PUBLICIDADE

E-mail prova laços antigos entre Paulinho e BNDES

Mensagem de consultoria a ex-conselheiro do banco mostra indício de influência do deputado

Por Roberto Almeida
Atualização:

Um e-mail capturado pelos peritos da Polícia Federal, datado de 26 de janeiro de 2005, faz um laço de mais de três anos entre o esquema de desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força. A mensagem, enviada por Marcos Mantovani, da Progus Consultoria, ao lobista e então conselheiro do banco estatal João Pedro de Moura informa que Gaspar (supostamente José Gaspar, vice-presidente do PDT paulista) "achava importante" apresentar o esquema da consultoria a Paulinho. Veja também: Entenda a operação Santa Tereza Leia a íntegra do relatório da PF Grampo da PF liga Paulinho ao caso BNDES   A Progus cobrava uma "taxa de sucesso" sobre financiamentos concedidos pelo BNDES e, segundo os federais, repartia o valor entre os envolvidos na liberação da verba. É o que Mantovani descreve, em outro e-mail obtido pela PF, como "um esquema de parceria típica de negócios e política", no qual explica a sistemática da atuação da consultoria a um suposto funcionário. Para comprovar a relação entre o parlamentar e os negócios praticados pela Progus, os federais lembram que foram encontradas, na sede da empresa, planilhas com referências a Paulinho e Gaspar. E ressaltam que, segundo conversa grampeada do réu Manuel Fernandes de Bastos, o Maneco - que é dono da casa de prostituição WE Original e está foragido -, os dois cobravam "custo político" para obter verbas do BNDES. Segundo a PF, Paulinho teria recebido mais de R$ 100 mil por três operações do banco estatal. A mensagem que aponta o laço de mais de três anos entre o deputado e Mantovani, e pede para o lobista Moura "agitar" um encontro, é apresentada no "Relatório de Inteligência Policial - Deputado Paulinho - ‘PA’", da PF. O documento tem 89 páginas e relaciona ainda outras mensagens eletrônicas com teor semelhante, corroborando que houve continuidade nos contatos entre o deputado e o consultor, incluindo o período de negociação e liberação das verbas para a Prefeitura de Praia Grande (R$ 123 milhões) e as Lojas Marisa (R$ 81,4 milhões), que estão sob suspeita. No dia 4 de agosto de 2006, Mantovani avisa a Mara, da Força Sindical, que recebeu uma ligação de Paulinho a respeito de uma visita a uma empresa no bairro paulistano do Bom Retiro. A mensagem, endereçada ao receptor "Paulinho - Força Sindical - Aos cuidados de Mara", pede esclarecimentos sobre quem Mantovani deveria procurar no local. No mesmo dia, em outro e-mail, o consultor pede a Mara que Gaspar - supostamente José Gaspar - retorne sua ligação. Já em 27 de setembro de 2006, pouco antes da eleição, Mantovani chegou a pedir a uma interlocutora não identificada votos para Paulinho, tratando-o como "amigo do peito". "Aliás, se não tem para quem votar para Deputado Federal, vote no meu amigo do peito, Paulinho da Força Sindical..1212.. beijos", diz o e-mail. Na única entrevista em que falou abertamente sobre sua relação com os réus da Operação Santa Tereza, no dia 9 de maio, Paulinho negou conhecer Mantovani. A declaração do deputado já havia sido desmentida por grampo da PF, revelado pelo Estado, em que ele mesmo cita o empresário e uma reunião no escritório da Progus, nas proximidades da Avenida Paulista. O advogado de Paulinho, Antonio Rosella, que afirma que as acusações da PF são "absurdas", disse desconhecer a declaração do deputado e criticou o que denomina de "grampolândia". O advogado de Mantovani, Carlos Kauffmann, garante que todos os projetos feitos pela Progus estão dentro da legalidade. Contatos O relatório da PF descreve ainda ligações estreitas de Paulinho com pelo menos outros três membros da suposta organização criminosa. O documento discrimina, em detalhes, telefonemas realizados para o número do próprio deputado e descreve as ocasiões em que ele é citado pelos interlocutores. São chamadas feitas pelos ex-conselheiros do BNDES João Pedro de Moura e Ricardo Tosto, indicados para o cargo pela Força Sindical, presidida por Paulinho, e pelo coronel da PM Wilson Consani Júnior, que supostamente negociava com prefeituras paulistas para obter mais contratos para a Progus. Todos são réus da Santa Tereza. Nos comentários sobre os grampos, a PF crava a relação ativa entre Moura e o parlamentar a partir de uma gravação de 25 de fevereiro de 2008, na qual o lobista disse estar a caminho de Praia Grande para "resolver uma coisa para o Paulinho". A data coincide com o período de negociações para a liberação da verba do BNDES para a prefeitura da cidade. Há ainda um caso do dia 27 de fevereiro, relatado pela PF, em que o motorista de Paulinho busca Moura no aeroporto para uma reunião na cidade de Caieiras. Apesar disso, o deputado alega que Moura é apenas seu ex-assessor.    

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.