Dilma rejeita ‘faca no pescoço’, mantém ministro e confronta Comissão de Ética

Presidente considerou ‘afronta’ a decisão do órgão encarregado de analisar procedimentos éticos da Esplanada porque sequer foi informada da reunião

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Por Redação
Atualização:

BRASÍLIA - Irritada com a "faca no pescoço", a presidente Dilma Rousseff desmoralizou na quinta-feira, 1º, a Comissão de Ética Pública da Presidência ao não aceitar de pronto a recomendação de demissão do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, feita pelo colegiado. Disposta ao confronto, Dilma desafiou os integrantes da comissão a demonstrar as razões que embasaram a decisão dos cinco conselheiros e abriu uma crise com o órgão incumbido de vigiar os malfeitos dos ministros e demais integrantes do governo.

 

Ao atropelar a comissão, Dilma deu uma sobrevida a Lupi e ganha tempo político para, segundo assessores, restabelecer sua autoridade e preparar a mudança no Trabalho, em poder do PDT, mas cobiçada pelo PT.

 

Lupi, que desde a manhã de quinta-feira fez uma romaria aos gabinetes do Planalto, incluindo o da presidente Dilma, não está, porém, livre de ser demitido.

 

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Na conversa com Dilma, Lupi fez questão de lhe dar explicações e informar que estava pedindo "reconsideração" da punição à Comissão de Ética.

 

"O ministro disse que também vai oficiar a Comissão de Ética pedindo elementos da decisão. Acho que vai pedir inclusive a ata, com a degravação da reunião, e todos os elementos do processo para pedir a reconsideração", declarou a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas. Lupi tem 10 dias para recorrer.

 

A ministra informou ainda que Dilma pediu à Casa Civil que enviasse ofício à Comissão de Ética "requisitando que seja mandado para ela o processo, ou seja, os elementos que subsidiaram, que embasaram a decisão e a sugestão (de demissão) que ela recebeu por ofício".

 

Cobranças. Segundo assessores, a presidente Dilma exigiu explicações convincentes do ministro em relação às novas denúncias de que exerceu duplo emprego público, o que é proibido por lei, conforme revelado pela Folha de S.Paulo na quinta.

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O caso, porém, só deverá voltar a ser examinado na segunda-feira, depois da volta da presidente de Caracas.

 

Ao tomar conhecimento da decisão dos conselheiros na noite de quarta, Dilma se sentiu "afrontada" e considerou que os conselheiros agiram "com o fígado" contra o ministro Lupi.

 

De acordo com auxiliares, a presidente Dilma se sentiu traída porque não fora avisada da antecipação da reunião da Comissão de Ética, inicialmente marcada para 05 de dezembro, para 30 de novembro.

 

A presidente considerou ainda "inconsistentes" as justificativas do presidente da Comissão, Sepúlveda Pertence, de que Lupi deu explicações "não satisfatórias" à comissão e deu respostas "inconvenientes à comissão, ao Congresso e à imprensa".

 

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Relatora. No Palácio, causaram surpresa as "declarações cheias de subjetividades" da relatora do processo na comissão contra Lupi, Marília Muricy. Houve quem concordasse até com as declarações do deputado Paulinho da Força, de que a comissão estava "perseguindo" Lupi e se vingando do ministro.

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Em dezembro de 2007, a comissão, na época presidida por Marcílio Marques Moreira, considerou aética a postura de Lupi de, ao mesmo tempo, exercer o cargo de ministro e de presidente do PDT. Recomendou ao então presidente Lula, na ocasião, que Lupi ou deixasse a presidência do partido ou o ministério. Na época, Lula nada fez de imediato, a exemplo de Dilma agora, e deu tempo a Lupi para que deixasse a presidência do partido. Desta vez, o prazo dado a Lupi é para impulsionar seu pedido de demissão. A comissão vinha sendo acusada de omissão por só tomar decisões contra os ministros depois que eles já tinham deixado os respectivos cargos.

 

 

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