Dilemas do PT frente ao pior dos cenários

Cúpula do partido discute como amenizar ida de Vaccari à CPI e reagir ao atual 'caos político'

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Por Pedro Venceslau
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BRASÍLIA - Três dias depois de a presidente Dilma Rousseff ser alvo de protestos nos 26 Estados e no Distrito Federal, o presidente do PT, Rui Falcão, reuniu-se ontem em Brasília com os principais quadros da legenda na Câmara dos Deputados para alinhar um plano de reação. Antes de começar a conversa reservada, que reuniu os 30 deputados da sigla considerados mais combativos na sede do partido, o dirigente fez um alerta: "Vocês viram aquele documento que vazou do Planalto? Essa reunião é sigilosa. Peço que os senhores não tuítem o que for conversado, assim ficamos mais à vontade". O petista se referia a um documento interno do governo - revelado anteontem pelo www.estadão.com.br - que aponta comunicação "errática" e "caos político" no País. Acatado o pedido, Falcão começou a fazer sua análise de conjuntura. O PT acha inevitável o depoimento na CPI da Petrobrás do tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto, alvo de denúncia criminal na Operação Lava Jato. Para amenizar o dano e evitar o pior dos cenários possíveis, o partido discute se é possível convocar tesoureiros de outras legendas que declararam doações recebidas de empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobrás.

João Vaccari Neto, na chegada a evento do PT, em Belo Horizonte, em fevereiro Foto: JF Diorio/Estadão

A deputada Maria do Rosário (RS) ponderou que dificilmente isso daria certo, já que o PT está isolado na CPI. No encerramento deste tópico, Falcão disse que avalia a ideia de Vaccari se apresentar voluntariamente, já que considera inevitável sua convocação. Apesar da avaliação que o tesoureiro será alvo de uma sabatina tensa, Falcão tranquilizou os colegas. "O Vaccari já está sendo preparado."Críticas. Passado o tópico CPI da Petrobrás, os petistas seguiram a discussão sobre o "caos político" vivido pelo governo e pelo partido. Alguns deputados reclamaram de constrangimento. "Fui vaiado no aeroporto. Alguma coisa precisa ser feita", disse Afonso Florence (BA). O líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), defendeu em tom exaltado que o partido tem de sair da defensiva. "Não podemos ser emparedados pelo PSDB. Temos que ir para a ofensiva. Não podemos levar desaforo para casa." Mas Guimarães admitiu que o governo vive uma "sangria" e criticou integrantes do primeiro escalão. "Os ministros estão enferrujados na defesa do governo", lamentou. Ao exaltar o desempenho de Joaquim Levy, titular da Fazenda, deputados fizeram cara feia. Quando o assunto "manifestações" entrou em pauta, os ânimos se exaltaram. Alguns deputados reclamaram que os prefeitos de suas bases "estão sendo maltratados" pelos ministros. Falcão ouviu calado, enquanto anotava algo em um pedaço de papel. Já o líder do PT na Câmara, Sibá Machado, cobrou mais proximidade com os movimentos sociais. "É preciso dar uma piscadinha para a CUT", disse outro. Sobre os movimentos anti-Dilma, Falcão defendeu uma tese polêmica como antídoto ao antipetismo: o governo deveria restringir a veiculação de publicidade nos meios de comunicação que "apoiaram" e "convocaram" os protestos contra a presidente no domingo. Para ele, não basta contestar os veículos considerados "oposicionistas" pela internet. "Não se enganem. O monopólio da mídia não será quebrado apenas nas redes sociais. Isso é uma ilusão." O dirigente disse que a "quebra do monopólio" deve ser feito por meio de "uma nova política de anúncios para os veículos da grande mídia". Para ilustrar, citou um caso que o pegou de surpresa. "A Record, que sempre teve simpatia maior por nós, no domingo começou em rede aberta a convocar a manifestação. Foi uma briga por audiência. Nesse caso não foi nem má-fé." Falcão pontuou que o sucesso dos atos de domingo se deve "exclusivamente" à convocação da "grande mídia". Para ele, as redes de TV "manipularam" os números de participantes. Terminada a reunião, Falcão voltou a pedir sigilo dos temas ali debatidos. Rede. Como Dilma resiste a encampar a ideia de confrontar a "mídia golpista" cortando seus anúncios, Falcão apresentou um plano de curto prazo. Para fazer a "luta política" nas redes sociais, o PT vai remontar "metade" do aparato de internet usado na campanha de 2014. O dinheiro para isso, explicou, virá do reforço de caixa do Fundo Partidário aprovado ontem na Câmara. Os deputados defenderam a retomada do portal "Muda Mais", plataforma digital que serviu de base virtual na guerra das redes sociais. Falcão explicou que seria inviável por causa do custo: R$ 12 milhões por ano. Mas garantiu que a ideia é montar metade do aparato e um canal de TV na internet, que entrará no ar em abril. No fim do dia, a assessoria de Falcão entrou em contato com a reportagem para dizer que ele não defende a redução de verbas dos veículos de comunicação e disse que o dirigente foi mal interpretado.

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