PUBLICIDADE

Diarista queria informática, mas fará curso de azulejista

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Erenice Pereira de Souza, de 36 anos, trabalha como diarista e cria sozinha três filhos. O governo ajuda, com o Bolsa-Família, enviando-lhe R$ 40 por mês. É nada para padrões da classe média, mas não para Erenice, moradora do Jardim Da Vinci, bairro popular de Sumaré, na região metropolitana de Campinas, interior paulista. "Se esse dinheiro ajuda? Claro! Gasto tudo em comida para os filhos", diz ela. O sonho da faxineira é conseguir emprego fixo - que lhe garanta rendimento estável - e registro na carteira de trabalho. Foi pensando nisso que ela aceitou o convite, feito por uma assistente social, para participar de um curso profissionalizante. Ela queria aprender informática. Mas, como só ofereceram cursos para a construção civil, optou pelo de azulejista. Azulejista? Isso mesmo. Segundo a secretária de Assistência Social de Sumaré, Rita de Cássia Pinto, as construtoras têm preferido as mulheres para essa atividade: "Elas se preocupam mais com a qualidade do acabamento e desperdiçam menos. Quando oferecermos informática, a Erenice poderá se inscrever outra vez." Para garantir a colocação no mercado da mão de obra a ser qualificada, o governo está fazendo acertos com as empresas de construção envolvidas no PAC: elas devem reservar uma fatia dos empregos para os mais qualificados nos cursos. O padre Lício de Araújo Valle, diretor de relações institucionais do Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat), de São Paulo, observa que o momento é difícil: "A atual maré de demissões tende a piorar." Mesmo assim ele defende a qualificação dos beneficiários do Bolsa-Família: "É adequado fazer isso agora, para que estejam preparados na retomada da economia. É uma forma de promovê-los e ajudá-los a se emancipar e a sair do programa, abrindo espaço para outros que também precisam." O Ceat, vinculado à Arquidiocese de São Paulo, é uma das instituições que venceram licitações do governo para qualificação da mão de obra. Pelo contrato, deve treinar, em cursos práticos e teóricos, 3 mil pessoas na zona leste da capital. Uma parte do grupo vai receber treinamento voltado para o empreendedorismo, o cooperativismo, a geração de renda. "Não se pode apostar tudo no emprego com carteira assinada", diz o padre.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.