Discurso do presidente Lula na posse de Alencar no Ministério da Defesa

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Por Agencia Estado
Atualização:

Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de posse do ministro da Defesa, José Alencar Palácio do Planalto Excelentíssimo senhor José Alencar, vice-presidente da República e ministro da Defesa, e sua senhora Marisa Campos Gomes da Silva Minha querida companheira Marisa, Excelentíssimo senador José Sarney, presidente do Senado Federal, Excelentíssimo deputado João Paulo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, Excelentíssimo senhor ministro Nelson de Azevedo Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal, Meu querido companheiro embaixador José Viegas, Meus companheiros ministros de Estado e ministras, Meus companheiros governadores dos estado: Aécio Neves, de Minas Gerais; Lúcio Alcântara, do Ceará; Wellington Dias, do Piauí; Ronaldo Lessa, de Alagoas; João Alves, de Sergipe; Marcelo Miranda, de Tocantins; Flamarion Portela, de Roraima, Senhores comandantes militares, Senhores presidentes dos Tribunais Superiores, Senhoras e senhores senadores da República, Meu caro Fernando Bezerra, líder do governo no Congresso Nacional, Meu caro deputado Luizinho, líder do governo na Câmara dos Deputados, Meus queridos amigos e amigas, deputados e deputadas federais do nosso país, Meus queridos amigos prefeitos que estão presentes neste ato, Senhores oficiais-generais,Senhoras e senhores integrantes das Forças Armadas, Funcionários e funcionárias do Ministério da Defesa, Meus amigos jornalistas, Senhores representantes das igrejas aqui presentes. Meu querido José Alencar, A missão de defender um país das dimensões e importância do Brasil é grandiosa e complexa. A dedicação do ministro José Viegas à pasta da Defesa e o seu profissionalismo, durante estes 22 meses do nosso governo, são motivos de satisfação e orgulho para todos nós. Entre os muitos êxitos de sua gestão é importante destacar: o fortalecimento da presença das Forças Armadas na proteção da Amazônia; a revitalização do nosso programa espacial; a reativação do Correio Aéreo Nacional, imprescindível à nossa plena integração territorial e humana; e a tão esperada regulamentação da ?Lei do Abate?, que assegura a efetiva soberania nacional sobre o espaço aéreo brasileiro, reforçando a capacidade do nosso país enfrentar o narcotráfico e o crime organizado. Na esfera internacional, a presença solidária de tropas brasileiras no Haiti, coordenando a Missão de Paz das Nações Unidas, constitui-se num inegável desafio que o Ministério da Defesa tem enfrentado com abnegação e competência. Sem falar da notável contribuição que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, liderados pelo ministro Viegas, deram nesse período ao grande mutirão nacional contra a fome e a pobreza. Numa gestão assim profícua, que elevou o contingente de recrutas no serviço militar para cerca de 100 mil, poderíamos destacar ainda o lançamento do programa Soldado Cidadão e, se Deus quiser, logo, logo, a volta do tão sonhado projeto Rondon no nosso país. Ambos os projetos voltados para a afirmação dos direitos e da consciência cívica da nossa juventude. Minhas senhoras e meus senhores, Para substituir o embaixador Viegas, convoquei ninguém menos que o Vice-Presidente da República, numa demonstração da importância que atribuo à Pasta da Defesa e da minha determinação de mantê-la em mãos competentes e seguras. Desnecessário sublinhar as qualidades humanas, políticas e administrativas de José Alencar e o enorme respeito e apreço que todos nós temos por ele. Seu compromisso com a causa da democracia e da justiça social, bem como sua defesa intransigente de uma presença altiva e criativa do Brasil no cenário internacional, são permanente fonte inspiradora para a nossa equipe de governo e, estou certo, para toda a sociedade brasileira. À frente do Ministério da Defesa, José Alencar se pautará pelos mesmos altos ideais republicanos que sempre guiaram o embaixador José Viegas, fazendo com que as Forças Armadas, sob o comando do poder civil, emanado do voto popular cumpra sua nobre função, sua nobre missão constitucional, na estrita observância dos princípios democráticos. Eu não poderia deixar de agradecer ao meu querido amigo, embaixador José Viegas, pelo empenho, dedicação e lealdade com que se portou nesses 22 meses de governo. E o mesmo dizer ao meu companheiro, fraterno