Dilma recebe presidência do Mercosul

Presidente realiza última agenda diplomática do ano na Argentina

PUBLICIDADE

Por João Villaverde
Atualização:

Paraná - Em meio ao abalo econômico sofrido pela desvalorização do rublo, a moeda da Rússia, e a crise política envolvendo as investigações na Petrobrás, a presidente Dilma Rousseff realiza nesta quarta-feira, 17, sua última agenda diplomática do ano. Dilma receberá a simbólica presidência do Mercosul, que está sob comando de Cristina Kirchner, presidente da Argentina e anfitriã da reunião do Mercosul que começou nessa terça e termina nesta quarta em Paraná, a 500km de Buenos Aires.

PUBLICIDADE

A viagem servirá para Dilma como uma tentativa de criar uma agenda política positiva, ainda que o bloco esteja totalmente em segundo plano na lista de prioridades do Palácio do Planalto.

Oficialmente, o principal objetivo desta reunião do Mercosul é acelerar o ingresso da Bolívia como membro pleno do bloco, formado por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela. Mas todos os líderes sul-americanos têm hoje em Paraná uma missão particular, de agenda interna.

Se Dilma anseia uma volta à normalidade política, a anfitriã Cristina deseja que o bloco se unifique na crítica aos "fundos abutres" que exigem pagamentos da dívida externa do País, renegociada em 2003. O presidente uruguaio, José Mujica, fará sua despedida de encontros multilaterais. O líder paraguaio, Horácio Cartes, deseja o apoio dos sócios para a criação de uma zona franca em seu país, semelhante a zona de Manaus, no Brasil. O boliviano Evo Morales, o primeiro chefe de Estado a chegar para o encontro ainda na segunda-feira, espera sair do encontro com a certeza de que no ano que vem seu país será membro pleno do Mercosul.

Com a adesão plena, a Bolívia terá benefícios para comprar e vender produtos entre os países do bloco, além de participar da definição de produtos que poderão ser protegidos de importações, por meio da Tarifa Externa Comum (TEC).

Missão. Os técnicos do Ministério de Relações Exteriores que iniciaram as discussões multilaterais ontem durante as reuniões entre chanceleres, têm como principal missão uma tarefa complexa: fazer o Mercosul voltar a ganhar relevância na agenda do Palácio do Planalto a partir do ano que vem.

Diante das crescentes questões internas, como a recessão econômica do primeiro semestre, a realização da Copa do Mundo, as eleições presidenciais e a crise na Petrobrás, a agenda de prioridades de Dilma para relações exteriores se concentrou basicamente no bloco BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A criação do banco dos BRICS em julho, no encontro em Fortaleza (CE), foi considerado um "golaço" pelos diplomatas brasileiros.

Publicidade

Mas o sucesso dos BRICS acabou intensificando o processo de desgaste do Mercosul para o governo. Entre 2012 e 2013, o bloco ainda teve importância política para Dilma, que participou ativamente de duas decisões importantes: a inclusão da Venezuela como país membro pleno do bloco e a suspensão temporária do Paraguai após o golpe que tirou Fernando Lugo do poder. O Paraguai voltou ao bloco somente após a reunião do Mercosul em Montevidéu, em julho do ano passado, quando novamente Dilma teve envolvimento direto. Desde então, Dilma teve olhos apenas para os BRICS.

Na área diplomática, a presidente também precisa definir quem chefiará o Ministério de Relações Exteriores no segundo mandato. O atual ministro, Luiz Fernando Figueiredo, não deve permanecer no cargo, como informou o Estado.

Não são poucas, no entanto, as necessidades do Mercosul. De acordo com técnicos brasileiros, que falaram sob a condição de anonimato, o bloco precisa decidir se avança nas discussões para formação de um acordo comercial com a União Europeia e, também, com a Aliança do Pacífico, formada por México, Colômbia, Peru e Chile, ou se continuará funcionando como um fórum político, como tem sido desde que Brasil e Argentina, os maiores países do grupo, passaram a entrar em "conflitos" tarifários.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.