PUBLICIDADE

Dois mil acompanham sepultamento de dom Lucas em Salvador

Por Agencia Estado
Atualização:

O cardeal Lucas Moreira Neves foi sepultado no inicio da noite deste segunda-feira na Catedral Basílica da capital baiana conforme seu desejo, manifestado duas vezes nos últimos 20 dias de vida. A missa exequial, presidida pelo cardeal-arcebispo de Salvador dom Geraldo Majella Agnelo, foi seguida de uma procissão com o esquife de dom Lucas pelo centro histórico da cidade, acompanhada por cerca de duas mil pessoas. A cerimônia na catedral contou com as participações de 300 religiosos entre os quais os arcebispos eméritos cardeais dom Eugênio Sales e dom Evaristo Arns, dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, dom Luciano Mendes, ex-presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e dom Marcelo Cavaleiro, vice-presidente da CNBB. Os mais importantes políticos baianos também assistiram à missa, acomodados em lados opostos na catedral. O ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) o governador Otto Alencar (PL), o ex-governador César Borges (PFL), o senador Paulo Souto (PFL) ficaram em bancos à direita da capela-mor, enquanto os deputados Waldir Pires e Nélson Pelegrino (ambos do PT) à esquerda. Todos assistiram à homilia de dom Geraldo que fez resumo dos 52 anos de vida religiosa do cardeal. "Dom Lucas foi um servo fiel e respeitoso da Igreja", lembrou, fazendo questão de ler o epitáfio que o próprio religioso pediu para ser colocado em sua lápide. "Aquele que aqui está, passou a existência na busca do rosto radioso e sereno do seu senhor. Agora o encontrou". Durante o ofertório, amigos de dom Lucas levaram para o altar objetos-símbolos da sua vida religiosa como o hábito de padre, a encíclica papal, o brasão com o qual era identificado, o estandarte do seminário que tanto apoiou e outros. A missa durou duas horas. Logo depois, o corpo foi colocado num carro do corpo de bombeiros para a procissão, aberta por integrantes de irmandades leigas. Durante o cortejo, os participantes cantaram "Segura na mão de Deus" e o "Hino do Senhor do Bonfim", enquanto as pessoas que assistiam aplaudiam a passagem do féretro. O esquife retornou à catedral por volta da 18h quando dom Lucas foi sepultado num trecho do transepto (galeria transversal que liga a nave à capela-mor), próximo ao altar do lado direito, dedicado a Nossa Senhora das Dores e Senhor do Bonfim. Terá o descanso eterno no mesmo local onde vários arcebispos de Salvador estão sepultados, a exemplo de dom Avelar Brandão Vilela que comandava a arquidiocese da capital baiana antes de dom Lucas. O terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá também foi sepultado na Catedral Basílica devido à ajuda que deu para a construção do terceiro templo erguido no local. O atual é o quarto e começou a ser construído com pedras de lioz importadas de Portugal em 1604. Sepultamentos dentro de igreja era uma pratica comum nos primeiros séculos da colonização. Os católicos acreditavam que, sendo enterrados em solo sagrado, seria mais fácil entrar no paraíso. As pessoas que acompanharam a cerimônia do adeus a dom Lucas faziam questão de ressaltar suas qualidades como pastor. A dona de casa Eunice da Conceição, moradora do bairro da Liberdade, por exemplo, disse que decidiu comparecer ao sepultamento, "para rezar pela alma desse santo homem que aprendi a respeitar nos 11 anos que ele foi arcebispo de Salvador". Dom Marcelo Cavalheira assinalou o esforço de dom Lucas para que a Igreja estivesse presente na vida pública do País. Para o prior da Ordem dos Dominicanos (à qual dom Lucas pertencia) frei Márcio Couto, a lembrança que ficou do cardeal foi "a memória prodigiosa, a inteligência, a cultura, a cortesia e a preocupação com as questões da ordem dos dominicanos". Antes de ser sepultado, o esquife com o corpo de dom Lucas, após chegar a Salvador, procedente do Vaticano, no sábado à noite, foi levado para a Catedral Basílica onde rezou-se a primeira missa em louvor à sua alma . Em seguida, o caixão foi transportado num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) na madrugada do domingo para a terra natal do cardeal São João Del Rey (MG) onde passou o dia recebendo as últimas homenagens dos mineiros. O esquife retornou à capital baiana no inicio da noite do domingo, sendo recepcionado por dom Geraldo Majella Agnelo e levado novamente até a Catedral Basílica para novas reverências. Os bispos auxiliares de Salvador dom Gílio Felicio e dom Walmor de Oliveira presidiram missa de corpo presente. Na manhã de hoje, várias pessoas já esperavam a abertura da Catedral Basílica às 6 horas para a visitação ao esquife do cardeal. Os fiéis se aproximavam do caixão se emocionavam, faziam preces e depois procuravam os bancos da Catedral para acompanhar os ofícios religiosos. Por volta do meio-dia a igreja foi fechada para os preparativos da última missa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.