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Dilma agora fala em manter parte da equipe

Aceno de permanência de alguns ministros foi uma tentativa de acalmar Mantega, contrariado com declarações da presidente sobre mudanças

Foto do author Vera Rosa
Por Rafael Moraes Moura , Vera Rosa e BRASÍLIA
Atualização:

Três dias após ter acenado com a substituição de Guido Mantega em eventual segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff chamou ontem o ministro da Fazenda para uma conversa reservada, no Palácio da Alvorada. Durante o almoço, Dilma disse a Mantega que, na entrevista dada na quinta-feira, em Fortaleza, fez apenas uma declaração "genérica" sobre mudanças em eventual segundo mandato. Na ocasião, Dilma disse que "governo novo, equipe nova".Questionada ontem novamente por jornalistas sobre a possível troca de Mantega, Dilma disse que alguns ministros do atual governo poderão permanecer caso seja reeleita. "Meu querido, eu farei uma nova equipe, alguns (ministros) poderão ficar, outros serão renovados", afirmou a presidente, ao ser questionada após assistir ao desfile de Sete de Setembro. "Um governo novo fará uma equipe nova. As pessoas que vão compor essa equipe podem vir do governo anterior, mas é uma nova equipe." Mantega esperava Dilma para a conversa, no Alvorada, enquanto a candidata concedia a entrevista, uma maneira de tentar desfazer, em público, o mal-estar provocado na semana passada. Embora o ministro já tenha dito várias vezes, a portas fechadas, que não permanecerá no cargo em caso de segundo mandato de Dilma, ele não escondeu o mal-estar com a sinalização dada pela presidente na quinta-feira passada. No seu diagnóstico, ao acenar com a troca, ela deixou a equipe mais fragilizada para defender a política econômica dos ataques dos adversários na campanha. Azar. Foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quem aconselhou Dilma a indicar que promoverá mudanças, caso seja reeleita, e a dizer claramente o que pretende fazer na economia. Para Lula, Dilma precisa se reaproximar dos empresários, o mais rápido possível, para barrar a migração de representantes do setor produtivo na direção de Marina Silva (PSB). A campanha de Dilma espera ter, com a sinalização de mudanças em um eventual segundo governo, efeito semelhante à Carta ao Povo Brasileiro, com a qual, em 2002, o então candidato Lula prometeu manter os pilares da política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso (metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante) a fim de acalmar os mercados e ampliar sua base eleitoral. A presidente resiste a falar sobre metas de inflação e superávit primário, mas vai anunciar nos próximos dias, no programa eleitoral de TV, propostas para uma nova política industrial. Substitutos. Apesar da sinalização de mudanças na equipe de ministros, Dilma também tem resistido a indicar possíveis nomes de um futuro governo. Perguntada ontem sobre a manutenção do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, por exemplo, ela se negou a indicar sua equipe antecipadamente. Aproveitou ainda para criticar o adversário Aécio Neves (PSDB), que anunciou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga como ministro da Fazenda, caso o PSDB ganhe a eleição. Dilma repetiu que não indicará ninguém "nesta altura do campeonato". "Não vou escalar ninguém agora. Eu não vou indicar ministros antecipadamente. Eu não sento na cadeira antes do tempo, primeiro porque acho que dá azar. A última vez que sentaram na cadeira não se elegeram", comentou Dilma, numa alusão irônica ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que se sentou na cadeira de prefeito de São Paulo, na disputa de 1985, e perdeu a eleição para Jânio Quadros. "Vou conversar sobre o meu ministério só no dia 1º de janeiro de 2015, caso eu seja eleita", insistiu a presidente. A afirmação de Dilma sobre mudanças na equipe levaram os adversários a criticar a possível demissão de Mantega. "A partir de hoje o Brasil não tem mais ministro da Fazenda", disse Aécio. Marina Silva, por sua vez, comentou que "talvez seja tarde" para a presidente tomar essa decisão.

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