalizão eleitoral que surgirá das negociações na atual base governista. Ou seja, se os partidos que reelegeram Fernando Henrique Cardoso serão capazes de formar uma ampla coalizão ou se eles se dividirão em torno de duas ou três candidaturas. Esta é a questão central para os partidos centro-governistas. Há ainda uma outra questão de grande interesse. Ela diz respeito à eficácia da campanha do principal partido de esquerda, o PT, para confirmar o favoritismo que Luiz Inácio Lula da Silva desfruta em todas pesquisas sobre intenções de voto feitas durante o ano. O crescimento do prestígio eleitoral de Roseana neste último quadrimestre produziu um conjunto de incertezas entre os aliados e pelo menos uma certeza para o governo Fernando Henrique Cardoso: tornou-se muito remota a hipótese de uma disputa entre dois representantes da oposição no segundo turno da eleição presidencial. Seja qual for quadro de candidatos, mesmo havendo dois nomes lançados por partidos ligados ao presidente, o mais provável é que um deles dispute com o atual favorito da oposição. As candidaturas alternativas da esquerda perderam substância. O governador de Minas Gerais, Itamar Franco, parece ter perdido também credibilidade eleitoral para entrar na corrida e dificilmente deixará de concorrer à reeleição ou a uma vaga para o Senado. E Ciro Gomes, do PPS, além de ter se fixado em um discurso errático, não se adensou politicamente para construir uma aliança competitiva. Quadro provável - Para entender o que poderá acontecer até março - mês chave para as definições de chapas - e na campanha, é necessário imaginar, com base nos dados disponíveis, qual será o provável quadro de candidatos no dia da eleição, em outubro de 2002. A situação poderá ter dois candidatos, Roseana e um nome do PSDB, o ministro José Serra ou o governador do Ceará, Tasso Jereissati. A oposição terá Lula e Ciro Gomes. Itamar já não é considerado candidato. Seu partido, o PMDB, não representa a maioria dos interesses de seu ártido, que se dividirá e o abandonará como fez com Ulysses Guimarães e Orestes Quércia, nas campanhas de 89 e 94. O PMDB poderá ter um candidato próprio-não competitivo, Pedro Simon, por exemplo, mas suas seções regionais se dividirão entre Roseana, o outro candidato governista e um setor do partido apoiará Lula liderado pelo senador paranaense Roberto Requião. O governador do Rio, Anthony Garotinho, não terá recursos políticos para levar adiante uma candidatura extremamente concentrada no estado do Rio e no eleitorado evangélico, que representa pouco mais do que 20% do eleitorado, e como sempre se distribuirá entre várias candidaturas. Nesse quadro, as circunstâncias menos favoráveis são as do PSDB. Os tucanos apresentam um desempenho fraco nas pesquisas e enfrentam uma indefinição quanto à escolha do nome que poderá se sair melhor. Pensando alto, podemos dizer que daqui até depois do carnaval, quando o PSDB pretende firmar uma posição, dificilmente ocorrerá uma alteração no quadro de intenções de voto retratado pelas pesquisas atualmente. Lula certamente se manterá numa faixa acima dos 30% de apoio, não haverá fato novo em meses politicamente neutros como dezembro, janeiro e fevereiro capaz de mudar, seja para melhor ou para pior, a posição de Roseana, que está próxima dos 20% das intenções de voto, do mesmo modo que dificilmente Serra ou Tasso produzirão fatos com força para projetá-los acima dos porcentuais em que se situam, entre 3% e 8%. Tal cenário leva a pelo menos duas probabilidades: o PFL tenderá a se manter unido em torno da candidatura Roseana e em entendimentos para fechar uma aliança com o PPB, o que daria ao País, pela primeira vez desde a redemocratização, uma chapa competitiva de centro-direita. Já o candidato mais forte hoje do PSDB, José Serra, terá de fazer algo que não é da sua lógica e estilo: fazer uma aposta em si