PUBLICIDADE

Doleiro afirma que Youssef confirmou a ele repasse de dinheiro para Cunha

No depoimento, o doleiro afirmou não ter “a princípio” conhecimento de ter feito transferências bancárias de contas de suas empresas para contas do presidente da Câmara no exterior.

Por Igor Gadelha
Atualização:

BRASÍLIA - O doleiro Leonardo Meirelles afirmou nesta quinta-feira, em depoimento no Conselho de Ética da Câmara, que o doleiro Alberto Youssef confirmou a ele que repassou cerca de US$ 5 milhões ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a mando do lobista Júlio Camargo. Segundo Meirelles, esse montante, contudo, foi repassado em espécie.

PUBLICIDADE

No depoimento, o doleiro afirmou não ter “a princípio” conhecimento de ter feito transferências bancárias de contas de suas empresas para contas do presidente da Câmara no exterior. Também disse não saber se Eduardo Cunha possui contas secretas fora do País, como apontam as investigações da Operação Lava Jato. 

Cunha é alvo de processo no Conselho e Ética sob acusação de ter mentido justamente que não tinha contas secretas no exterior, durante depoimento à CPI da Petrobras na Câmara em 2015. Investigações daLava Jato, contudo, apontam que o peemedebista possui contas na Suíça, que foram supostamente abastecidas por recursos desviados da petrolífera.Transferências. No depoimento, o doleiro contou que começou a se relacionar com Yousef em2009. Meirelles disse que era "operador de pagamentos" de Yousef. Ele disse que Yousef usava contas de empresa dele no Brasil e no exterior para receber recursos ilícitos e fazer pagamentos. 

O depoente contou que, em abril de 2012, Youssef o chamou em seu escritório para informar que cerca de US$ 5 milhões seriam depositados nas contas de Meirelles no exterior e que, por isso, ele deveria providenciar contratos fictícios de prestação de serviço para justificar a transferência.

Segundo o doleiro, o contrato fictício teria sido celebrado em maio de 2012 e o dinheiro foi enviado para contas dele por meio de três transferências: duas de cerca de US$ 2,4 milhões feitas em 8 de junho e 28 de outubro de 2012 e outra de US$ 400 mil feita em 7 de novembro daquele ano.

Meirelles disse que, devido ao alto valor do montante, Youssef confirmou que os cerca de US$ 5 milhões que seriam depositados viriam de Júlio Camargo, mas não comentou os motivos que levaram o lobista a pedir para fazer a transferência. Em depoimento no âmbito da Operação Lava Jato, Camargo disse ter pago US$ 5 milhões a Cunha. Segundo o lobista, o presidente da Câmara teria o pressionado a transferir o montante como pagamento por ter ajudado a viabilizar contratos denavios-sonda de empresas coreanas e japonesas com a Petrobras. Após receber o dinheiro no exterior, o doleiro Leonardo Meirelles disse que “arrecadou” no Brasil os cerca de US$ 5 milhões em reais e levou para o escritório de Alberto Youssef. De acordo com Meirelles, o montante em espécie foi, então, levado ao Rio de Janeiro pelo ex-policial federal Jaime Careca, que atuava como entregador de Youssef. “Fiz a entrega sem saber quem era. Uma semana depois, em almoço, o Alberto comentou informalmente de quem se tratava”, disse o doleiro. Segundo Meirelles, Yousseff o disse que o valor foi entregue em um condomínio na Barra da Tijuca, na capital carioca, mesmo bairro onde Cunha possui uma casa.

Meirelles contou que Yousseff relatou que teria que terminar logo aquele "contrato", porque era um assunto “pendente do passado”. “Ele comentou informalmente. Olha, você não imagina a pressão que estava sofrendo, graças a Deus consegui liquidar aquela transferência, que era de Eduardo Cunha”, disse no depoimento. O doleiro disse ainda que “nunca” esteve com o presidente da Câmara. “O Alberto só me passava valores e pedia para checar contas. Ele usava tanto para receber como para repagamentos. Geralmente me informava só as informações bancárias", contou. Questionado pelo relator do processo contra Cunha no Conselho de Ética, deputado Marcos Rogérgio (DEM-RO), se fez transferências bancárias para contas de Cunha no exterior, Meirelles disse que "não houve". "Não que eu tenha conhecimento", emendou. 

Publicidade

Delação. No depoimento, o doleiro Leonardo Meirelles afirmou que sua delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato já foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo sua defesa, a delação já foi homologado pelo ministro do STF Teori Zavascki. 

Meirelles faz parte do rol de testemunhas sugeridas pelo PSOL e Rede, partidos que apresentaram a representação contra o peemedebista no colegiado em outubro do ano passado, e que devem ser ouvidas na fase de instrução probatória (coleta de provas e depoimentos) do processo de Cunha. Essa fase começou em 22 de março e pode durar até 40 dias. Nessa quarta-feira, 6, em mais uma ação para tentar adiar a análise do processo, que se arrasta há mais de cinco meses, a defesa de Cunha ingressou com recurso no STF para tentar impedir a oitiva de delatores arrolados como testemunhas, entre Meirelles. O Supremo, contudo, negou o pedido nesta quinta-feira. Advogados de Cunha sustentam que os delatores da Operação Lava Jato não podem contribuir com o objeto central do processo, que analisa se o presidente da Câmara quebrou o decoro parlamentar ao, segundo a representação, mentir na CPI da Petrobras. Os advogados dizem ainda que os delatores querem se "beneficiar" dos depoimentos.Representação. Cunha é alvo de processo no Conselho e Ética sob acusação de ter mentido que não tinha contas secretas no exterior durante depoimento à CPI da Petrobras na Câmara em 2015. Investigações da Operação Lava Jato, contudo, apontam que o peemedebista possui contas na Suíça que foram supostamente abastecidas por recursos desviados da estatal.

A defesa de Cunha reitera que o parlamentar não mentiu. Ele não possui contas no exterior em seu nome, mas, sim, offshores. Os advogados insistem que os valores que o presidente da Câmara tem no exterior foram transferidos para trustes no passado.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Inclusão de citações. Relator do processo no Conselho de Ética contra Cunha, o deputado Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que o depoimento do doleiro Leonardo Meirelles foi "importante", mas que o depoente fez "alegações indiretas" sobre o peemedebistas. 

Marcos Rogério reconheceu que as citações indiretas de Meirelles fogem ao escopo inicial do processo por quebra de decoro parlamentar contra Cunha. O relator ressaltou, contudo, que isso não o impede de incluir os fatos novos em seu parecer final. "O peso dessas informações serão associadas a outras provas que estão sendo coletadas", disse Rogério, lembrando que seu parecer pela admissibilidade do processo previa que novos fatos poderiam ser acrescentados. O advogado de Cunha no Conselho, Marcelo Nobre, rebateu a informação. Segundo ele, o Direito não permite ao relator incluir fatos novos ao escopo inicial da denúncia. "Seria uma violência", disse, acrescentando que, quando o Ministério Público descobre novos fatos no curso de uma investigação, apresenta uma nova denúncia.