Doação irregular foi parcelada

Lista detalha repasses ilegais para candidatos, que recebiam 'investimentos' de empresa em até cinco vezes

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Por e Marcelo Godoy
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Uma lista apreendida pela polícia mostra que a máfia dos parasitas parcelou as doações ilegais para as campanhas de 26 candidatos a prefeito em São Paulo, no Rio e em Minas. De acordo com o Ministério Público Estadual, o documento achado na sede da Home Care Medical Ltda., em Guarulhos, na Grande São Paulo, detalha a forma como os "investimentos" nas campanhas dos candidatos foram feitos. A Home Care é uma das empresas investigadas por fraudes em licitações de R$ 100 milhões. Entre os beneficiados das supostas doações estariam cinco deputados estaduais e um federal, todos de São Paulo. A primeira coluna da tabelas tem a sigla "CP2008", que seria campanha política, 2008. Ao todo, há a previsão de gastos de R$ 4,892 milhões, dos quais a contabilidade registraria como realizados R$ 2,468 milhões - em planilha publicada pelo Estado com os nomes dos candidatos que haviam recebido "ajuda" da empresa constava um "total de investimento" de R$ 3,5 milhões antes da realização do segundo turno das eleições. O documento mostra que as supostas doações foram pagas até cinco vezes em valores que iam de R$ 10 mil a R$ 70 mil. Além de dinheiro, o esquema também teria feito doações de carros. Há um caso, envolvendo um candidato a prefeito de Americana (SP), em que é citada a entrega de um Ômega, além de três parcelas de R$ 30 mil. Há na lista anotações a mão sobre supostos pagamentos a políticos de Uberlândia (MG), Jandira (SP) e Ibiúna (SP) . Na primeira cidade, a empresa teria gasto R$ 200 mil. O advogado Roberto Podval, que defende os sócios da Home Care, Renato Pereira Júnior e Marcos Agostinho Paioli Cardoso, disse que todas as doações eleitorais feitas pela empresa foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral. No site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) há o registro de cinco doações feitas pela Home Care para quatro candidatos a vereador e um a prefeito, além de duas outras para o comitê financeiro da campanha do deputado estadual Orlando Morando (PSDB), que tentou se eleger prefeito de São Bernardo do Campo. Na lista encontrada pela polícia na Home Care há a menção de três pagamentos para "SBC". O primeiro foi de R$ 300 mil, o segundo de R$ 400 mil e o último de R$ 380 mil, totalizando R$ 1,08 milhão. Esse é o mesmo valor registrado na contabilidade chamada pelo Ministério Público de "mapeamento político" - em que Morando aparece como beneficiário de R$ 1,08 milhão no primeiro turno da eleição. A previsão de gastos da Home Care com a candidatura tucana era de até R$ 1,8 milhão, valor que também aparece em um terceiro documento, só que registrado a mão, encontrado na Home Care. Ao ser procurado pelo Estado, Morando negou a existência de doações ilegais em sua campanha. Ele admitiu o recebimento de R$ 700 mil da Home Care e disse que ela foi oficial e com recibo. De fato, o valor registrado no TSE é de R$ 700 mil. PT Há ainda na nova planilha a informação de que a Home Care teria dado R$ 200 mil para seu candidato a prefeito em São Carlos. Naquela cidade, a empresa apoiaria o candidato petista Oswaldo Barba, que foi eleito com o apoio do atual prefeito, Newton de Lima Neto (PT). O dinheiro teria sido pago em 6 parcelas - duas delas de R$ 50 mil e quatro de R$ 25 mil. O Estado revelou terem sido apreendidos na Home Care documentos que, segundo os promotores do grupo Especial de Atuação e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), mostram que a empresa montava os editais de licitações e os projetos de contrato que as prefeituras fariam para entregar o gerenciamento da saúde das cidades à empresa. Esse seria o caso de São Carlos. Tanto a atual gestão quanto o prefeito eleito negaram qualquer relação com a empresa e informaram que a cidade nunca manteve contrato com a Home Care. Alguns nomes são citados na planilha apreendida, como Barbieri, Júnior, Peixoto, Pérsio, Araújo e Fernando. Os promotores querem identificar essas pessoas para saber qual seria o papel delas nas supostas doações. O Ministério Público Estadual e a polícia devem encaminhar os documentos apreendidos para a Justiça Eleitoral, a fim de que possíveis crimes eleitorais sejam apurados, e para o Tribunal de Justiça de São Paulo, a quem compete investigar os delitos supostamente cometidos por prefeitos.

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