mesmo. Isto é, apostar que será capaz de sair sozinho com o PSDB, negociar com o fluido PMDB e a partir de uma base de apoio baixa derrotar Roseana e Ciro na disputa da segunda vaga. Ele terá de renunciar, é claro, à possibilidade de renovar o seu mandato de senador por São Paulo. Na hipótese de Serra desistir, o PSDB terá Tasso como alternativa (que também teria assegurado um mandato de senador pelo Ceará) ou poderá tentar construir opções como o ministro Paulo Renato Souza ou o presidente da Câmara, Aécio Neves, que terão pouquísimo tempo para se viabilizarem eleitoralmente. A esta altura, não se fala mais no governador Geraldo Alckmim como candidato tucano. Em termos direitos: são reais os obstáculos para tirar Roseana da corrida e Serra, para ficar nela, terá que fazer uma aposta de que poderá superá-la ao longo da campanha. Oposição - Revendo o quadro: há um candidato com base eleitoral forte à esquerda, Lula, que conquista algo entre 30% 35% de apoio, e um dos partidos da coalizão governista que conseguiu produzir uma opção com apelo eleitoral expressivo, Roseana Sarney, do PFL, que tem algo beirando os 20% das intenções de voto. Entre os dois aparecem três outros pretendentes situados do centro para a esquerda - Ciro, Itamar e Garotinho - que juntos obtém algo em torno de 25% de apoio. O principal partido da coalizão governista, o PSDB, ainda está indeciso entre escolher para representá-lo o governador do Ceará, Tasso Jereissati - que obtém baixo desempenho nas pesquisas ( 4%) - e o ministro da Saúde, José Serra, que se sai melhor e oscila entre 5% e 8%. O que se deseja saber é de que modo esse quadro evoluirá entre dezembro de 2001 e março-abril de 2002, período em que os partidos e facções políticas nacionais e regionais precisam definir suas táticas e estratégias eleitorais. Deve-se lembrar que essas decisões, cruciais para a conquista do poder, a sobrevivência política e a ampliação dos espaços de poder de cada um estarão em jogo nos campos nacional e estaduais. Quando discutem suas melhores opções os atores políticos consideram a questão nesta ordem: a conquista do poder estadual nas eleições para governador e para as assembléias legislativas (deputados estaduais), as eleições proporcionais para formar bancadas na Câmara dos Deputados e os dois terços das 81 cadeiras do Senado Federal que estarão em disputa. Para o maior partido da esquerda, a melhor opção nesse cenário é Lula. Derrotado ou vencedor, acredita-se que ele puxará a eleição de uma bancada expressiva de deputados e aumentará a bancada no Senado. A dificuldade do PT são os governos estaduais. O partido carece de quadros e dificilmente elegerá o governador de algum estado importante, além de correr o risco de perder o poder no Rio Grande do Sul, a sua conquista historicamente mais relevante, e no Mato Grosso do Sul, onde Zeca do PT não se situa bem para a reeleição. Isso torna vital para o partido a conquista da Presidência da República, o que compensaria o baixo desempenho nas disputas majoritárias regionais e proporcionaria uma expansão da legenda. Desta vez, porém, o obstáculo do PT não é só a dificuldade de promover uma política de alianças flexível e sim a divisão histórica existente no campo da esquerda. O PPS de Ciro Gomes, o PSB de Garotinho e o PDT de Brizola expressam essas dificuldades. A aliança do PT com um partido de centro-direita - o PL - dificulta ainda mais a execução de uma política de alianças razoavelmente exitosa. O problema de Lula é voltar a crescer, mas para onde e com quem, se como aliado até agora pode contar como certo somente o PC do B? Não se nota, também, um grande entusiasmo em torno da candidatura petista, nem da parte de Lula produziu-se aquela espécie de glamour que indica, antes do tempo, o destino dos vitoriosos. Não, ele está aí, até mesmo com a candidatura questionada internamente no