Dilma dá carona em avião presidencial a ex-morador de rua

Presidente participou nesta quarta de celebração de natal do Movimento Nacional dos Catadores, em São Paulo

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Por Ricardo Galhardo
Atualização:
Dilma deu uma carona no avião presidencial para o ex-morador de rua Anderson Miranda, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, que participaria de uma reunião em Brasília Foto: Dida Sampaio/Estadão

São Paulo - Em meio a críticas de movimentos sociais e militantes de esquerda pela escolha de nomes identificados com o conservadorismo para o ministério do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff mostrou nesta quarta-feira, 2, que, ao contrário do primeiro mandato, está disposta a interagir e dialogar com a sociedade. Depois de participar da tradicional celebração de natal promovida pelo Movimento Nacional dos Catadores, em São Paulo, Dilma deu uma carona no avião presidencial para o ex-morador de rua Anderson Miranda, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, que participaria de uma reunião em Brasília.

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Horas antes, Miranda, que foi o mestre de cerimônia da celebração natalina, colocou Dilma e o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, em uma saia justa ao “desafiar” a presidente a manter o ministro no cargo.Responsável pela relação direta com movimentos sociais desde o início do governo Dilma, Carvalho pode ser substituído pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, que ocupou papel central na campanha pela reeleição de Dilma e tem uma relação antiga de amizade com a presidente.

O constrangimento começou quando Miranda pediu que o ministro se levantasse durante uma encenação natalina preparada especialmente para Dilma.Visivelmente contrariado, Carvalho resistiu mas acabou obedecendo. Em pé, ao lado de Dilma e outros quatro ministros sentados, o chefe da Secretaria Geral ouviu uma série de elogios de Miranda, que acabou “desafiando” a presidente a mantê-lo no cargo.

O mestre de cerimônias percebeu o mal estar e tentou consertar a situação. “Se o Gilberto não puder continuar, que a senhora escolha um ministro que tenha o mesmo poder”, disse Miranda, ao que Carvalho assentiu com polegar esquerdo levantado em sinal de positivo.

A saia justa continuou durante o discurso do coordenador nacional do Movimento Nacional dos Catadores, Roberto Laureano, que também manifestou preocupação com a substituição de Carvalho mas deu um sinal de otimismo. “Pedimos uma equipe (de governo) que possa acompanhar isso (o processo de inclusão iniciado no governo Lula). Mas a gente sabe que escolha que a senhora fizer para o próximo governo não vai nos excluir , pode até ser uma escolha melhor”, disse ele.

Apesar do agrado à Dilma, Laureano criticou o programa Cataforte III. Articulado pela Secretaria Geral em parceria com outros ministérios, o programa disponibiliza desde agosto de 2013 R$ 200 milhões para a estruturação de cooperativas de catadores e centrais de reciclagem e seria a cereja do bolo do discurso de Dilma mas, segundo Laureano, esbarra na burocracia. “Estamos falando isso há dois anos. Tem que desburocratizar o Cataforte III. São R$ 200 milhões à disposição mas os catadores não conseguem ter acesso a isso de jeito nenhum”, reclamou o coordenador dos catadores.

Em seu discurso, Dilma teve que se explicar dizendo que “todo programa pode ser aprimorado” mas reforçando os aspectos negativos do Cataforte III. Segundo fontes da presidência, o mal estar se dissipou depois do evento. Miranda, o mestre de cerimônia, pegou uma carona no avião presidencial até Brasília, onde participaria de uma reunião.

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Numa tentativa de se aproximar com os movimentos sociais críticos das escolhas de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e Katia Abreu para a Agricultura, a presidente usou as cooperativas de catadores e reciclagem como metáfora para a política econômica que pretende implantar no segundo mandato. “É a proposta mãe, crescer gerando renda e riqueza mas com sustentabilidade. Esta é a concepção mãe do novo governo. É para isso que fui eleita”, disse ela.

Ao participar da celebração de Natal dos catadores, Dilma deu sequência a uma tradição inaugurada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro ano de mandato, em 2003, quando foi ao Glicério, na região central, acompanhado de vários ministros.

Antes de assistir à celebração, Dilma e cinco ministros (Direitos Humanos, Meio Ambiente, Mulheres e Combate à Fome, além de Carvalho) fizeram uma reunião de trabalho com representantes dos movimentos e visitaram uma exposição de produtos feitos reciclados. Dilma chegou a vestir um xale feito com restos de chapas de Raio X feita pela estilista Consuelo Matroni, que também mostrou à presidente um vestido cuja composição leva restos de cartões do Bolsa Família.

 

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