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Dirceu diz que nunca pediu apoio ao PT e se defende sozinho

Por Lorena Vieira
Atualização:

O ex-ministro José Dirceu, um dos denunciados no escândalo do mensalão e apontado como "chefe do esquema", disse neste sábado, 1, que nunca pediu apoio ao governo ou ao PT. "Eu me defendo", enfatizou. "Do processo meu advogado vai cuidar, não falo mais dele." Para Dirceu, o partido tem que realizar o seu congresso nacional, se renovar, se reformar, se redemocratizar e criar novas bandeiras. Ele afirmou ainda "que não é chefe de quadrilha", não é corrupto e nunca roubou. "Sou dirigente político e dediquei toda a minha vida ao Brasil. Nunca provaram nada contra mim."   Veja também: Da crise do mensalão à volta do socialismo  Os quarenta do mensalão  Lula diz que petistas devem defender réus do mensalão Na avaliação do ex-ministro, o PT deve apresentar um nome de candidato à Presidência para a base aliada. Segundo ele, será candidato aquele que tiver voto e reconhecimento do povo brasileiro, apoio do presidente e da coalização. "Essa deve ser a regra", comentou. Dirceu afirmou que o PT deve concentrar esforços em bandeiras como as da "juventude, reforma política, tributária, da ampla reforma do Estado brasileiro, da integração da América do Sul e da Constituinte exclusiva para a reforma política". Deve ainda, completou, pensar nas eleições de 2008 e fazer avançar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo ele, é disso que a legenda tem de cuidar. "O PT não tem que cuidar da questão do desagravo", afirmou, referindo-se à hipótese de eventuais atos nesse sentido, durante o 3º Congresso Nacional, como forma de apoio aos membros denunciados no caso do mensalão. Em discurso no congresso, o presidente  Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o Partido dos Trabalhadores e seus militantes. "Nenhum petista tem que ter vergonha de defender um companheiro", afirmou. Ele reconheceu que o PT cometeu erros mas, ainda assim, é o mais ético entre todos os partidos. Acusado pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha, o ex-ministro José Dirceu estava na platéia. Lula ponderou que há tempo para que os acusados se defendam, mas alertou: "Quem errou estará subordinado às mesmas leis, às mesmas regras que os 190 milhões de habitantes deste país". "Vocês sabem que não costumo falar sobre decisões da Justiça. Mas eu queria que os petistas tivessem em mente uma coisa. Até agora nenhum deles foi inocentado, mas também nenhum deles foi culpado. E somente esses companheiros, nem eu nem vocês, sabemos o que aconteceu", completou. Julgamento sob suspeita Em entrevista logo após a decisão do STF, na última quinta-feira, Dirceu colocou sob suspeita o julgamento que abriu ação penal contra os 40 denunciados no esquema do mensalão e disse temer pelo resultado final do seu processo junto à Corte no futuro. Afirmou ainda que a divulgação da conversa telefônica do ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, publicada no jornal Folha de S. Paulo afirmando que os ministros do Tribunal votaram com a "faca no pescoço" por conta da pressão da imprensa coloca "no mínimo o julgamento do STF sob suspeição". O ex-ministro disse ainda que desistiu de fazer um campanha para pedir a anistia da cassação do seu mandato de deputado federal, ocorrida no final de 2005 em função do escândalo. Dirceu responderá pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha. Segundo o ex-ministro, além da divulgação dessa conversa telefônica existe também um outro fato grave, que foi a divulgação de conversas por e-mail entre Lewandowski e a ministra Cármen Lúcia. "Estou perplexo, estupefato e quase entrando em pânico", destacou. O ex-ministro da Casa Civil disse que espera um pronunciamento do STF a esse respeito. "Este caso é muito grave", disse ele, numa referência específica à divulgação da conversa telefônica do ministro. Na avaliação de Dirceu, essas situações devem ser esclarecidas. "Eu temo pelo meu futuro, quero um julgamento justo. No mínimo, o julgamento do STF está sob suspeição", voltou a dizer. Mensalão O esquema do mensalão - pagamento de uma suposta mesada a parlamentares para votarem a favor de projetos do governo - foi denunciado por Roberto Jefferson, então deputado pelo PTB e presidente da legenda, que acabou sendo cassado por conta de seu envolvimento. Segundo ele, os pagamentos mensais chegavam a R$ 30 mil e o esquema de repasse do dinheiro era feito através de movimentações financeiras do empresário Marcos Valério. Dos acusados de envolvimento no esquema, foram cassados José Dirceu, Roberto Jefferson (PTB-RJ), que denunciou o mensalão, e Pedro Corrêa (PP-PE). Quatro parlamentares renunciaram para fugir do processo e 11 foram absolvidos. Agora, após decisão do STF, todos estão no banco dos réus e, segundo previsão de juristas, uma condenação pode demorar até cinco anos.

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