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Economista ligado ao DEM rejeita ideias de Ciro em reunião com assessor

Claudio Adilson Gonçalez se encontrou com coordenador econômico do pedetista, Mauro Benevides, e disse que o liberalismo não é conciliável com ideias do pré-candidato

Por Renan Truffi
Atualização:

Indicado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), o economista Claudio Adilson Gonçalez se reuniu nesta terça-feira, 17, com o responsável pelo programa econômico de Ciro Gomes (PDT) nas eleições 2018, o também economista Mauro Benevides. Mas, em vez de estabelecerem plataforma de programa econômico comum, o encontro serviu para que Gonçales alertasse Benevides sobre o discurso "perigoso" e "desestabilizante" do pré-candidato do PDT. Para o economista ligado ao DEM, a linha do pensamento econômico liberal "não é conciliável" com as ideias defendidas por Ciro. Diretor-presidente da MCM Consultores, Gonçalez foi chefe da assessoria econômica do Ministério da Fazenda e colaborou com o Instituto Tancredo Neves (ligado ao antigo PFL e ao DEM) e diz ter atendido a um pedido de Maia para dizer à equipe de Ciro o que achava de suas propostas. "Sou um profissional de economia. Minha reunião com o assessor econômico Mauro Benevides não teve como objetivo estabelecer plataforma de programa econômico. Apenas mostrei alguns perigos no discurso do Ciro", disse ao Broadcast Político. "Quando o Mauro Benevides disse que, entre seis pontos divergentes, houve acordo em cinco deles, eu pensei: 'meu Deus, acordo em quê?", afirmou.

Ciro Gomes participa de evento da Abimaq Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO

O diretor-presidente da MCM disse não saber se Benevides concordou ou não com suas ponderações. "Eu sou um economista com formação liberal, a favor do livre mercado, não é capitalismo de compadrio. Benevides joga em outro canto do pensamento econômico: intervenções governamentais, política industrial com linha subsidiada do BNDES...", disse. "Eu e ele jamais conseguiríamos chegar num acordo de programa econômico. Eu poderia discutir um programa econômico com Pérsio Arida, com o Armínio Fraga. Aí, dá conversa. Não estou dizendo que eu sou bom e ele é ruim. São posições de análise econômica que não são conciliáveis", argumentou. Segundo o economista, a conversa com Benevides se resumiu a três pontos: política de câmbio e juros; dívida pública e reforma da Previdência. Foram esses os três assuntos que Claudio Adilson Gonçales considera como os mais alarmantes nos discursos do pré-candidato do PDT. "Quando o Ciro falou na (sabatina da) Confederação Nacional da Indústria que o problema da economia é juros altos e cambio baixo. E que, no governo dele, o câmbio será sempre competitivo para exportação - e essa farra do boi de remunerar operações compromissadas com juro alto ia acabar -, o que o mercado financeiro e os agentes econômicos concluem? Concluem que ele vai acabar com o regime de metas da inflação e com o câmbio flutuante. Ele não falou isso, mas se ele promete que o juro vai ser baixo e o câmbio depreciado, ele promete que vai fazer uma gestão arbitrária de variáveis econômicas e câmbio. Concorda comigo que assusta?", defendeu.

Alívio para Estados e muncípios foi negociado com o governo, diz Mauro Benevides. Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

Sobre dívida pública, Gonçales disse que alertou Benevides a respeito de um sentimento, entre agentes do mercado, de um possível calote por parte do pré-candidato do PDT. "Como está insistindo em dizer que a despesas de juros é metade das despesas pública, ele gera desconfiança de que pode gerar um calote na dívida. Ele nega veementemente isso (intenção de dar o calote), mas se insiste que o problema da despesa fiscal brasileira é o tamanho das despesas de juros, é perigosa essa afirmação. Está minimizando a Previdência e dizendo que o problema é dos juros", afirmou. Por fim, os economistas também falaram sobre as ideias de Ciro para resolver o problema da Previdência. "Ele afirmou também que o sistema da Previdência é irreformável, que ele vai criar um sistema por capitalização. Não tenho nada contra capitalização, mas esse passivo previdenciário, tendo que pagar 30 milhões de beneficiários, precisa reformar. Caso contrário, o sistema vai à falência. Pode fazer capitalização para o futuro", rebateu.