Doações fragilizam investigação

Empreiteiras vinculadas à Petrobrás pagaram campanha de senadores

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Por Marcelo de Moraes
Atualização:

Empresas que são grandes doadoras eleitorais assinaram contratos bilionários com a Petrobrás no ano passado. Apenas os três maiores contratos fechados em 2008 pela companhia somam R$ 5,7 bilhões e os consórcios executores dessas obras incluem construtoras como Camargo Corrêa, Andrade Gutierres e Mendes Jr., tradicionais colaboradoras de campanhas. A situação pode fragilizar a atuação dos senadores na CPI da Petrobrás, uma vez que poderão ser obrigados a investigar contratos executados por grandes repassadores de recursos oficiais para seus partidos. Segundo as prestações de contas apresentadas pelos partidos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em abril deste ano, essas e outras construtoras que participam de vultosos contratos registram doações oficiais importantes para os principais partidos. Levantamento feito pelo Estado mostra que, no ano passado, o total dessas contribuições chegou a R$ 39,9 milhões. O maior volume é do PT, com R$ 14,9 milhões, seguido por PSDB, com R$ 13,3 mi e DEM, com R$ 7,5 mi. Por conta de sua participação ativa nas doações eleitorais, as grandes empreiteiras possuem alto poder de influência sobre os políticos. Nas duas últimas eleições (2006 e 2008), levantamento feito pelo Estado aponta que as principais construtoras do País doaram pelo menos R$ 102,5 milhões para partidos e candidatos. Em 2006, a Camargo Corrêa foi a campeã de colaborações em campanhas com R$ 14,9 milhões. Em 2008, manteve essa posição com R$ 23,9 milhões. No caso dos repasses feitos diretamente aos partidos no ano passado, as doações são suprapartidárias, tornando ainda mais vulnerável a posição das bancadas do Senado - mesmo partidos com representações menores receberam alguma contribuição. O discurso oficial dos dirigentes partidários minimiza a influência das empresas sobre a CPI. Informalmente, porém, interlocutores das construtoras conversam com parlamentares para blindar seus interesses. Para o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), as investigações não sofrerão qualquer impacto por conta da relação milionária das grandes doadoras com a Petrobrás. "O que tiver que ser investigado, será", garante. "Se forem descobertos problemas, duvido que a CPI deixe de lado a investigação por causa de doações eleitorais feita por alguma empresa envolvida. Como dizia o ex-deputado Luiz Carlos Santos, não me peçam a homenagem do meu suicídio", afirma. Maia acredita que existem várias linhas de investigação a serem seguidas dentro da CPI, incluindo a análise dos contratos da Petrobrás. Outra linha que avalia ser interessante é a apuração do suposto aparelhamento político da empresa pelos partidos da base do governo. Na prática, porém, poucos parlamentares acreditam que a CPI possa ir fundo em vasculhar contratos que mexam com as grandes doadoras. Afinal, em 2008, quase todos os partidos receberam ajuda política oficial dessas empresas. O PR, por exemplo, recebeu R$ 420 mil da Construtora Queiróz Galvão. Já o PTB, que poderá ter o senador Fernando Collor (AL) entre os titulares da CPI, ganhou R$ 300 mil da Andrade Gutierrez e R$ 150 mil da Queiróz Galvão. O PP, que poderá ter seu presidente nacional, o senador Francisco Dornelles (RJ), também como membro da CPI, obteve doações de R$ 100 mil da Andrade Gutierrez e R$ 50 mil da OAS. Esse bolo começa a subir quando aparecem as doações para os maiores partidos. O PMDB recebeu um total de R$ 3,25 milhões. No caso do DEM, as doações chegaram a um total de R$ 7,5 milhões. Autores do pedido de abertura da CPI, os tucanos conseguiram contribuições de R$ 13,3 milhões das empreiteiras com contratos com a Petrobrás. O PT, porém, foi o partido que mais recebeu ajuda direta dessas empresas, com R$ 14,9 milhões.

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