Duas gestões, um final: crise política e demissão

Êxito administrativo e suspeitas de irregularidade trespassam a carreira do médico sanitarista de Ribeirão Preto que virou político nos anos 80

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Por Redação
Atualização:

A ele imputaram toda sorte de acusações, inclusive quando exerceu mandatos de prefeito de Ribeirão Preto (SP): corrupção, mensalinho da máfia do lixo, licitações dirigidas para compra de molho de tomate com ervilha.

 

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Custou-lhe a pasta da Fazenda, em março de 2006, a quebra do sigilo bancário de um certo Francenildo Santos Costa - o caseiro que revelou ao Estado as idas de Palocci a uma mansão para reuniões com lobistas, segundo a CPI dos Bingos.

 

O mais novo capítulo, que ontem culminou com sua queda da Casa Civil, revela um Palocci perspicaz para negócios: multiplicou em 20 seu patrimônio nos últimos quatro anos, etapa em que dava expediente na Câmara, como deputado, e no comando da Projeto, a bem-sucedida empresa de consultorias.

 

Palocci está às voltas com a locação do apartamento de Moema, na zona sul da capital, 600 metros quadrados pelos quais paga R$ 15.020 de aluguel, fora IPTU e taxa de condomínio. O dono do imóvel é velho cliente da polícia, Gesmo Siqueira dos Santos, que responde a 140 inquéritos por crimes contra a ordem econômica e contra o sistema financeiro.

 

No plano criminal, o ex-ministro está com o caminho livre, inocentado que foi pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

 

No episódio da violação dos dados do caseiro, a Procuradoria-Geral da República o denunciou formalmente em fevereiro de 2008, mas o Supremo rejeitou a abertura de ação penal.

 

O STF também arquivou, acolhendo requerimento da Procuradoria, inquérito que apontava Palocci como suposto beneficiário de parcelas mensais de R$ 50 mil, doações de empreiteira contratada pelo petista na gestão de Ribeirão Preto para coleta de lixo e varrição pública. As medições da perícia policial mostraram o descompasso entre áreas de grande extensão percorridas por reduzido efetivo de garis.

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A denúncia sobre tais repasses, logo rotulados mensalinho, foi feita em junho de 2007 à promotoria por Rogério Buratti, antigo colaborador e ex-secretário de Palocci na primeira gestão em Ribeirão (1993-1996). Buratti disse que a verba caía em caixa 2 do PT.

 

Buratti fez delação premiada. Depois, retirou o que disse em declaração firmada em cartório. Não se sabe o que fez o delator recuar, mas de seu arrependimento valeu-se o denunciado para se livrar de mais uma demanda.

 

O mais recente triunfo do ex-ministro traz a assinatura do chefe do Ministério Público Federal, Roberto Gurgel, que em manifestação de 27 laudas arquivou representações da oposição que pretendia ver esmiuçada a origem dos recursos que garantiram a ampliação de bens de Palocci em tão pouco tempo.

 

Improbidade. Se no foro criminal as coisas vão bem para o ex-ministro, o mesmo não se dá no âmbito civil, no qual é réu por ato de improbidade. Estão em curso ações na Justiça de Ribeirão Preto, uma delas por causa daquela compra de cestas básicas com latas de molho de tomate com ervilha.

 

O Ministério Público Estadual pede a suspensão dos direitos políticos por até 8 anos, pagamento de multa, ressarcimento de lesão ao erário em R$ 2 milhões e outras. "Foram utilizados artifícios para fraudar o caráter competitivo dos certames com o objetivo de favorecer algumas empresas ligadas entre si", sustenta a promotoria. "A partir do início da gestão do réu Palocci na prefeitura, foram introduzidas alterações nos sistemas de compras de gêneros alimentícios que possibilitaram o favorecimento."

 

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