amigo, irmão de jornadas difíceis, ao meu companheiro José Alencar: eu não sei se alguém tem dúvida do significado da ida do José Alencar para o Ministério da Defesa. Eu disse, em várias reuniões de que participei com os oficiais generais do meu país, na coordenação de governo, que uma das coisas que eu gostaria que acontecesse quando terminasse o meu mandato, é que não houvesse mais dicotomia entre o servidor civil e o servidor militar. Que ninguém fosse obrigado a pagar o resto da vida por coisas das quais muitas vezes nem participaram; e que a gente pudesse terminar este governo mais irmanado do que em qualquer outro momento da nossa história, entre sociedade civil e os militares brasileiros. A verdade é que nós temos uma sociedade civil, do ponto de vista democrático, altamente preparada, muito calejada, ansiosa para a cada dia, fazer evoluir as conquistas da sociedade civil e a conquista da sua cidadania. E do outro lado temos as Forças Armadas, que sabem e têm cumprido com as suas obrigações e, mais do que cumprir as suas obrigações institucionais, têm tido atitude de solidariedade com todos os projetos que o governo tem realizado nesses últimos anos. E eu posso falar dos meus 22 meses de governo. As Forças Armadas têm tido um papel imprescindível. Em nenhum momento houve qualquer recusa de fazer qualquer decisão do governo se tornar política pública, com dedicação, discernimento, e fazendo as coisas da melhor forma possível. Eu me lembro quando discuti com o Viegas a questão do ?Soldado Cidadão?. A necessidade que nós tínhamos de utilizar a experiência das Forças Armadas para incluir os jovens da periferia e, pela primeira vez há muito tempo, há pelo menos 15 anos, a gente não tinha mais que 70 mil recrutas, e passamos a 100 mil recrutas, com 30 mil novos, exatamente para que a gente pudesse não apenas dar noções de cidadania para esses jovens, mas, ao mesmo tempo, dar condições para aprenderem uma profissão, para que, ao sair do serviço militar, possam arrumar um emprego com maior tranqüilidade do que tinham antes. Prontamente, as Forças Armadas assumiram a responsabilidade e esses jovens já estão quase cumprindo 6 meses de trabalho. Da mesma forma que foi com muito orgulho, Viegas, que eu participei da restauração do Correio Aéreo Nacional. Possivelmente, aqui de Brasília, falando do Correio Aéreo Nacional, as pessoas não dêem importância, mas indo onde nós fomos no Acre, parece-me que a Manoel Urbano, descer no primeiro aviãozinho que chegou lá e ver a emoção daquelas pessoas que passam meses ou anos sem receber uma visita, sem receber um médico, sem receber um dentista, sem receber uma enfermeira, sem receber praticamente ninguém, a gente viu a alegria estampada nos olhos das mulheres, dos homens e das crianças. E para que todos vocês saibam, o sucesso é tão extraordinário que já foi lançado o CAM internacional. Nós, agora, estamos com os aviões da Força Aérea Brasileira cobrindo o Mercosul, fazendo atendimento às pessoas mais necessitadas, a estudantes, e garantindo o direito das pessoas irem e virem, que é um direito sagrado que está contido na nossa Constituição. Da mesma forma, foi com muita emoção, Viegas, que pudemos fazer aquela visita no nosso porta-aviões, ou seja, é até uma recomendação que eu faço a vocês. O dia em que puderem e forem convidados, por favor, não recusem porque vocês vão ver o que nós, brasileiros, temos para oferecer para os países que compõem o nosso mundo fronteiriço. Submarino (inaudível) o Brasil, me parece que é o único país da América do Sul que tem um navio dessa qualidade. Eu penso que por isso mesmo, a política externa, meu querido Celso, que você dirige tão bem no Ministério das Relações Exteriores, é compartilhada por uma política muito competente que o nosso Ministério da Defesa fez e continuará fazendo junto com os nossos comandantes, numa integração profícua com as Forças Armadas dos países que compõem toda a América do Sul, oxalá a América Latina, oxalá a África e oxalá outros países, porque as nossas Forças Armadas estão preparadas para estabelecer essa relação, para trocar conhecimentos e para fazer com que o Brasil seja cada vez mais um país independente, capaz de produzir as suas próprias tecnologias, capaz de concorrer com outras potências na produção, por exemplo, do nosso navio submarino, capaz de fazer a defesa da nossa fronteira no combate ao narcotráfico e ao crime organizado. E nós do Poder Executivo, estamos certos de