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Discurso de Fux não funciona para impor limites a Bolsonaro; leia análise

Presidente do STF faz defesa da democracia, mas horas depois presidente da República volta a atacar TSE e coloca mais uma vez urnas eletrônicas sob suspeita

Por Marcelo de Moraes
Atualização:

BRASÍLIA – Depois de Jair Bolsonaro passar as últimas semanas atacando frontalmente ministros do Supremo Tribunal Federal e ameaçando a realização das próximas eleições, não havia alternativa para o presidente da Corte, Luiz Fux, que não fosse uma resposta firme a esses ataques. Na abertura dos trabalhos do STF, Fux produziu um discurso sólido nesse sentido, em defesa da democracia, mas de pouco ou nenhum efeito sobre as ações de Bolsonaro.

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Tanto que poucas horas depois, Bolsonaro aproveitou uma solenidade oficial do governo para voltar a desancar o TSE e seu presidente, o ministro Luís Roberto Barroso, e levantar as mesmas suspeitas infundadas de sempre sobre as urnas eletrônicas. Foi como se Bolsonaro dissesse que não deu a mínima para o discurso de Fux.

Aliás, a fala de Fux sequer nominou o presidente. Lembrou mais uma das dezenas de notas de repúdio que as instituições se acostumaram a emitir sempre que Bolsonaro faz suas ameaças à democracia. E que, no máximo, servem para que o presidente interrompa apenas momentaneamente seus ataques.

Essa talvez seja a maior diferença entre o tom dos ataques de Bolsonaro e a resposta de Fux. Nas últimas semanas, o presidente se referiu, seguidas vezes, ao ministro Barroso como “imbecil” e “idiota”. Também associou o ministro a um espécie de plano para eleger o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Em ocasiões anteriores, também já tinha batido pesado no ministro Alexandre de Moraes. E vem insuflando as redes bolsonaristas contra os ministros, além de insistir em espalhar, sem qualquer prova, a ideia de que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas.

Por causa de toda essa ação de Bolsonaro, esperava-se algo mais contundente no discurso de Fux. O discurso do ministro até cita coisas importantes. Um exemplo: “Harmonia e independência dos Poderes não implica em impunidade”. Ou que “a democracia é o exercício da liberdade com responsabilidade”. Até ameaçou ir mais longe ao dizer que “os juízes precisam vislumbrar o momento adequado para erguer a voz diante de eventuais ameaças”. Mas, como se viu no discurso feito pouco depois por Bolsonaro, a fala corre o risco de ter se transformado em meras palavras ao vento diante do comportamento imutável do presidente.

O presidente do STF, ministro Luiz Fux; 'Harmonia e independência dos Poderes não implica em impunidade', afirma magistrado Foto: Felipe Sampaio/STF

É claro que o papel que Fux representa tem limitações que o impedem de pisar fundo no acelerador contra Bolsonaro. Mas com o presidente insistindo no seu tom e produzindo um caldo de cultura contra a legitimidade das próximas eleições, a reação de representantes das instituições, como Fux, acaba tendo pouco efeito concreto.

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