Diretor fez contratos de R$ 2,6 bi com ‘clube’ de empresas

Cosenza, que substituiu Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento, assinou pelo menos 7 contratações com empreiteiras suspeitas de cartel

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Por Ricardo Brito e Isadora Peron
Atualização:

Atualizado em 19.11 às 15h58

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Brasília - Citado pela Polícia Federal em interrogatórios como suposto beneficiário do esquema de desvios envolvendo a Petrobrás, o atual diretor de Abastecimento da estatal, José Carlos Cosenza, autorizou a assinatura de pelo menos sete contratos com empresas do chamado "clube" da propina – grupo de construtoras envolvidas no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato – num total de R$ 2,6 bilhões.

O nome de Cosenza foi citado indevidamente por delegados da PF ao interrogarem executivos que foram detidos desde a sexta-feira. Ao ser questionada pelo juiz federal Sérgio Moro sobre quais provas existiriam contra Cosenza, a Polícia Federal reconheceu o erro e afirmou que não há evidências sobre a participação do atual diretor sobre sua participação

Os contratos autorizados constam em em documento enviado pelo próprio diretor à CPI Mista da Petrobrás na semana passada. Segundo Cosenza, ele autorizou a assinatura de 16 contratos desde que assumiu a direção da estatal, em abril de 2012, no lugar de Costa. Todos são relativos a obras na Refinaria Abreu e Lima e no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e chegam a R$ 3,7 bilhões.

José Carlos Cosenza (ao centro) em evento da Petrobrás, no Rio Foto: Marcello Dias/Futura Press

O maior deles foi celebrado com a Toyo Setal no valor de R$ 1,1 bilhão, para a construção de uma usina de hidrogênio no Comperj. A Toyo foi a primeira empreiteira cujos dirigentes firmaram acordo de delação premiada e confessaram ter cometido crimes em troca de eventual redução das penas. Os executivos Júlio Camargo e Augusto Mendonça de Ribeiro Neto afirmaram ter pago pelo menos R$ 154 milhões em propinas a pessoas apontadas como operadores do PT e do PMDB no esquema da Petrobrás.

Na relação enviada à CPI, Cosenza disse ter chancelado contratos com outras seis empreiteiras: Queiroz Galvão, Odebrecht, OAS, Galvão Engenharia e GDK S.A., que está em recuperação judicial. Há contratos assinados em 2012 e alguns vão vigorar até 2016 – é o caso do acordo com a Toyo Setal.

Os contratos têm como objeto serviços como fornecimento de bens, construção de ruas e iluminações, tratamento de despejos industriais, construção de diques e taques e montagem de duques para o Comperj e para a Abreu e Lima.

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Cosenza, que era braço direito de Costa na Petrobrás, prestou depoimento à CPI em 29 de outubro e disse nunca ter ouvido falar de desvios ou formação de cartel entre empreiteiras para obtenção de contratos. Na ocasião, ele frisou que só contatou o antecessor cinco vezes, sempre com objetivos profissionais. Na segunda-feira, Cosenza emitiu nota na qual negou "veementemente as imputações de que tenha recebido ‘comissões’ de empreiteiras contratadas pela Petrobrás".

A estatal não quis se manifestar novamente sobre o assunto. A reportagem questionou se a Petrobrás iria manter os contratos vigentes, mesmo sob a suspeita de pagamento de propina. A presidente Dilma Rousseff e parlamentares da base aliada e até da oposição defendem a continuidade dos atuais contratos, com eventuais punições pontuais contra pessoas que se envolveram no esquema.

Negativas. Das sete empresas, o Estado não conseguiu contado com duas: Toyo Setal e GDK S.A. A Odebrecht disse, por meio de sua assessoria, que "nega veementemente as alegações caluniosas feitas pelo ex-diretor da Petrobrás e em especial ter feito qualquer pagamento a qualquer executivo ou ex-executivo da estatal". A empreiteira afirmou que mantém há décadas contratos com a estatal e que todos foram conquistados por meio de licitações públicas.

A assessoria da Galvão Engenharia disse a que empresa "tem colaborado" com as investigações e que também "está permanentemente à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos necessários". Até esta edição ser concluída, as demais empresas não haviam respondido aos questionamentos enviados pela reportagem.

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