que a nossa missão é fazer com que as Forças Armadas Brasileiras possam, nem mais e nem menos, mais ter a mesma dimensão de grandeza que nós queremos que as outras instituições tenham, e ter a mesma dimensão de grandeza que nós queremos que o Brasil tenha. E é com essa dimensão que nós, a sociedade civil brasileira, e as Forças Armadas Brasileiras, vamos conquistando o respeito, passo a passo, interna e externamente, para que um dia o Brasil possa ser levado muito mais em conta do que ele é levado hoje, quando se trata da questão da defesa. A nossa presença no Haiti é a demonstração de que o Brasil não perderá uma oportunidade sequer. Eu sei que tem gente que faz crítica mas a verdade é que se nós não estivéssemos lá, lá estariam os militares americanos, fazendo o que jamais os militares brasileiros vão fazer, porque a orientação é que nós não iremos cumprir nenhum papel de polícia, mas iremos tentar manter a paz até que aquele país possa, no próximo ano, convocar eleições e ter um presidente, um governo legitimamente eleito pelo voto direto. E os nossos soldados retornarão ao Brasil, porque certamente teremos muito trabalho para eles aqui dentro. Meu querido Viegas, você deixa o Ministério mas, certamente, não deixará o governo, porque o Viegas é um companheiro comprometido com este governo, antes de eu ser governo e, portanto, agora que eu sou, esteja ele onde estiver, e estará, obrigatoriamente, comprometido em ser um servidor público deste país. E enquanto eu estiver na Presidência, será um servidor público do seu amigo Presidente da República. Meu querido José Alencar, eu quero dizer que a tua indicação é apenas uma demonstração do grau de confiança e lealdade que eu aprendi a ter por um homem que eu não conhecia há dois anos e meio, há menos de três anos. Eu não tinha a menor noção de quem era o José Alencar, só sabia que era presidente de um grande grupo empresarial chamado Coteminas, e que ia completar 50 anos de atividade empresarial. Lá fui chamado. Não quis ir, num primeiro momento, porque não o conhecia. O que eu iria fazer numa festa de um grande empresário como o José Alencar? Fui convencido pelo companheiro José Dirceu a ir a Belo Horizonte e fui a Belo Horizonte. E como eu digo sempre que Deus escreve certo por linhas tortas, eu, que não conhecia o José Alencar, quando acabei de ouvir o seu discurso, disse ao José Dirceu: encontrei o vice-presidente da República que eu precisava para ganhar as eleições. Vim a Brasília convencê-lo a ser meu vice e ele tinha convite de muitos outros candidatos. Mas eu acho que a química entre um pernambucano e um mineiro falou mais alto. Eu não tenho dúvida nenhuma de que parte do sucesso da nossa vitória deveu-se à estabilidade que o companheiro José Alencar deu à minha campanha em vários setores da sociedade brasileira. Esses 22 meses de convivência com o companheiro José Alencar demonstrou o acerto que nós tivemos de trazê-lo como vice. Quando o companheiro Viegas me pediu demissão, eu tentei fazer com que ele voltasse atrás, mas ele disse que era definitivo, e eu não pensei em dois nomes, pensei no José Alencar, porque eu acho que o José Alencar é o que nós temos, hierarquicamente, depois do Presidente a República, de mais representativo para exercer essa função tão nobre. Se alguém, algum dia, no Brasil, não quis levar à sério o Ministério da Defesa ou achou que era um Ministério para não ser levado muito em conta, é importante que vocês saibam: no meu governo ele é levado tão a sério que primeiro foi um embaixador, da qualidade do Viegas, e, segundo, é um homem de importância da República, como o companheiro José Alencar. A você, José Alencar, eu não desejo só sorte, eu quero que você saiba que serei seu eterno cúmplice nas boas políticas que, certamente, você adotará à frente desta Pasta. Toda a sorte do mundo. Paciência, eu peço à dona Marisa, para o Josué, para a mulher e para os netos, terem paciência, porque o José Alencar, embora tenha 59 anos, age como se tivesse apenas 18. Então, temos que gastar essa energia dele com mais funções, com mais trabalho, porque um ser humano sem muita função, pode não dar um bom resultado. Eu quero o José Alencar dedicando essa sua juventude, esse seu espírito de companheirismo, essa vontade de participar e esse seu nacionalismo ao nosso querido Brasil e às Forças Armadas Brasileiras. Boa sorte José Alencar, e muito obrigado a vocês!

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