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'Economist': Subsídios dos EUA a etanol provoca alta de alimentos

Subsídios à produção americana encarecem alimentos, diz revista.

Por BBC Brasil
Atualização:

A revista britânica Economist traz na sua última edição um editorial em que faz duras críticas à política de subsídios ao etanol à base de milho, que seria um dos principais responsáveis pela alta de preço dos alimentos no mundo. Neste ano, nos EUA, "biocombustíveis vão tomar um nível recorde de um terço da colheita de milho nos EUA", diz a revista. "Isso afeta os mercados mundiais de alimentos diretamente: encha o tanque de um carro utilitário esportivo com etanol e você terá gasto milho suficiente para alimentar uma pessoa por um ano inteiro". "As 30 milhões de toneladas de milho extra dirigido a produção de etanol nos EUA neste ano representa metade da queda nos estoques globais de grãos". Ainda por cima, com essa política, os EUA "apóiam uma versão relativamente suja do etanol", que seria "muito melhor importar o etanol brasileiro, feito à base de cana-de-acúcar", diz a publicação. Segundo a Economist, há mais de 200 subsídios diferentes ao etanol americano, assim como uma tarifa de importação de US$ 0,54 por galão de etanol, o que limita a entrada do produto brasileiro. Outro impacto do programa de etanol dos Estados Unidos enumerado pela publicação é que esses subsídios ao etanol também estão sendo mais vantajosos em relação a subsídios mais antigos de cereais, encorajando fazendeiros a produzir apenas milho. E a postura americana tem implicações globais. "A maioria dos subsídios e de barreiras comerciais vieram com um enorme custo. Trilhões de dólares gastos apoiando os agricultores de países ricos levaram à impostos mais altos, comida de pior qualidade, monoculturas de cultivo intensivo, superprodução e preços mundiais que destroem o modo de vida de fazendeiros pobres em mercados emergentes", diz o editorial. A revista diz que esse aumento do preço dos alimentos ameaça especialmente os mais pobres, mas também apresenta uma enorme oportunidade para uma revisão de políticas. "Três quartos dos pobres do mundo vivem em áreas rurais", diz o editorial. Os preços mais baixos dos alimentos criados por políticas agrícolas das últimas décadas levaram a uma diminuição do investimento em agricultura e infraestrutura como irrigação. "A parcela de dinheiro público com a agricultura em países em desenvolvimento caiu pela metade desde 1980. Países que costumavam exportar alimentos agora importam." "A redução de subsídios no Ocidente ajudaria a reverter esse quadro. O Banco Mundial calcula que se você liberar o comércio agrícola, os preços de produtos em que os países mais pobres se especializam (como algodão) vai aumentar e os países em desenvolvimento vão obter ganhos com o aumento da exportação." Isso aumentaria a produtividade agrícola nesses países e, no longo prazo, asseguraria o suprimento de alimentos, diz a Economist. O extenso artigo volta a citar o Brasil como um dos países onde estariam disponíveis terras para se arar futuramente (ao lado de Rússia, Cazaquistão, Congo e Sudão), mas destaca que esse desenvolvimento exigiria grandes investimentos em estradas e outra infraestrutura, que pode levar décadas e provocam outros riscos como a destruição de florestas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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