''É indicativo de cultura favorável à corrupção''

Entrevista - Ricardo Caldas:professor da UnB; para coordenador da pesquisa, servidor reflete sociedade, com crescente degeneração dos padrões e valores morais

Por Luciana Nunes Leal e Brasília
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O professor da Faculdade de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas, coordenador da pesquisa encomendada pela Comissão de Ética Pública, diz que a má conduta de grande parte dos funcionários públicos é reflexo da sociedade civil, que não cumpre as leis e aposta na impunidade. Ele defende o fim das contratações sem concurso e aposta nas reformas política e administrativa para diminuir a "cultura favorável à corrupção". A seguir, a entrevista: Qual foi a resposta que mais o impressionou? Uma resposta que me chocou, entre várias, foi a porcentagem tanto da sociedade civil quanto dos servidores que admitiu que já havia quebrado a lei e havia recorrido à propina. Foi em torno de 20. O que essa resposta indica? É um indicativo de que existe cultura favorável à corrupção. É decorrência da nossa cultura e da nossa formação patrimonialista. Não há clara separação entre público e privado. O funcionário público hoje é melhor ou pior do que há vinte anos? Baseado não em pesquisa, mas em fatos e na realidade que a gente acompanhou, é que está havendo flexibilização dos padrões de conduta. É marca deste governo? A cultura é secular. Nos últimos governos, digo de 20 anos para cá, desde a nova Constituição, com certeza o padrão da classe política e os valores morais caíram. Em algumas respostas, o servidor mostra índices menores de falta de ética do que a sociedade. Ainda assim o resultado é negativo? Sim. E houve alto índice de servidores que não responderam. Se sentiram constrangidos em dizer a verdade. Como o senhor definiria o servidor público de hoje? Ele é um reflexo da sociedade. Nada mais, nada menos. Os mesmos valores, os mesmos padrões morais e uma mesma falta de ética, no geral. Existe um meio de mudar o comportamento dos servidores? A reforma política é fundamental. Na medida em que se veja que a classe política está menos comprometida com a corrupção, gera um desestímulo. O segundo ponto seria a punição aos culpados por crimes de corrupção, sejam políticos, sejam servidores. Também é importante a reforma administrativa. Redução do número de cargos típicos de indicação, no Legislativo, Executivo ou Judiciário. Por outro lado, aumento dos concursos para substituição dos não concursados. O ideal seria que os cargos de nomeação fossem extintos. O sr. é a favor da estabilidade? Deve haver algum tipo de estabilidade. Se não houver, o servidor é alvo de pressões. Mas não deve ser absoluta. Os funcionários ausentes e de baixa produtividade deveriam ser demitidos com mais facilidade.

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