PUBLICIDADE

Dom Orione vai virar santo neste domingo

Fundador da congregação da paróquia da Achiropita passou pelo Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

O papa João Paulo II vai canonizar neste domingo, no Vaticano, o beato italiano d. Luis Orione, fundador da Pequena Obra da Divina Providência - a congregação dos padres orionitas que construíram há 75 anos e dirigem até hoje a Igreja de Nossa Senhora Achiropita, na Bela Vista, em São Paulo. "O que eu não fiz pelo Brasil na terra vou fazer no céu", prometeu d. Orione, no Corcovado, em uma de suas passagens pelo Rio. Seus padres lutavam então com dificuldades para se instalar no Brasil, primeiro país a receber missionários da congregação que ele fundou na Itália no fim do século 19. Começaram pela cidade de Mar de Espanha (MG), então pertencente à arquidiocese de Mariana, a convite do arcebispo d. Silvério Gomes Pimenta. Esse apoio não veio por acaso, mas pelo fato de d. Silvério ser negro e d. Orione ter manifestado preocupação com a situação dos negros no Brasil. Foi nessa cidade que ele passou a maior parte do tempo em suas duas visitas ao País - em 1921-1922 e de 1934 a 1937. "D. Orione parou pouco em São Paulo, no máximo 15 dias de cada vez, mas foi o bastante para se entusiasmar com a cidade e, principalmente, com a paróquia de Nossa Senhora Achiropita, construída pela colônia italiana", disse o padre Renato Scano, secretário de uma das duas províncias brasileiras da congregação. O que mais entusiasmou o fundador foi a igreja de estilo bizantino. "Numa carta, de 1937, d. Orione comentou que o templo tinha uma bela cúpula", contou o padre Renato. O nome da padroeira - Achiropita vem do grego e significa não pintado por mão humana - foi dado pelos imigrantes da Calábria. Aluno de d. Bosco em Turim, d. Orione imitou o modelo do mestre para montar sua rede centros de educação cristã para meninos pobres. Mais tarde, deu a esses centros ou oratórios o nome de Pequeno Cotolengo, em homenagem a outro santo italiano, José Cotolengo. "Onde houver uma torre de igreja, colocaremos ao lado um centro de educação para crianças pobres e um ambulatório para pessoas necessitadas", esse era o projeto de d. Orione, quando reuniu os primeiros religiosos. Seus seis primeiros seguidores receberam o hábito clerical no mesmo dia em que ele foi ordenado padre, em 1895, aos 23 anos. Nas duas viagens à América do Sul, o padre se dividiu entre o Brasil e a Argentina. Sua obra cresceu depressa na região de Buenos Aires, mas ele não se desligava do País. "Passo os dias na Argentina, mas todas as noites fico pensando no Brasil", escreveu. "Agora, 64 anos após a sua morte, temos aqui mais de 200 padres trabalhando em dezenas de paróquias e centros educacionais, o dobro da Argentina", celebra padre Renato. O cartão-postal dos orionitas é a igreja da Bela Vista, que tem ao lado da torre um complexo de obras sociais - o Centro Educacional Dom Orione, para 415 crianças e adolescentes pobres, a maioria do bairro. São alunos de escolas públicas que, fora do período de aula, aprendem música, teatro, artesanato, primeiros socorros e outras atividades que poderão render uma profissão. "Quando eu crescer, quero tocar numa orquestra de verdade", sonha Érica de Oliveira Souza, de 10 anos, que na segunda-feira treinava violino, tocando Caçador de Mim, de Milton Nascimento, com 15 colegas, sob a batuta do maestro Valdir Maia. Um quarteirão abaixo, naquela mesma hora, 160 pessoas tomavam o café da manhã na Casa Dom Orione - a primeira de três refeições que a paróquia serve diariamente para moradores de rua. Outra obra de d. Orione em São Paulo é o Cotolengo Paulista, no km 25,5 da Rodovia Raposo Tavares, onde 107 deficientes físicos e mentais moram e recebem assistência médica. "Sobrevivemos literalmente graças à Divina Providência, pois os recursos que recebemos de convênios com o Estado e a prefeitura de Cotia não cobrem as despesas", diz o diretor-geral do centro, padre Aparecido da Silva. O Cotolengo atende também a comunidade vizinha. Tem uma escola estadual para 700 alunos e salas de terapia por onde passaram 10 mil pacientes no ano passado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.