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Dias antes, Lula dizia ter ''''ojeriza à palavra pacote''''

Presidente afirmava que momento era de ?reflexão?; Múcio garantiu que não haveria aumento de imposto

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Por Guilherme Scarance
Atualização:

Nos exatos 20 dias entre o fim da CPMF e o anúncio do pacote para cobrir a perda dos R$ 40 bilhões, o presidente Lula fez uma grande ginástica política. Em 14 de dezembro, dia seguinte à maior derrota do Planalto no Senado, já se falava em aumento de IOF e CSLL, além de cortes, mas o governo não confirmava. Em viagem à Venezuela, Lula aparentava tranqüilidade: "São coisas da democracia." Nos dias seguintes, relatou sua "ojeriza" a pacotes e garantiu que o País estaria protegido contra atos de "loucura", como aumento da carga tributária. Anteontem, veio tanto o pacote como o aumento de impostos. No dia 16 de dezembro, o presidente desautorizou publicamente o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que em entrevista ao Estado dissera que estava em estudo a criação de um novo tributo, substituto da CPMF, para financiar a saúde. "Avalio que ele vai ter de me convencer da necessidade disso. Ou seja, ele falou para vocês e agora vai ter de colocar na minha mesa e eu vou decidir se vamos ou não vamos, se precisamos ou não precisamos. Eu quero ver todas as contas", disse. Nas palavras de Lula, aquele era um momento de "contar até dez", pois requeria "mais reflexão do que reação". "Não tem nenhuma medida precipitada. Não existe nenhuma razão para que alguém faça alguma loucura de tentar aumentar a carga tributária. O fato é que nós vamos encontrar uma saída." No dia seguinte, 17 de dezembro, Lula voltou ao tema, no programa de rádio Café com o Presidente: "Acabou o mundo? Não. Agora vamos ter de refletir e ver como arrecadar parte dos recursos do imposto." Reiterou que não era hora de tomar uma medida "precipitada". A equipe reforçou o discurso. No dia 18, menos de uma semana após a derrubada da CPMF, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, disse que Lula, em jantar com o Conselho Político, garantira que não haveria aumento de tributos em janeiro. "Nada vai acontecer", teria dito Lula. O deputado aliado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) assegurou: "Não haverá punição para empresas com aumento de impostos. Não vai ter pacote." ?PÁGINA VIRADA? No dia 20 de dezembro, Lula reuniu os jornalistas que cobrem os fatos no Planalto para um café da manhã. Disse que a briga com a oposição era "página virada": "Falei com meus ministros que não quero ouvir a palavra pacote. Prefiro comprar de unidade em unidade. O Brasil já foi vítima de muitos pacotes. Claro que, se precisar, podemos ter algumas medidas administrativas emergenciais. Não mando até fevereiro." E completou: "Tenho ojeriza à palavra pacote." Indagado sobre aumentos de impostos, porém, foi enigmático: "Eu não disse que vai ter ou não vai ter. Essa pergunta é mais antiga que Confúcio."

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