Diocese dos EUA pede concordata contra vítimas de abuso

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Por Agencia Estado
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Ser molestado por um padre deixou James Devereaux com ninguém a quem se confessar. O que ele não pôde encontrar num confessionário, quando menino, esperou encontrar no tribunal, como homem. Mas exatamente quando Devereaux e seu advogado estavam-se preparando para mover ação contra o ex-reverendo Maurice Grammond, a Arquidiocese de Portland anunciou, ontem, que estava pedindo concordata, invocando o Capítulo 11 da lei de falências. A arquidiocese tomou essa decisão por causa dos custos exorbitantes provenientes das ações contra abuso sexual dos clérigos contra crianças, sustando, com isso, um processo contra Grammond, acusado de abuso sexual de mais de 50 meninos nos anos 80. Devereaux diz que não vai desistir, a despeito da concordata ? que protege uma organização da cobrança dos credores até que reorganize suas finanças, um passo sem precedentes que pode abrir a arquidiocese católica a novos níveis de investigação. ?Nós continuaremos nossa luta até que finalmente a arquidiocese reconheça a ofensa de seus crimes?, diz Devereaux, um fazendeiro de 52 anos que afirma haver sido estuprado vária vezes por Grammond, a partir de 1964, na longínqua cidade de Oakbridge, no Oregon. ?Me ensinaram desde pequeno que Deus é onipotente e o padre, seu representante.? Os queixosos envolvidos em duas ações contra Grammond estão pedindo mais de US$ 160 milhão de indenização. A arquidioceses e suas seguradoras já pagaram mais de US$ 53 milhões para acertar mais de 130 reivindicações de pessoas que se disseram vítimas de abusos de padres nos anos 50. A maioria delas deu entrada nos tribunais a partir de 1999. Nenhuma outra diocese americana pediu concordata, embora a de Boston tenha ameaçado fazer o mesmo, no auge da crise dos abusos sexuais, que irrompeu nos Estados Unidos há dois anos. A Diocese de Tucson, no Arizona, ainda está decidindo se irá recorrer à proteção judicial antes de um julgamento de abuso, em setembro. Em todos os Estados Unidos, os casos de pedofilia conhecidos custaram à Igreja Católica mais de US$ 650 milhões, desde 1959. Entretanto, relativamente poucos caso de molestamento foram a julgamento; fizeram-se acordos antes. Bill Crane, que lidera a filial da Survivors Network, no Oregon, diz que o abuso ?é como um prego na parede. O prego foi-se, mas o buraco ainda está lá. Nunca sairá.? Crane. De 38 anos, mudou-se para o Oregon de Mendham, Nova Jersey, onde ele e seu irmão gêmeo foram molestados, quando meninos, pelo reverendo James Hanley. ?O Vaticano precisa vender algumas de suas obras de arte se quer ter dinheiro para pagar por isto?, diz.

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