PUBLICIDADE

Dinheiro da saúde pode ter sido lavado em offshore no Panamá

Investigadores detectaram uso de laranjas em empresas da máfia suspeita de desviar R$ 100 milhões de hospitais

PUBLICIDADE

Foto do author Marcelo Godoy
Por e Marcelo Godoy
Atualização:

A máfia dos parasitas usou empresas com sede no Panamá e em nome de motoristas e até uma empregada doméstica para lavar parte dos R$ 100 milhões desviados dos hospitais e das prefeituras de São Paulo, Minas, Rio e Goiás. O suposto esquema de lavagem era controlado, segundo a Polícia Civil de São Paulo, pela célula envolvida diretamente com as fraudes nos contratos com as prefeituras para a gestão de hospitais e o fornecimento de remédios e produtos hospitalares. Resultado de uma força-tarefa montada há 11 meses pelo governo de São Paulo, com a participação da Polícia Civil, da Corregedoria-Geral da Administração e da Secretaria de Estado da Fazenda, além do Ministério Público Estadual (MPE), a Operação Parasitas levou anteontem à prisão cinco suspeitos de compor o chamado "núcleo empresarial" da suposta organização criminosa responsável por fraudes em centenas de licitações em 21 hospitais públicos da capital - entre eles o Hospital das Clínicas, o Dante Pazzanese e o Pérola Byington - e em 29 prefeituras. Relatório da Unidade de Inteligência do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) mostra que os investigadores detectaram o uso de laranjas nas offshores Intrepid Overseas Inc e Velox Overseas S/A, ambas ligadas à Velox Produtos de Saúde e Gestão Hospitalar. O verdadeiro dono da empresa seria o empresário Renato Pereira Junior, que é sócio da Home Care Medical Ltda. Pereira Junior e seu sócio na Home Care, o contabilista Marcos Agostinho Paioli Cardoso, foram presos anteontem. A Home Care manteria contratos com as prefeituras de São Bernardo do Campo (SP), São Caetano do Sul (SP), Taubaté (SP), Cotia (SP), Uberlândia (MG), Itu (SP), Araguari (MG), Caçapava (SP) e Indaiatuba (SP). Segundo as investigações, Pereira Junior registrou a offshore Velox Overseas em nome de seu motorista, Maurício Nascimento da Silva. Em uma das conversas interceptadas pela polícia, o empresário dá uma bronca em Silva. A ligação é de 7 de julho de 2008, às 14h28. No diálogo, Silva telefona para o empresário e conta que está na sede da Velox Produtos de Saúde e gestão Hospitalar, em Diadema . O motorista conta que está ali para assinar documentos. "Se acabou de chegar é para acabar de sair. Assina o que tem de assinar e vai embora logo", reage Pereira Junior. A Velox Overseas teria 80% da Velox Gestão. Os outros 20% seriam da Intrepid Overseas, registrada, segundo o relatório, em nome de Anor Augusto Jorge, outro suposto laranja. A principal empresa de Pereira Junior, a Home Care, teria 15% de seu capital vinculado à River Financing Overseas, outra empresa com sede no Panamá. "A Home Care forneceu para o Estado de São Paulo, entre 1999 e 2007 mais de R$ 16 milhões em mercadorias, sendo o pico em 2003", diz o relatório. Desde 2004, a empresa é "alvo de denúncias". Paioli, um dos sócios da Home Care, foi investigado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por ter vencido 24 prêmios da loteria federal. Outra empresa do grupo, a Enfermed Distribuidora de Produtos Hospitalares Ltda, forneceu ao Estado R$ 141 milhões entre 1999 a 2000, "mas de 2002 a 2006 informou ao Fisco não ter realizado vendas". O relatório da inteligência prossegue afirmando que a Enfermed tem como sócia a offshore Pixel International Co, "cuja procuradora é Joana de Souza Pereira, que seria empregada doméstica". O Estado voltou ontem a procurar o advogado César Guimarães , que defende a Home Care e seus sócios. Até as 20 horas, ele não quis se manifestar. Anteontem, Guimarães afirmou que a Home Care não havia praticado fraude alguma. Segundo ele, as empresas do grupo são idôneas, assim como os seus diretores. Ele criticou o que chamou de "espetacularização da ação policial" e a dificuldade dos defensores de terem acesso aos autos da investigação. A lavagem de dinheiro e a evasão de divisas contariam com a participação de um doleiro, que teve o escritório nos Jardins, na zona sul de São Paulo, vasculhado pela polícia. "Paioli faz transações utilizando-se dos serviços do doleiro solicitando remessas, ora em moeda nacional, ora em dólares, sendo que tais remessas são retiradas no escritório do doleiro". FUNCIONÁRIOS A polícia identificou cinco funcionários de hospitais públicos de São Paulo - Pérola Byington, Brigadeiro, Ipiranga e Hospital das Clínicas - suspeitos de participação no esquema. São pregoeiros, diretores de enfermagem e de almoxarifado responsáveis pela compra de medicamentos e materiais por meio de pregões eletrônicos que teriam sido fraudados pela organização criminosa. Com a cumplicidade dos funcionários, os pregões teriam sido direcionados para favorecer a máfia dos parasitas. Três dos suspeitos são citados em relatório da inteligência policial e outros dois são citados nas interceptações feitas pela inteligência do Decap.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.