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Doze meses em seis

Por Dora Kramer e dora.kramer@grupoestado.com.br
Atualização:

Quinta-feira foi um "dia calmo" no Ministério das Relações Institucionais, cuja pompa do nome não faz jus às instalações num canto apertado do 4º andar do Palácio do Planalto nem traduz exatamente a natureza de suas funções. A pasta lida com relações, mas não necessariamente se atém às institucionais. O apelido - articulação política - facilita a ligação do nome à pessoa. Como ministério, não tem orçamento para gerir nem cargos para distribuir. Mas, na conformação das relações institucionais à brasileira, é o trato do Orçamento e o manejo dos cargos que o faz um pólo de atração. A relativa paz de quinta-feira última foi atípica. Na calmaria, o ministro José Múcio Monteiro levou duas horas para almoçar. Comeu arroz, feijão e frango - "delícia essa galinha" -, atendeu ao telefone dois senadores e o empresário Jorge Gerdau, que chamava dos Estados Unidos, deu "graças a Deus" porque o senador Marcelo Crivella desistiu de um pleito aparentemente espinhoso, despachou com a assessoria, se informou sobre a reunião de dali a pouco no gabinete presidencial, nutriu a esperança de encerrar às 21 horas o expediente iniciado às 8h30 numa romaria (diária) aos ministérios, sonhou com três dias de férias no carnaval, mas não alimentou a ilusão: "Eles começam a chamar às seis da manhã e vão até a madrugada." "Eles" são deputados, senadores, grupos de interesse (José Múcio não pronuncia a palavra lobby), a matéria-prima de uma rotina que se resume grosso modo a evitar que ocorram estragos no Congresso. Ultimamente é o que mais tem acontecido. Estreante no cargo, assumido no meio da confusão da CPMF, José Múcio prepara saliva, paciência e uma amazônica dose de insistência para ver se consegue cumprir a agenda legislativa de 12 meses em 6. Por causa das eleições é preciso correr com a liberação de emendas - até junho, como manda a lei -, apressar o ritmo dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento, que, em geral, deixam para o fim do ano a autorização do uso do dinheiro posto pelos parlamentares no Orçamento. Com o pacote dos impostos e a TV Pública para aprovar, neste ano não será possível esperar. Tem que sair tudo, de emenda a atendimento de demanda por cargos, até quatro meses antes da eleição. E se não houver esse atendimento? "O insatisfeito se manifesta no painel." Eletrônico, aquele onde serão registrados os votos a favor e contra as medidas tributárias de compensação da perda da CPMF. Para atenuar as insatisfações, Múcio quer organizar tanto o cronograma de cortes quanto o de liberação de emendas. "No lugar de cortar tudo de um e manter tudo para o outro, dividimos os benefícios e os prejuízos." Incluindo nessa fraternidade a oposição? Bem, se o cobertor é curto, cubram-se os da família. "Não há vingança contra a oposição, mas evidentemente a prioridade é de quem ajuda o governo." No pouco tempo de que dispõe, trata de recuperar a base governista, esfacelada por demandas não atendidas, de se aproximar dos senadores, para ver se pelo menos assegura a maioria simples de 41 votos, e tenta reconstruir pontes com a oposição. No PSDB vê mais espaço de convivência (é amigo do peito e conterrâneo de seu presidente, Sérgio Guerra). Do Democratas, já recebeu o aviso: "Há governo, somos contra." Se der para cumprir a agenda mínima nos seis meses que na verdade são quatro e meio (11 de fevereiro a 30 de junho), José Múcio dá por encerrada a missão de 2008. E as eleições? "O governo não vai interferir, é muita gente na aliança e grande o risco de desagradar." E o PT, Lula vai pedir a Marta Suplicy para ser candidata em São Paulo? "Nisso aí não me meto de jeito nenhum." Magoou José Múcio não passou recibo em público, mas que não gostou de ser chamado de seresteiro da Corte pelo líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, lá isso detestou. Achou que o tucano levou a crítica política para o campo pessoal. Sealopra(do) Mais relevante que o conteúdo da proposta de Mangabeira Unger de transposição das águas da Amazônia é a carência de lastro governamental à idéia. Mangabeira saiu em comitiva de 35 pessoas a divulgar algo que não discutiu com o presidente da República, não estudou a viabilidade técnica, ambiental e financeira. Lula não diz um "a" e vai deixando seu ministro brincar sozinho até enjoar. Tudo muito engraçado, não fosse a pretensa ousadia do ministro um mero exercício de promoção pessoal à custa do erário. Educação e política Mais da metade dos 127,4 milhões de eleitores brasileiros sabe apenas ler e escrever ou não concluiu o 1º grau. Tal carência na educação formal não invalida a decisão eleitoral de cada um, mas dificulta o discernimento e influi na qualidade da escolha.

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