partido, praticamente sendo compelido a disputar uma eleição prévia, que reflete descontentamentos internos e representará um desgaste talvez desnecessário do ponto de vista da estratégia de campanha do partido. Deve-se lembrar, ainda, que existem conflitos internos no PT longe de se resolverem. A quarta campanha de Lula tende se divide entre o partido e o Instituto Cidadania, a ONG de Lula e de parte da direção petista. O Lula palatável, de agenda livre, reflexivo, que freqüenta eventos sociais e saboreia charutos cubanos, que conversa com empresários e discute programas de governo, é o do Instituto Cidadania. O Lula de sempre, candidato do PT, e que pode prevalecer na campanha é o se alinha com Fidel Casto e diz em Havana que os neoliberais têm que ser postos na cadeia, que entre tantos parceiros na América Latina mostra preferência pelo coronel Hugo Chavez, presidente da Venezuela, e Alejandre Toledo, o novo presidente do Peru. Qual dessas faces prevalecerá na campanha? Se prevalecer a que considera que o que muda o partido e pode levá-lo a vencer é construir um programa de centro e dar a ele verossimilhança, Lula tenderá a crescer e pode até vencer a eleição. Mas se for o Lula errático, que não tem unidade em torno de si, a tendência será repetir as campanhas anteriores. Nesse quadro, excluídos os problemas e o favoritismo matemático de Lula, há um imenso espaço a ser ocupado por um candidato das forças governistas. Na suposição de que esse vácuo já não tenha sido preenchido por Roseana Sarney. Sobre ela, as respostas que todos procuram é se a governadora chegou ao segundo lugar na pesquisa pela fraqueza dos outros postulantes e ocupou um vácuo que a transformará num fenômeno eleitoral. Ou seja, responder se esse fenômeno tem impacto real, se será capaz de se amparar em compromissos que despertem no povo a esperança de uma vida melhor. Se a resposta a essas questões disser que ela subiu por conta da fraqueza dos outros candidatos, mas foi a primeira a ocupar um vazio político - como fez Collor em 89 - ela provavelmente manterá essa posição. Vazios políticos costumam pertencer a quem os ocupa primeiro. Existem dados de pesquisas sobre Roseana que impressionam. Ela já vence Lula nos estados da região Centro Oeste, por exemplo, por uma diferença de 7 pontos porcentuais. Ela tem 7 pontos a mais que Serra em São Paulo, 9 no Rio, 11 em Minas e 19,5 pontos no Nordeste, áreas populacionais que concentram os maiores colégios eleitorais do País. Como a política é a arte do possível, não se deve descartar a hipótese de que o PFL a substitua pelo apoio a uma outra bem articulada candidatura do campo situacionista. Tudo vai depender dos interesses regionais e dos incentivos que o partido receber para permanecer numa aliança liderada pelos tucanos. Talvez interesse garantir a eleição de Marco Maciel em Pernambuco e garantir para o PFL, e para Roseana, a presidêndcia do Senado no primeiro mandato do novo presidente. Mas para tanto, a candidatura tucana terá que ser conhecida dos eleitores tanto quando ela, apresentar reais condições de vencer o pleito e ser capaz de duas coisas: 1. Agregar partidos e facções que se situam do centro para a direita (aí deveremos incluir parte do PMDB, o PFL e o PPB) esperançosos de preservar seus nacos de poder regional e seus espaços na política nacional e assim garantir maioria para a governabilidade do futuro governo. 