Disputa em Maceió ameaça planos de Collor

Rui Palmeira (PSDB) pode vencer no 1º turno e derrotar a aliança que reúne velhos caciques da ‘República de Alagoas’

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

MACEIÓ - Vinte anos depois do processo de impeachment que o tirou do poder, o ex-presidente Fernando Collor está junto de velhos aliados da República de Alagoas, como o senador Renan Calheiros (PMDB), o deputado usineiro João Lyra (PTB) e o prefeito de Maceió, Cícero Almeida (PSD), tentando emplacar o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) – um ex-adversário de Collor – na prefeitura da capital alagoana. As pesquisas de intenção de voto, contudo, indicam que o eleitor está dizendo não à aliança collorida e atrapalhando o futuro político dos quatro caciques.

PUBLICIDADE

Com 48% das intenções de voto, conforme a última pesquisa Ibope, o deputado federal Rui Palmeira (PSDB) lidera disparado a corrida eleitoral e tem chance de ganhar ainda no primeiro turno. Ele conta com o apoio do pai, o ex-senador e ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Guilherme Palmeira e do governador Teotônio Vilela (PSDB). O fenômeno Rui é curioso porque ele não herdou a rejeição de Vilela, seu principal apoiador. Já o prefeito Cícero Almeida, que terminou o mandato com 70% de popularidade, não tem conseguido transferir votos para o afilhado Lessa.

Outros cinco candidatos correm por fora, sem chance de pontuar o suficiente para alterar os rumos da eleição. Com 36 anos, educado e carismático, Rui é egresso também de uma linhagem tradicional na política alagoana, que lhe rendeu o rótulo de representante de oligarquia. É neto do senador Rui Palmeira, líder da UDN na década de 1950 e sobrinho do ex-deputado Vladimir Palmeira (PT), líder estudantil e exilado político da ditadura militar. Ele começou a carreira aos 30 anos, eleito deputado estadual com o apoio do clã, mas logo começou a construir uma imagem própria.

"Tenho vida própria e penso diferente do meu pai e tio, mas tenho orgulho dessa história política familiar, nunca ligada a escândalos e corrupção", disse ele ao Estado. Quanto ao futuro, sonha grande e tem como meta o governo estadual, mas não tira os pés do chão. "A luta agora é para a prefeitura, pretendo não descuidar e, se possível, vencer no primeiro turno".

Enquanto o ciclo da renovação anda, os velhos caciques se empenham para sobreviver. No caso de Collor, o futuro político depende do desempenho dos candidatos que ele apoia no pleito municipal em redutos estratégicos, sobretudo em Maceió e Arapiraca. Ele já perdeu a última eleição para governador, em 2010, e uma derrota dos seus aliados agora pode significar o fim do sonho de reconquistar o poder absoluto que desfrutava como chefe de um dos clãs políticos mais importantes do Estado.

Musa. As pesquisas são desfavoráveis a Collor não só em Maceió, mas em vários colégios eleitorais. Como Atalaia, onde ele perde uma disputa doméstica para o sobrinho Fernando Collor Lyra, filho de Pedro Collor com Thereza Lyra. Morto em 1994 com um tumor no cérebro, Pedro é o irmão desafeto que desencadeou a série de denúncias de corrupção que provocaram o impeachment em 1992. Bela e aguerrida na defesa do marido, Thereza, que é filha de João Lyra, ficou conhecida como a musa do impeachment.

Fernando Lyra (foi esse o nome político que adotou) é candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada pelo ex-prefeito Zé do Pedrinho (PSD), com apoio do avô, que aposta no neto como herdeiro político da família. Ele tem também o valioso apoio da mãe, que abriu espaço na sua agenda de empresária em São Paulo para fazer incursões em Atalaia, a 60 quilômetros de Maceió, e pedir votos para a chapa do filho.

Publicidade

Como uma estrela de TV, sua presença nos palanques atrai multidões aos comícios. Ela é assediada pelos eleitores, que disputam fotos, autógrafos ou um simples aperto de mão. "Por onde ela passa é como um tsunami, faz um arrastão", relata, entusiasmado, o coordenador da campanha da chapa, Augusto Machado. "Se eu não acreditasse no trabalho do meu filho, garanto que não estaria aqui falando para vocês", disse ela em discurso no último comício.

Com 28 anos, formado em economia na Suiça, Fernando dirige a usina Uruba, do avô, a maior empregadora da região. Mas a empresa passa por problemas financeiros e sofre processo de falência. Ele disse que a disputa é um teste para voos mais altos no futuro. Collor, o tio famoso, está engajado na campanha do adversário do sobrinho, Manoel Oliveira (PTB), que patina nas pesquisas, mesmo apoiado pelo atual prefeito, Chico Vigário (PTB).

Tio e sobrinho, todavia, fizeram um pacto de não agressão para não jogar mais combustível na fogueira que dividiu a família há 20 anos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.