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Dilma e Serra antecipam 2010 e trocam farpas sobre crise

Em seminário no ABC para debater crise econômica, ministra criticou governo FHC, enquanto governador atacou política de juros de Lula

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Por Clarissa Oliveira e Joaquim Alessi
Atualização:

Sentados lado a lado num seminário para debater a crise econômica no ABC paulista, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o governador de São Paulo, José Serra, deram ontem a linha dos discursos que poderão guiar a campanha presidencial de 2010. Ambos cotados para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eles aproveitaram uma plateia de metalúrgicos e sindicalistas em São Bernardo do Campo para trocar farpas. Dilma, que discursou por 40 minutos antes de Serra, escolheu como alvo o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem Serra foi ministro. "O governo sempre foi parte do problema em todas as crises antes desta. Quando a crise ocorria internacionalmente, via câmbio e via saída brutal de capitais, o governo quebrava", afirmou Dilma, argumentando que, agora, a administração federal é "parte da solução". A ministra aproveitou para encampar a tradicional crítica de Lula ao fato de o governo FHC ter recorrido ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo ela, o custo do acordo com o fundo foi um "receituário recessivo", que proibia investimentos em infraestrutura no País ou aumentos no salário mínimo. "Rede de proteção social, nem pensar", continuou. Dilma prosseguiu com os ataques ao jogar os juros altos no colo da administração tucana. "Dominamos a inflação, mas viemos ao longo dos anos, depois do início do Plano Real, com um dos juros mais elevados do mundo." E citou até o apagão energético. "Um dos efeitos derivados de crises anteriores foi o apagão", disse, arrancando aplausos da plateia. Alvo de algumas reações hostis e até de vaias durante o evento - organizado pelo prefeito petista de São Bernardo, Luiz Marinho -, Serra começou o discurso com tom ameno, listando projetos capazes de provocar impacto positivo na economia da região. Mas logo mudou de linha e respondeu diretamente a Dilma. "Nossa taxa de juros não era uma das maiores do mundo. Nossa taxa de juros é uma das maiores do mundo", cobrou, dizendo não haver explicação para a demora do governo em afrouxar a política monetária. "Não havia risco de inflação que justificasse a política de juros federal, ainda mais depois da crise", continuou. "Boa parte das dificuldades de hoje ocorre porque passamos seis meses sem que houvesse uma política ativa (de redução dos juros)", concluiu. Serra exaltou ainda medidas que tomou quando era ministro do Planejamento de FHC. Disse que, por exemplo, ser o autor de um plano que por sua pasta nos anos 90 permitiram conter a evasão das montadoras do ABC paulista. AGRADOS Apesar da troca de ataques, Dilma e Serra deixaram juntos o local, com destino ao Palácio dos Bandeirantes, onde se reuniram mais tarde. Antes dos discursos, o clima também era amigável. Na mesa no evento, eles conversaram e até trocaram alguns sorrisos. Nos discursos, houve espaço para agrados à plateia. De olho nos sindicalistas, Dilma citou a construção de moradias populares e os investimentos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Reiterou que o programa Bolsa-Família continuará sendo prioridade. Rodeado por vários prefeitos da região, o governador tucano saiu em defesa da elevação do limite de endividamento dos municípios, que atualmente equivale e apenas uma vez a receita. "Não é mexer na Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa é uma decisão do Senado, que tem que ser iniciativa do governo federal", explicou-se. E completou: "Eu me comprometo, na hora em que forem cair de pau, a apoiar a medida".

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