Dilma diz que está participando de discussões para reformular o PT

De acordo com a ex-presidente, o partido deve reconhecer que cometeu erros e quais foram esses erros

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Por Gabriela Lara
Atualização:
A presidente cassada Dilma Rousseff Foto: Wilton Júnior|Estadão

PORTO ALEGRE - A ex-presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira, 13, que está envolvida nas discussões em prol da reformulação do PT, que devem passar pela troca antecipada da cúpula do partido. "Sem dúvida eu vou participar disso, já estou participando. É algo que tem que ser feito", disse em entrevista à Rádio Guaíba, quando questionada sobre o assunto.

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De acordo com Dilma, o PT deve reconhecer que cometeu erros e quais foram esses erros. "Agora, não é uma questão de se autopunir, mas de buscar novos caminhos, de perceber que houve opções e atitudes incorretas", avaliou. "Eu acredito que o PT tem um patrimônio, é o patrimônio das lutas sociais no Brasil. Não é esta ou aquela pessoa que definirá como o partido vai prosseguir."

A ex-presidente disse que não vê ninguém de dentro do PT que seja contra essa discussão a respeito do rumo que será tomado pelo partido. "Tem que fazer uma reavaliação porque o que ocorreu é muito grave. Não só as eleições. O impeachment é muito grave, a ruptura democrática é muito grave, e isso vai ensejar a discussão sobre o que fazer", falou, acrescentando que é importante envolver a juventude nesse processo. "Tem de ter uma nova geração que seja a responsável também por todo o reerguimento do PT."

Na entrevista à rádio de Porto Alegre, Dilma falou ainda que o seu partido foi vítima de uma "demonização" nos últimos tempos. "É como se o PT fosse o depositário de todos os pecados do mundo, o que não é verdade", disse.

Lula. Dilma afirmou que o quadro de "golpe continuado" no Brasil tem como intenção principal impedir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participe das eleições de 2018. "Há um objetivo claro de condená-lo na segunda instância e inviabilizá-lo como candidato. Se ele vai ser atingido, não temos como avaliar hoje, mas o objetivo é este", afirmou Dilma.

Ela concedeu a entrevista nesta quinta-feira antes da divulgação da decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal, em Brasília, que aceitou integralmente denúncia contra Lula, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e mais nove pessoas. Com isso, os envolvidos se tornam réus e passam a responder à ação penal. Ao petista, são imputados os crimes de organização criminosa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e tráfico de influência. Esta é a terceira ação penal aberta contra Lula, em pouco mais de dois meses, envolvendo casos de corrupção.

Eleições. Dilma Rousseff disse, também, que não pretende se candidatar a nenhum cargo eletivo neste momento, embora o processo que culminou no seu afastamento da Presidência da República tenha mantido seus direitos políticos. "Não estou cogitando nenhuma eleição no curto prazo nem acho que isso seja uma coisa que esteja posta."

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A petista comentou a decisão do Senado na aprovação do impeachment, quando a votação foi fatiada em duas partes. "Não foi para me fazer candidata que mantiveram os meus direitos políticos. Acho que mostra toda a contradição deste processo, porque era visível que era um impeachment sem base constitucional, ou seja, não tinha crime de responsabilidade", argumentou.

Na entrevista, ao ser perguntada, Dilma disse que "não sente ódio" do presidente Michel Temer, a quem acusa de traição. "Não se pode ter ódio das pessoas porque não é no sentido pessoal que elas agem. Elas agem representando interesses e valores que não são os meus", falou. "Eu não tive ódio de torturador, porque vou ter ódio de traidor dentro desses processos? Não funciona assim. Ninguém pode ser movido a ódio, porque o ódio faz com que você seja capturado pelo objeto que você odeia."