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Documento derrubou versão inicial dos militares

Por Wilson Tosta
Atualização:

O jornalista Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado Rubens Paiva, diz que a farsa para encobrir o assassinato de seu pai, evidenciada em papéis da Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça, foi montada devido a uma falha burocrática dos militares, que derrubou sua versão inicial. Eles não puderam sustentar o que disseram inicialmente - que o ex-parlamentar não fora preso - por causa de um documento, assinado por um oficial, em poder da mulher de Paiva, Eunice, que também fora presa, devolvendo-lhe seu carro. O ex-deputado, detido, seguira para a prisão dirigindo o veículo, convicto de que seria liberado. A pressa de criar uma nova versão explica as falhas que o dossiê evidencia. "Quando minha mãe foi solta, 13 dias depois, viu o carro ali", conta o colunista do Estado, que compara a montagem em torno do assassinato do pai à que foi armada para tentar encobrir a morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975. "O oficial que entregou o carro deu um ofício, que assinava. O Exército negava, então, que meu pai tinha sido preso. Quando minha mãe apresentou esse documento para a imprensa, aí montou-se essa farsa." Outro motivo para a montagem, na opinião de Marcelo, foi a enorme repercussão, até internacional, que o caso Rubens Paiva teve na época. "Foi um ex-deputado federal assassinado", disse. "Ele foi assassinado depois de preso com a mulher e a filha de 15 anos. Até então, a sociedade civil tinha notícia de que os guerrilheiros, os terroristas, eram presos e tal, achavam que era uma luta armada, uma guerra. Mas, de repente, era um ex-deputado, civil, um socialista histórico." Rubens Paiva foi preso em sua casa, no Leblon, em 20 de janeiro de 1971, por homens armados que se diziam da Aeronáutica. O motivo foi a apreensão de correspondência que lhe fora enviada do Chile pela exilada Helena Bocayuva Cunha, acusada de envolvimento no sequestro do embaixador dos EUA, Charles Burke Elbrick, em 1969. A mensagem levou a repressão a suspeitar que Paiva pudesse saber quem era "Adriano", contato do ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, que aderira à guerrilha. Apesar das circunstâncias, o ex-deputado pelo PTB, cassado após o golpe de 64, agiu serenamente. Vestiu terno e gravata e seguiu os militares, dirigindo o carro no qual achava que voltaria para casa. Segundo informações posteriores, Paiva foi levado para a III Zona Aérea,onde foi torturado. De lá, foi transferido para o Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), comandado pelo Exército. Ali, novamente torturado, não resistiu e morreu.

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