2. Formular uma proposta de governo que desperte na sociedade segurança no que diz respeito a estabilidade econômica e seja crível quanto aos seus propósitos de promover o crescimento econômico e o desenvolvimento social. A candidata do PFL não é, por enquanto, capaz de reunir objetivamente nenhuma dessas duas coisas. Ela tem um fator importante, densidade eleitoral, mas ainda não ganhou densidade política. O PFL não atrai o PMDB e é rejeitado por setores do PSDB, inclusive os simpatizantes de Serra. Os liberais contam com a adesão do PPB e com a indicação do ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes (avaliado como um dos melhores do governo), para a vice. Estes, entre outros, são os problemas dos liberais. Se fincarem pé no nome de Roseana para liderar a chapa governista - é muito difícil que o PSDB e o presidente Fernando Henrique cedam a essa demanda - e forem mal sucedidos nessa negociação, eles serão obrigados a lançar Roseana no primeiro turno cientes de que trabalharão sem a forte estrutura das máquinas do governo federal e a de São Paulo. Minas é uma incógnita. Itamar certamente caminhará com quem somar mais para ele. Sua melhor opção é a reeleição, uma vez que seu vice, Newton Cardoso, vem sendo muito mal avaliado nas pesquisas. Seu adversário principal no Estado é o PSDB de Eduardo Azeredo, Pimenta da Veiga e Aécio Neves. O PT tem poucos recursos a oferecer a ele e ao grupo de quatro ou cinco deputados que pretende eleger. O senador José Sarney (PMDB-AP), tem conversado muito com Itamar a respeito da candidatura da filha com receptividade considerada razoável. O PFL mineiro tem fortes candidatos ao Senado, Francelino Pereira e Roberto Brant, por exemplo. O Rio dominado por Garotinho e o PT, mas a prefeitura é do PFL de Cezar Maia. O PFL não tem governos estaduais eleitoralmente importantes para montar palanques que apoiem Roseana decisivamente, salvo o da Bahia de Antônio Carlos Magalhãos, o quarto maior colégio de eleitores do País. O segundo estado liberal mais forte, o Paraná de Jaime Lerner, está acusado de corrupção eleitoral na prefeitura Tqaniguchi. O Maranhão não é uma boa base de lançamento nacional, mas em Pernambuco, outro centro eleitoral importante, a aliança preferencial do PMDB de Jarbas Vasconcellos será com o PFL do vice-presidente Marco Maciel. O PSDB é inexpressivo e seu adversário no estado. O governo - O cenário descrito até aqui mostra um candidato de esquerda, conhecido do eleitorado, que tem acima de 30% de apoio (chega a 35% em algumas pesquisas e situações) e que vem crescendo paulatinamente. Em 1989 Lula obteve 16% dos votos; em 1994 ele chegou a 22%, e a 26% em 1998. Nos últimos anos cresceu estimulado, provavelmente, pelo desejo de mudança, pelo bom desempenho do PT nas eleições municipais do ano passado e pelo cansaço do longo mandato de FHC. É preciso lembrar que a conjuntura política e econômica turbulenta do segundo mandato não favoreceu outros pretendentes ao Palácio do Planalto. Ciro Gomes cresceu inicialmente dos 9% de 1998 para 20% até o aparecimento de Roseana e hoje está em queda na posição de 15%. Esse quadro se completa com a ascensão de Roseana Sarney, a perda de ímpeto de Itamar Franco, o surgimento de um candidato vinculado à fé evangélica, o governador do Rio, Anthony Garotinho, e uma indefinição no principal partido da coalizão governista. Tendo em vista o ambiente de certa fleuma no principal campo da oposição, o do PT, observa-se um interesse e uma luta crescente entre os grupos governistas pelo lugar de candidato oficial. O pressuposto é de que o melhor para todos seria preservar a aliança que está no poder e que seja qual for o indicado não será difícil elegê-lo. Os desempenhos de Roseana, Serra e Tasso seriam a prova cabal dessa verdade. Se a questão é apenas escolher o nome do novo presidente, supondo-se que a eleição será ganha - ainda que todos concordem que isso se dará em dois turnos - conclui-se que o conflito entre os aliados tende a se ampliar. Não é certo que o governo estará melhor no dia da eleição do que está hoje. Mas a hipótese de que esteja melhor é a mais provável. A economia deu demonstrações de resistência estrutural durante os fortes choques de oferta sofridos este ano e atravessou bem a crise energética, a recessão americana, a desacelaração das economias