PUBLICIDADE

Dinheiro da propina é do Opportunity, diz lobista

Chicaroni disse à PF que funcionários do grupo levaram R$ 865 mil a ele

PUBLICIDADE

Por Eduardo Reina
Atualização:

O dinheiro apreendido no apartamento do lobista Hugo Sérgio Chicaroni, que seria utilizado para subornar um delegado da Polícia Federal, é do Grupo Opportunity. A afirmação é do próprio Chicaroni, em depoimento à PF. A confissão serviu de base para a denúncia feita pelo Ministério Público Federal, assinada pelo procurador Rodrigo de Grandis. Os R$ 865 mil foram levados à casa do acusado por "algumas pessoas ligadas ao Grupo Opportunity" e "deveriam ser entregues ao delegado Vitor Hugo (Rodrigues Alves Ferreira)". Havia suspeita de que o dinheiro tivesse como origem o investidor Naji Nahas. Chicaroni disse também à PF que "quem coordenou a entrega dos valores foi uma pessoa de nome Humberto (José da Rocha Braz), executivo do Banco Opportunity". Os emissários que levaram o dinheiro ao apartamento no bairro de Moema, na capital, precisaram fazer várias viagens para entregar todo o dinheiro que teria como destino o delegado Vitor Hugo. O objetivo era evitar que o banqueiro Daniel Dantas, sua irmã Verônica e sua mulher, Maria Alice, fossem incluídos nas investigações da Operação Satiagraha. Dantas é acusado de desvio de verbas públicas e crimes financeiros. "Daniel Dantas não tem relação com esse episódio, o que ficará provado no momento oportuno", afirmou o advogado Nélio Machado, de Dantas e do Grupo Opportunity. Réu confesso, Chicaroni está preso na Polícia Federal em São Paulo desde o dia 8 de julho. Com Braz, são os únicos envolvidos na Operação Satiagraha que continuam detidos, réus por corrupção ativa. O primeiro está na carceragem da PF e o outro em presídio na cidade de Tremembé, no interior do Estado. O delegado Vitor Hugo, ainda de acordo com o depoimento de Chicaroni, foi contatado pela primeira vez no dia 11 de junho. Foi agendada uma reunião, que se efetivou uma semana depois, no restaurante El Tranvia, em São Paulo. O encontro tinha como objetivo confirmar a existência de investigação sobre Dantas. Chicaroni contou que, nessa primeira reunião, o banqueiro já havia autorizado Braz a aumentar o valor da propina de US$ 500 mil para "resolver o caso". Ele disse que o aumento deveria ter o consentimento prévio de Dantas e poderia dobrar. Após outros encontros, e definido o valor da propina em US$ 1 milhão, com autorização de Dantas, segundo o depoimento à PF, ficou acertado que o dinheiro poderia ser pago em duas parcelas de US$ 500 mil. Uma seria entregue antes da operação e a segunda depois de sua deflagração, de modo que a exclusão do banqueiro das investigações pudesse ser confirmada. O advogado de Chicaroni, Alberto Carlos Dias, afirmou que seu cliente está sendo usado como "bode expiatório" em todo esse caso. "Ele é um laranja nessa história." Dias disse ainda que não houve delação premiada, em que o acusado conta o que sabe em troca de abrandamento de possível pena e outras benesses jurídicas. "Foi uma confissão espontânea, ele relatou o que aconteceu. A questão da delação é interpretativa. Não ocorreu", observou. Para exemplificar a situação, Dias contou que ontem a PF não consentiu que fosse entregue a seu cliente o medicamento Frontal, um tranqüilizante de tarja preta. "Ele precisa desse remédio todo dia. Pediram que houvesse autorização da Justiça Federal." O depoimento de Chicaroni à Justiça Federal deverá ser realizado na próxima semana.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.