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Diretor da OMS, instituições e ex-ministros se mobilizam contra prisão de epidemiologista no DF

Subsecretário afastado de Vigilância à Saúde no DF, médico Eduardo Hage foi um dos alvos de ação da Polícia Federal na terça-feira, 25

Por Mateus Vargas
Atualização:

BRASÍLIA - Entidades de saúde pública, médicos e ex-ministro da Saúde se mobilizam contra a prisão preventiva do epidemiologista Eduardo Hage, subsecretário afastado de Vigilância à Saúde no Distrito Federal (DF). Ele foi um dos sete alvos de ação da Operação Falso Negativo, feita na terça-feira, 25, que apura supostas irregularidades na compra de testes rápidos.

Amigos de Hage e profissionais de saúde criaram uma "vaquinha" virtual para custear a defesa do epidemiologista, que arrecadou mais de R$ 24 mil até a manhã desta quarta-feira, 26, a partir de 103 doações.

Infectologista Eduardo Hage foi preso preventivamente durante a Operação Falso Negativo. Foto: Geovana Albuquerque/ Agência Saúde

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Há contribuições do ex-ministros de Saúde Agenor Álvares e José Gomes Temporão, do ex-secretário nacional de Vigilância em Saúde Wanderson Oliveira e do atual vice-diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), Jarbas Barbosa, entre outros pesquisadores da área de saúde.

"Toda comunidade de saúde pública que conhece o Eduardo Hage está indignada com essa ação. É algo inominável. Esperamos que a lama que foi jogada nele possa ser limpada", disse Álvares, ex-ministro. "Existe uma espécie de culpabilização de gestor na área da saúde. A pior coisa é ser gestor em saúde pública. Se você faz é punido. Se não faz, é punido também", disse.

A acusação contra Hage é de que ele deu o aval técnico para compra dos testes. Colegas do epidemiologista, além da defesa, afirmam que os produtos eram registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) afirma que houve superfaturamento de R$ 18 milhões na compra dos exames.

Ex-ministro da Saúde, o médico sanitarista José Gomes Temporão lembra que Hage coordenou a resposta do governo federal à pandemia de H1N1, em 2009. "Ninguém acredita nessas acusações. É uma violência do Estado inominável. O que exigimos é que ele seja solto e esclareça tudo", disse Temporão. "É preciso repensar a maneira do exercício do controle, que é fundamental. O que tem acontecido é que gestores estão com medo de assumir cargos e funções públicas. Acaba sendo acusado de desvios que não tem nada a ver com o seu comportamento."

O ex-secretário do Ministério da Saúde Wanderson Oliveira diz que Estados e municípios tiveram de buscar, no começo da pandemia, produtos, como testes, num cenário de escassez no mercado. "Órgãos de controle sabiam o que acontecia a pandemia e poderiam ter acompanhado. Mas tem sido padrão recorrente, gestores estão cada vez com mais medo", afirmou. Para ele, há "componente político importante" nesta ação. "Ele jamais poderia estar preso. Tem residência fixa e estava respondendo a todos os questionamentos", disse Oliveira.

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Em nota, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) exigiu transparência e imediato esclarecimento sobre a ação contra o epidemiologista. "Numa nova demonstração de interesses na propagação de acusações e conclusões precipitadas, não podemos permitir que essas ações atinjam a honra de pessoas comprometidas com o país", afirmou a entidade.

A Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) manifestou "total solidariedade" a Hage. 

Na ação também foi preso secretário de Saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo.

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