européias, o colapso da Argentina e as consequências dos atentados de 11 de setembro. O País crescerá menos do que os 5% que planejará, mas é provavelmente o que se sairá melhor, com 2,5%, num cenário internacional em que esse número provoca admiração. Para 2002, o que se prevê é continuidade e melhora desse cenário - embora as surpresas nunca devam ser descartadas - associado a um quadro de distribuição direta de renda para os pobres como jamais se viu no passado. Será o ano em que os programas da chamada rede social (bolsa-escola, bolsa-renda, bolsa-alimentação e pagamento das perdas dos depositantes do FGTS) estarão no auge. Fala-se em distribuição direta de renda para um mínimo de 50 milhões de famílias ao longo do ano, em alguns casos, como o bolsa-escola, mediante uma ação contínua. Não há o que tergiversar nessa matéria: haverá efeito eleitoral e ele tenderá a beneficiar o governo e o seu candidato. A candidatura do governo, portanto, deverá estar bem situada na época da eleição. Um fator que é preciso destacar: governos exitosos, com lideranças que usam bem o cargo como Fernando Henrique (ele, por exemplo, tirou proveito da conjuntura internacional para se projetar internacionalmente com larga repercussão interna), tendem a melhorar a sua avaliação à medida em que o mandato chega ao fim. Pode-se dizer hoje que o presidente sairá prestigiado do governo, o que por conseguinte significa que ele estará em condições de liderar o processo sucessório, o que de fato já vem fazendo. O ideal, para ele, seria a existência de um sucessor natural. E aqui chegamos ao ponto-chave da questão: não existe, nem surgiu, nem surgirá, um candidato natural em qualquer campo político capaz de arrastar a metade do eleitorado e ganhar a eleição no primeiro turno, como ocorreu com duas vezes com Fernando Henrique. Mas existe um partido natural: o PSDB do presidente. O partido dos tucanos é a sigla dominante no ministério e na coalizão de governo. É também o partido que melhor desempenho obteve, em quantidade de votos, nas eleições municipais. O PSDB só deixará de ser um partido natural, é claro, caso surja no bloco situacionista uma candidatura fortíssima, que não seja vista apenas como resultado de um movimento bem feito de mídia e que dependa de outros movimentos nesse campo para se consolidar - tal, como os tucanos pensam ser o caso de Roseana Sarney. A movimentação do PSDB e do Palácio do Planalto para a escolha do representante do status quo na campanha, reduzindo as opções entre Tasso e Serra, tende a produzir momentaneamente uma paralisia no crescimento de Roseana, que para continuar subindo nas pesquisas dependerá do enfraquecimento ou da desistência de um ou mais dos postulantes da esquerda (incluindo Itamar), ou ainda do enfraquecimento das opçoes do PSDB. O porcentual de indefinidos nas pesquisas é hoje de 11%, um volume tradicional que acaba de traduzindo na campanha em votos brancos e nulos. Dificilmente ela ganhará os 3% de Enéas, que numa disputa apertada pelo segundo turno pode fazer diferença. Recorde-se que Lula ganhou de Brizola em 1989 por menos de meio por cento dos votos. A escolha do candidato tucano deverá ocorrer depois do carnaval. Na Mesma época, o PT estará resolvendo as dúvidas sobre Lula e o PMDB o seu dilema com Itamar Franco. A estratégia parece ser manter esticada a tensão entre Tasso e Serra sustentando-os como personagens obrigatório da mídia no período. O presidente da República age, por seu lado, para que a escolha do candidato tucano não enfraqueça a sua liderança e provoque o fim do governo antes da hora. Neste momento, mesmo sem candidato escolhido, há um natural encolhimento das equipes. A turma de Malan na Fazenda passa por um processo de erosão desde que ele deixou de ser expectiva de poder. O Banco Central começa a perder quadros. A recente demissão do presidente da Petrobrás