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Dilma viaja e Temer assume Presidência até domingo

Presidente decide ir à cerimônia da ONU nos EUA, onde repetirá discurso de ser 'vítima de golpe'; vice não foi avisado da mudança de plano

Por Tania Monteiro
Atualização:

Atualizada às 13h22

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BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff embarcou na manhã desta quinta-feira, 21, para os Estados Unidos, onde vai assinar o Acordo de Paris sobre o clima, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Com isso, o vice Michel Temer assume interinamente como Presidente da República, em meio ao trâmite do pedido de impeachment no Congresso Nacional.

Às 6h, Dilma pedalou no entorno do Alvorada. O embarque ocorreu pouco depois das 9h e foi acompanhado por um grupo de cerca de 40 mulheres, que foram prestar apoio à presidente.

Assessores do Planalto afirmam que Dilma aproveitará o discurso na ONU para "denunciar o golpe". A fala será às 9h40min desta sexta-feira, horário de Brasília. Ela deve conceder em Nova York pelo menos duas entrevistas à mídia estrangeira, para a qual pretende relatar que a democracia "está em perigo" no Brasil. O Movimento Vem Junto, pró-impeachment, está organizando um protesto contra Dilma na cidade norte-americana.

Temer, que tem sido chamado de "traidor" por aliados de Dilma, não pretende viajar a Brasília - deve permanecer em São Paulo. Não consta em sua agenda qualquer compromisso oficial. 

Dilma havia desistido da viagem oficial, mas mudou de ideia. O discurso da brasileira no evento está previsto para amanhã às 9h40 (horário de Brasília). Ao subir à tribuna da Organização das Nações Unidas (ONU), a presidente pode aproveitar a fala de até cinco minutos para “denunciar o golpe”, segundo assessores do Planalto.

Embalada pela avaliação de que órgãos da imprensa internacional compraram a ideia de Dilma ser alvo de uma “vingança” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é réu no Supremo Tribunal Federal por envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, Dilma vai aproveitar para conceder em Nova York pelo menos duas entrevistas à mídia estrangeira – uma amanhã, outra no sábado. Em ambas, pretende dizer que a democracia “está em perigo” no Brasil.

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Em contrapartida, Dilma deve enfrentar um protesto que está sendo divulgado nas redes sociais pelo Movimento Vem Junto, na cidade americana. No Brasil, parlamentares da oposição também se manifestaram contrários à ida da presidente aos EUA e à intenção de falar do impeachment na tribuna da ONU.

“É inaceitável a presidente utilizar uma viagem internacional para denegrir a imagem do Brasil no exterior”, afirmou o senador Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM no Senado. O Solidariedade entrou com ação civil e interpelação criminal na Justiça Federal e no Supremo Tribunal Federal, a fim de obter uma liminar que determine que Dilma “se abstenha de utilizar tais organismos internacionais para fins estritamente pessoais”.

O ministro Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) rebateu as acusações da oposição. “A presidente vai para o exterior para destacar mais um ponto alto produzido pelo seu governo, que foi a assinatura do Acordo do Clima (COP-21), no qual há um reconhecimento internacional da conquista desse marco em defesa do meio ambiente. Ela será perguntada sobre o momento político atual e não poderá deixar de manifestar sua indignação com o golpe que se está construindo no Brasil.”

Interinidade. Na ausência de Dilma, Temer assumirá a Presidência interinamente. Mas a equipe do vice não tinha sido avisada da viagem de Dilma até o fim da tarde de ontem.

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Temer, que tem sido chamado de “traidor” por Dilma, não pretende ir a Brasília e deve permanecer nesse período em São Paulo, sem agendas externas.

Enquanto isso, nos EUA Dilma deve insistir ser “vítima de um golpe em que se usa de uma aparência de processo legal e democrático para perpetrar um crime que é a injustiça”. A brasileira deve lembrar que a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Nacional das Nações Sul Americanas (Unasul) questionam o processo de impeachment no País.

Esse gesto, no entanto, ignora que a ONU prefere manter uma postura neutra no episódio. O porta-voz Stéphane Dujarric minimizou o processo de impeachment no País e disse que o Brasil tem “tradição democrática” e “instituições de Estado fortes”.

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Dujarric acrescentou que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, acompanha “de perto” a situação política no Brasil e afirmou estar “confiante que os atuais desafios do País serão resolvidos em conformidade com a Constituição e o quadro legal”.

Brasília. Michel Temer deve embarcar no final da tarde desta quinta-feira, 21, para Brasília a fim de exercer a presidência interina. De acordo com a assessoria de imprensa de Temer, em função de suas atividades como presidente interino, não há data de retorno de Brasília para São Paulo.

No momento, Temer está em sua casa em São Paulo, no Alto de Pinheiros, reunido com o ex-ministro Wellington Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães, braço de formulação política do PMDB. Mais cedo, houve um protesto em frente à residência, mas a pichação "QG do Golpe" feita pelos manifestantes já foi apagada.

Segundo a assessoria do peemedebista em São Paulo, o vice irá Brasília também por orientação da segurança da Presidência da República. No início da manhã, cerca de 80 pessoas do Levante Popular da Juventude fizeram um protesto contra o "golpe" em frente à casa de Temer, no Alto de Pinheiros, em São Paulo. Desde cedo, pessoas que passavam em frente à residência gritavam "fora, PT" ou "fora, golpista".

/ COLABOROU VERA ROSA E RICARDO LEOPOLDO