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Economista do PT quer maior intervenção do governo sobre bancos privados

Juliane Furno faz parte da equipe de economistas que prepara programa de Lula

Foto do author Lauriberto Pompeu
Foto do author Julia Affonso
Por Lauriberto Pompeu e Julia Affonso
Atualização:

BRASÍLIA — Recém-integrada ao grupo do PT que prepara um programa econômico para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a economista Juliane Furno afirmou ter como "sonho" o controle da conta de capitais do sistema financeiro. A ideia, segundo Furno, não passa por estatizar as instituições, mas, sim, por aumentar a influência e fiscalização do Estado nas atividades bancárias.

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A discussão foi provocada nesta terça-feira, 22, quando ela postou uma mensagem no Twitter dizendo estar “muito feliz” por ser mais uma das jovens a compor a equipe que elabora o programa econômico de Lula. Um usuário do Twitter pediu, então, para a economista "elaborar o controle da conta de capitais e a estatização do Itaú e Bradesco". Ao que ela respondeu: "Meu sonho!".

Ao Estadão, Furno reiterou o desejo de aumentar a interferência estatal, mas negou que, para isso, queira que os grupos sejam estatizados. "A regulação do sistema financeiro e a sua submissão aos interesses da sociedade, do financiamento e do desenvolvimento, são as coisas mais importantes. Isso deve ser feito convivendo com bancos comerciais privados, sem estatizá-los", disse. Para a economista, a proposta não significa uma interferência no fluxo individual dos bancos, mas, sim, no conjunto do sistema financeiro, na entrada e saída de dólar da economia brasileira.

Um dos objetivos, de acordo com ela, é evitar que bancos privados tenham influência indevida sobre o Banco Central. A economista citou o exemplo recente uma gravação, na qual o empresário André Esteves, do BTG, demonstra ter proximidade com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Ao Estadão, a economista Juliane Furno reiterou o desejo de aumentar a interferência estatal, mas negou que, para isso, queira que os grupos sejam estatizados. Foto: Arquivo pessoal

O PT tem um grupo de aproximadamente 90 economistas, que receberam a missão de sintetizar um documento que servirá de ponto de partida para a construção do programa de governo de Lula na área. A equipe é coordenada pela Fundação Perseu Abramo, braço de formação ideológica do partido. Tem como principais líderes o ex-ministro Aloizio Mercadante, presidente da fundação, e o economista Guilherme Mello.

Assim como a maior parte dos integrantes, Furno tem origem acadêmica na Universidade de Campinas (Unicamp), onde fez doutorado em desenvolvimento econômico. Ela também é economista-chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE).

Perguntado pelo Estadão sobre a possibilidade de o PT discutir estatizar os bancos, o economista Guilherme Mello negou qualquer tipo de análise nesse sentido e minimizou a postagem na rede social. "Não é considerada, nunca discutimos isso. Parece que foi uma brincadeira de Twitter", afirmou.

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Como mostrou o Estadão, Lula procura um perfil político para chefiar o Ministério da Economia, caso seja eleito. O ex-presidente e o partido têm evitado falar em nomes para o posto, mas já disseram diversas vezes como pretendem que seja a atuação na área. A ideia é fazer uma espécie de "revogaço" e anular medidas de ajuste fiscal, como o teto de gastos, a reforma trabalhista e a privatização da Eletrobrás.

A economia é um tema sensível para a pré-campanha petista e tem sido umas das principais munições de ataques de adversários, como o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) e o ex-governador Ciro Gomes (PDT). Ao final do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o País vivia índices recordes de inflação e desemprego.

Ministro da Fazenda por oito anos, durante os governos de Lula e Dilma Rousseff, Guido Mantega admitiu, em entrevista à Bloomberg, que cometeu erros e citou a política de intervenção no setor energético.

No segundo mandato de Dilma, em uma tentativa de correção de rumos, o PT tentou aplicar uma agenda de ajuste fiscal e menos intervenção na economia com a nomeação de Joaquim Levy para a Fazenda. Mas Levy foi alvo de constantes críticas no PT e teve pouco respaldo no Congresso. 

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