mostra que o fenômeno é visível em todo o governo. Os melhores funcionários procuram se colocar no mercado diante da incerteza do que virá. Os tucanos - Entre Serra e Tasso quem é o mais forte e quem tem mais chance de conquistar o PSDB e obter a indicação do partido? Pode-se dizer que Serra é o mais forte em alguns aspectos: ele se sai melhor nas pesquisas com índices que variam de 5% a 8% em alguns casos. Não é pouco, sendo ele só ministro e não estando em campanha aberta como Ciro, Lula e Roseana. As intenções de voto em Serra são homogêneas, ou seja, se parecem em todo o território nacional, ao contrário de Garotinho e Itamar, que têm apoios concentrados em seus estados. Roseana também tem intenções de voto homogêneas. E, por fim, Serra é um dos ministros melhor avaliados do governo. Um dado contra Serra é o fato de o eleitorado ter dele um grau de conhecimento razoável, acima de 80% (é o mais conhecido dos ministros), e dar-lhe no máximo 8% de apoio eleitoral. Serra apresenta outros defeitos e faz cálculos arriscados: ele divide o PSDB no seu próprio Estado, São Paulo, e não tem demonstrado uma capacidade (ou vontade) de articulação e agregação de forças como seria certo esperar de um candidato efetivamente determinado a manter a base da aliança atual. Ainda prospera entre os serristas a teoria de que para ele seria melhor trocar o PFL pelo PMDB como aliado preferencial. Os liberais adeririam ao governo no segundo turno e desempenhariam nele (se Serra vencer) um papel coadjuvante. Ou ainda, que ele procuraria alianças parlamentares à esquerda, o que empurraria o PFL para a oposição. Há, também, os que consideram fundamental manter a integridade da aliança tendo em vista a maximização eleitoral que todos irão procurar nas eleições gerais do ano que vem. A primeira tarefa de Serra, ainda este ano, seria unificar o PSDB paulista em torno dele, o que significa contar com o governador Geraldo Alckmim e organizar uma chapa de deputados e senadores que atendam o PSDB, o PMDB e o PFL. O problema é que Tasso tem adeptos e força no terreiro de Serra. Além das dificuldades no maior Estado, Serra enfrenta resistências entre os tucanos mineiros e no quarto maior colégio eleitoral, a Bahia, cujo líder ACM o veta e tende a insistir no vôo solo de Roseana. O ministro precisaria remover esse veto, mas como fazê-lo sem romper os compromissos que tem como seu principal articulador no Congresso, Juthay Júnior, o baiano líder da bancada, e com o líder do PMDB, Geddel Vieira Lima, inimigo de ACM. ACM deve arrastar para quem apoiar uns 3 milhões de votos. O dilema de Serra: dá para desprezar essa montanha de sufrágios? Esse não é um dilema para Tasso. Ele conta com a simpatia e o apoio de ACM e divide a seu favor o PSDB paulista. Aparentemente, Tasso sabe fazer melhor que Serra o trabalho de articulação política. Ele se antecipou a Serra no debate com os mineiros do PSDB tem um bom trânsito com o PFL, se entende bem com Roseana e o grupo Sarney, que bem articulado ajudaria a dividir o PMDB mais uma vez e mantê-lo como ator coadjuvante na coalizão de governo. O seu defeito vem do baixo conhecimento que o eleitorado tem dele e os pífios 3% ou 4% que consegue nas pesquisas, a maior parte dos quais colhidos no eleitorado do Ceará. Não tem votos, portanto, para enfrentar Rosenana numa avaliação. É nesse quadro que os partidos da aliança governista devem se reunir depois de estabelecida a força de cada um. Isso acontecerá entre março e maio, no mais tardar. Em junho começam as convenções partidárias para formação das chapas e a inscrição das candidaturas na Justiça Eleitoral. Esse processo se encerrará em junho com as convenções nacionais para formalizar as candidaturas presidenciais. Em julho começa a campanha, que chegará ao rádio e a televisão a partir de agosto.

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