Dilma larga o figurino de dama de ferro

Estratégia do PT para a primeira etapa da campanha da ex-ministra da Casa Civil é "humanizar" a candidata

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Foto do author Vera Rosa
Por Tania Monteiro e Vera Rosa
Atualização:

Do Palácio do Planalto para a planície, Dilma Rousseff será apresentada ao eleitorado, a partir desta semana, longe da garupa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estratégia do PT para a primeira etapa da campanha da ex-ministra da Casa Civil é "humanizar" a candidata e mostrá-la como mulher comum, que tem família e amigos.

 

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"Nunca fui uma dama de ferro", afirmou Dilma ao Estado, numa referência à fama de durona, criada durante sua gestão na Casa Civil. "É um estereótipo, uma imagem irreal."

 

O "batismo" de Dilma como pré-candidata do PT à sucessão de Lula, sem a companhia do chefe, ocorrerá em Minas. A escolha não foi por acaso: trata-se do Estado onde ela nasceu - o segundo maior colégio eleitoral do País, atrás de São Paulo -, hoje administrado pelo adversário PSDB.

 

A tática inicial consiste em combinar o roteiro afetivo com visitas mais frequentes à região Sudeste, onde, segundo as pesquisas, está a maior diferença de votos a favor do ex-governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB ao Planalto.

 

A agenda para destacar que Dilma é mineira está repleta de encontros sentimentais. Na terça-feira, 6, um dia depois de receber o apoio do PR em Brasília, ela seguirá para Ouro Preto, onde almoçará com prefeitos da região, e à noite será homenageada pela Universidade Federal de São João Del Rey.

 

O almoço com empresários da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) está marcado para quarta-feira, 7, em Belo Horizonte. À tarde, a ex-ministra abraçará parentes e amigos, e a noite foi reservada para uma reunião plenária com a Juventude do PT.

 

De volta a Brasília, na quinta-feira, 8, ela será paparicada em ato organizado pelo PC do B. O PMDB, satisfeito com a constatação de que o governo terá de aceitar o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), como vice de Dilma - hipótese que ganhou força depois que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, decidiu ficar no cargo -, também fará mais afagos à petista.

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"Do ponto de vista institucional, o melhor nome para vice de Dilma é o Temer", comentou o presidente do PT, José Eduardo Dutra. "Ele unifica o PMDB."

 

Engana-se quem pensa que Lula não aparecerá na campanha de sua ex-ministra ainda neste mês. "O presidente vai estar comigo em alguns fins de semana, fora do expediente", disse Dilma. "Lula é nosso maior cabo eleitoral e não vamos prescindir dele nesse período", emendou Dutra.

 

O Planalto e a cúpula petista avaliam, porém, em quais circunstâncias Lula e Dilma podem aparecer juntos. Contam, para essa tarefa, com a consultoria jurídica do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, que participa das reuniões semanais do comando da campanha.

 

Lula já recebeu duas multas - de R$ 5 mil e de R$ 10 mil - porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entendeu que ele estava fazendo propaganda antecipada para a pré-candidata do PT.

 

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Em conversas reservadas, dirigentes do partido admitem que o desafio, agora, é manter a vinculação da imagem de Dilma com programas sociais do governo. É por isso que o segundo eixo da campanha está ancorado em visitas a obras de projetos que Dilma comandou na Casa Civil e quando era ministra das Minas e Energia (2003-2005).

 

A cartilha da Advocacia-Geral da União (AGU) proíbe o comparecimento do candidato em inaugurações a partir de 3 de julho, três meses antes da eleição. A equipe petista alega, no entanto, que Dilma não vai inaugurar, mas, sim, "conferir" o resultado e o impacto de programas que dirigiu - como o Luz para Todos - na vida das pessoas. O partido encomendará em breve uma pesquisa para avaliar o desempenho da candidata fora do governo.

 

Ao se despedir da Casa Civil, na quarta-feira, a então ministra bem que tentou imitar a oratória do presidente, conhecido por sua capacidade de cativar a plateia no palanque. Seguiu seus conselhos de "traduzir" números ao observar que, por trás de cada obra, há "uma história de vida". Citou seis pessoas beneficiadas por ações do governo.

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"Presidente, o senhor lembra do Cristiano, aquele menino que nadava na enxurrada?", perguntou Dilma a Lula, que acenou positivamente com a cabeça. "Um ano depois, nós vimos o Cristiano quase um atleta, nadando no parque esportivo construído em Manguinhos", completou, ao mencionar uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe de sua campanha.

 

Apesar de seguir a ordem presidencial - e de se esforçar para ser simpática ao dizer que "ninguém quer saber de ministro pé frio" -, Dilma não empolgou. Mesmo assim, Lula fez elogios a ela horas depois.

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