E-mail de Fagali era 'alerta', diz senador

Por Ricardo Chapola e FAUSTO MACEDO E FERNANDO GALLO
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O e-mail em posse da Polícia Federal, que mostra que Jorge Fagali Neto, apontado como lobista da multinacional francesa Alstom e intermediador de propinas, fez sugestões, no fim de 2006, sobre como o governo estadual deveria agir no setor metroferroviário, foi um "alerta" dado a um amigo, informou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), a quem a mensagem foi direcionada."Eu sou amigo dele desde jovem. Desde quando ele era presidente da associação dos moradores da cidade universitária", disse o senador tucano, referindo-se aos seus tempos de estudante da Universidade de São Paulo (USP). "Fagali estava fazendo um alerta, ele estava acompanhando as propostas do Serra na campanha".Em setembro de 2006, quando o e-mail foi enviado, Aloysio era coordenador da campanha de José Serra ao governo do Estado. Segundo o senador, Fagali previa que as propostas de Serra não cabiam no orçamento e que, por isso, teria avisado. "O orçamento não seria compatível às propostas. A gente não tinha recurso para isso. E ele sugeria que Serra fosse ao Banco Mundial. O Serra não foi. Ele estava em plena campanha naquela altura, a um mês da eleição."Aloysio afirmou ainda trocar e-mails com o consultor pelo seu conhecimento em financiamentos externos. "Fagali tinha uma grande expertise em financiamentos externos, trabalhou com isso desde o tempo da Eletrobrás. Sempre trabalhou com isso", disse o parlamentar.O advogado de Jorge Fagali, Belisário dos Santos Júnior, afirmou que a ex-funcionária do consultor Edna Flores, responsável por fornecer os e-mails à PF, acessou a correspondência ilegalmente. Ela foi secretária pessoal de Fagali entre 2006 e 2009 e prestou depoimento aos federais no dia 9 de outubro passado. Disse ainda que ela pediu cerca de R$ 500 mil para não revelar informações para a imprensa e a autoridades. Edna também relatou ao delegado a relação de Fagali com os irmãos Arthur e Sérgio Teixeira, também consultores apontados como intermediadores de propinas do cartel de trens. Sérgio já morreu e Arthur está indiciado sob suspeita de atuar ilegalmente para as multinacionais do setor metroferroviário.Sobre a relação do consultor com Aloysio, Belisário afirmou não saber se são próximos. "Mas ser amigo deste ou daquele não quer dizer nada, não é nenhum crime".Segundo Belisário, as provas da violação do e-mail de Fagali já foram fornecidas à Justiça do Trabalho no processo trabalhista que Edna moveu contra o lobista, e perdeu. Belisário ainda afirmou que seu cliente não participou de irregularidades envolvendo contratos do setor elétrico da francesa Alstom com o governo do Estado de São Paulo.Por meio de sua assessoria de imprensa, Serra afirmou que viajou uma única vez ao Japão, na década de 1990, quando era ministro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e que jamais foi ao país asiático com Fagali para tratar de assuntos do Metrô de São Paulo.Eduardo Carnelós, advogado de Arthur Teixeira, repudiou com veemência a suspeita sobre seu cliente, a quem a promotoria atribui papel semelhante ao de Fagali no esquema do cartel.Para afastar a tese de que apenas conhecer uma pessoa é motivo de suspeitas, Carnélos afirmou na semana passada que, cerca de dez anos atrás, o hoje ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, à época recém-eleito deputado federal, procurou Teixeira. Houve, segundo o advogado, pelo menos dois encontros do então parlamentar petista com o consultor. Carnelós afirma que Cardozo queria ter informações sobre o setor metroferroviário e sua importância estratégica para o País. Cardozo, a quem estão subordinados a Polícia Federal e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que também investiga o cartel, diz não se lembrar dos encontros. (As informações são do jornal O Estado de S.Paulo)

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