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Direto da Rocinha: 'Estão deixando de trabalhar para esperar a polícia em casa', diz morador

Em relato à BBC Brasil, residente diz que clima na favela é de 'total apreensão' antes de operação policial.

Por BBC Brasil
Atualização:

Morador da Rocinha há mais de 30 anos, P.J. conversou com a BBC Brasil pelo telefone para falar sobre a expectativa pela ocupação da comunidade por forças policiais, que devem instalar no local uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). P.J, que pediu anonimato, concordou em fazer um diário para a BBC Brasil, contando o que se passa no local antes, durante e depois da ocupação. Leia abaixo seu depoimento: 12/11/2011 - Sábado "O clima é de total apreensão, porque está chegando a hora. À noite, você não vê muita gente na rua e os bares estão fechando cedo. A gente não sabe quando a polícia vai entrar e de que forma vai entrar: se vai ser com truculência ou se vai ser de forma pacífica. Algumas pessoas que têm lugar para dormir fora da comunidade - em casa de parente, por exemplo -, estão saindo da favela e levando os filhos. Se eu tivesse condição, também estaria fora. Mas a gente fica com medo de alguém entrar na nossa casa e quebrar tudo. Tem gente que está deixando de trabalhar e ficando dentro de casa para evitar furtos de eletrodoméstico, como aconteceu no Morro do Alemão, e para receber a polícia quando eles baterem na porta e quiserem fazer revista. Acho que 80% das pessoas na Rocinha concordam com a estratégia da polícia de avisar antes da invasão. Sem aviso, o banho de sangue seria muito maior. Só a possibilidade de uma UPP na Rocinha já está fazendo as coisas se valorizarem. Tem casa que custa R$ 60 mil, R$ 70 mil na favela. Se a UPP entrar aqui, como estão dizendo, as coisas vão se valorizar ainda mais. Vai ter um boom imobiliário aqui. Quem tem sua casa está bem; quem não tem, vai ser difícil comprar. Eu tenho muito tempo de favela, eu quero ver mudança. Vi meu primeiro cadáver aos oito anos de idade. Quem nunca viu, não viveu a realidade da favela." 11/11/2011 - Sexta-feira "O clima na Rocinha está tenso e confuso porque os moradores não sabem o que está realmente por vir. Alguns estão com medo de deixar suas casas e terem objetos como televisõe e eletrodomésticos furtados, como aconteceu na tomada do Complexo do Alemão. Temem também abusos de autoridade por policiais. Não estou com medo, mas estou apreensivo. Minha família toda vai ficar em casa. Não tenho saída. Tenho de trabalhar no domingo. Quero dar uma vida digna aos meus pequenos, com a certeza de uma Rocinha melhor. Mas só vou mesmo acreditar na vida sem a influência do tráfico quando puder andar com meus filhos tranquilamente. Nunca vivi algo parecido, uma sensação de liberdade, de poder ir e vir, de falar para o taxista que moro na Rocinha e não mais dizer que moro em São Conrado só para ser levado. Estou muito otimista, muito mesmo. Sabemos que o tráfico continua em favelas da UPP, só que não armados nem impondo nada a ninguém. Da polícia, eu espero uma ação tranquila, que eles façam o trabalho deles. Acho que uns 90% dos moradores apoiam a instalação da UPP. Tenho mais de 30 anos de Rocinha. Já faz uns cinco anos que não se vê polícia subindo o morro. Não sabemos dos possíveis problemas da pacificação. Nunca vivemos isso, e só sabemos pela imprensa o que aconteceu em outros morros. Vamos ver no domingo o que vai acontecer. O morro hoje está numa aparente tranquilidade." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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