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'É muito fácil bater só em um', diz neta de Lula

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Por Julia Lindner
Atualização:

BRASÍLIA - Neta mais velha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a estudante de psicologia Maria Beatriz da Silva Sato Rosa, de 20 anos, foi uma das que gritaram "Fora Cunha" e "Fora Levy" no 3.º Congresso da Juventude do PT, encerrado neste domingo, em Brasília. Bia, como é conhecida, quer ingressar na carreira política, defende o ex-ministro José Dirceu, preso em Curitiba, diz que a presidente Dilma Rousseff não é culpada pela crise e vê injustiça no ataque a Lula. "É muito fácil bater só em um", afirma.

Ela acha que os jovens precisam ir às ruas para defender o partido, mas também para pedir mudanças no governo. "Se o PT continuar com baixa aprovação, não conseguiremos eleger o próximo candidato", prevê Bia, que é filha de Lurian.

Lula com a neta, Maria Beatriz Foto: Lula Marques/Agência PT

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A seguir, os principais trechos da entrevista:

As investigações da Lava Jato afetam a confiança dos jovens no PT?

São nesses momentos difíceis que vemos os verdadeiros petistas. Pode ter enfraquecido, sim, mas ainda somos muitos e permaneceremos na guerra. Se desistirmos, tudo vai piorar. Se o PT continuar com baixa aprovação, não conseguiremos eleger o próximo candidato. Apesar de o governo do PT ter sido o que mais fez pelos jovens, ainda tem muito a melhorar. A gente tem que ir para a rua. Não fugiremos à luta. Precisamos vestir a camisa e não ter vergonha de andar com uma estrela no peito.

Como o seu avô reage às denúncias?

Eu acho que ele já levou tanta porrada na vida que está acostumado. Mas é muito fácil ser de direita. Em São Paulo, por exemplo, as escolas estão fechando e ninguém fala nada porque é mais importante falar do filho do Lula, contra o qual nem se tem provas. Eu acho que o que mais afeta é mexer com os filhos e com os netos, porque a gente não tem culpa da figura política que ele é. É muito injusto o que fazem, porque é muito fácil bater só em um. Vejo isso como medo, para tentar enfraquecê-lo. Têm medo de que ele volte.

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E você acha que ele deve concorrer em 2018?

Sim, porque será a única oportunidade de eu votar nele. Antes eu era menor de idade.

Você será candidata na eleição municipal do ano que vem?

Na próxima eleição não vou me candidatar, mas na outra vocês devem ouvir falar mais de mim. Sou secretária da Juventude do PT em Maricá (RJ) e estou me preparando para isso. Já me disseram que o que eu mais puxei do meu avô foi a política.

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Qual é o peso de ser neta do ex-presidente?

Muito grande, porque as pessoas têm uma visão muito errada e acham que eu sou algo que não sou. Elas confundem e não sabem separar a Bia da neta do Lula. Então, muita gente que não gosta do PT ou não gosta do meu avô me critica. Da mesma forma que existem bons políticos no PSDB, existem bons políticos no PT e eu não vou tratar alguém mal só porque é de outro partido. Em 2011, eu fiz uma peça de teatro e o pessoal começou a divulgar ofensas na internet. Mas eu sempre soube lidar com isso. A vida me ensinou.

Como é a avaliação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entre a nova geração do PT?

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O Cunha não me representa. Nem a mim e acho que a quase ninguém do PT. Acredito fortemente que ele deveria renunciar, mas não acho que ele é homem suficiente para isso.

É preciso romper a aliança com o PMDB?

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O PMDB é um forte aliado nosso e a gente não tem como romper, até porque o vice-presidente (Michel Temer) é do PMDB. Eu espero que um dia a gente consiga se desvincular, mas hoje a gente precisa do PMDB. Agora, Cunha não, nunca. No caso do "PL do aborto" (como ficou conhecido o projeto de lei de autoria de Cunha, dificultando o aborto legal, em caso de estupro), acho que a mulher é dona do corpo dela. Ela sabe o que faz, não tem nada a ver. Cunha tem que cuidar dos projetos dele, da vida dele, das contas na Suíça...

O Congresso da Juventude do PT defendeu o ex-ministro José Dirceu, que está preso. Você também o apoia?

Nosso companheiro Dirceu foi condenado sendo inocente, assim como muitos do nosso partido. O que mais me deixa indignada é como tudo foi e é conduzido. Não existem provas concretas. Além do mais, Dirceu ajudou, e muito, na construção do PT e do governo Lula e tenho certeza de que ele foi fundamental para muitos projetos. Sou uma eterna defensora dele e do companheiro Genoíno. São presos políticos, infelizmente.

Por que o "Fora Levy"?

A mudança pode ser uma solução, até porque o Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda) não tem uma política condizente com a nossa, que é voltada para o povo. A gente pode ver, sim, o Meirelles (Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central) como uma solução, mas não sem uma estratégia. O desemprego aumentou, mas é uma crise mundial. A gente não pode culpar a Dilma por tudo. Agora, é como o meu avô falou: não adianta só a gente vir com um cartazde "Fora Levy" e não trazer propostas de como mudar.

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