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Documento indica que curso em Cuba tinha 'infiltrado'

Por AE
Atualização:

Um relatório do Exército guardado no Arquivo Público do Rio mostra que a ditadura brasileira (1964-1985) conhecia os nomes da maioria dos ativistas do grupo Ação Libertadora Nacional (ALN) que fizeram curso de guerrilha em Cuba no final dos anos 60 e início dos 70, o que pode indicar a ação de um traidor entre os militantes.O documento confidencial Terroristas da ALN com cursos em Cuba, do Centro de Informações do Exército (CIE), aponta como aluno o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu, codinome Daniel, e reconhece a morte de dois desaparecidos políticos. Um deles é Virgílio Gomes, o Jonas, comandante do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, em 1969, realizado pela ALN em conjunto com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).O segundo desaparecido, cuja morte acaba reconhecida pelo CIE na lista, é Ruy Carlos Vieira Berbert, colega de turma em Cuba de Dirceu no chamado Terceiro Exército da ALN. Berbert desapareceu em 1972 e teve a morte posteriormente reconhecida na Justiça, nos anos 90. Seu corpo, porém, até hoje não foi localizado."Existe um certo consenso entre os sobreviventes daquela época de que havia uma infiltração: alguém que treinou lá era agente duplo, trabalhava para serviços de inteligência", afirma Dirceu. "Uma outra hipótese: trata-se de um relatório feito a partir de informações arrancadas por tortura e redigido para encobrir a sua origem. A repressão fazia isso."O documento do CIE tem detalhes sobre os militantes de quatro "Exércitos" da ALN e cita 81 pessoas, algumas de outras organizações, mas não as identifica. RastreamentoUma hipótese discutida entre ex-exilados brasileiros para explicar as quedas é a de que fossem monitorados de perto em Cuba pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, na sigla em inglês). Dirceu considera muito difícil que a versão seja verdadeira, mas acredita ser "altíssima" a possibilidade de ter havido um infiltrado. Assim, ao retornarem ao Brasil, os militantes eram rastreados, capturados, torturados e mortos pela repressão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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