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Desprestigiado no Planalto, Luiz Gushiken pede demissão

O petista ocupava a chefia do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência

Por Agencia Estado
Atualização:

A assessoria de Luiz Gushiken divulgou nesta segunda-feira a carta de demissão do petista do cargo de Chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (NAE). A carta foi apresentada na última sexta-feira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente, segundo a assessoria, compreendeu as razões apresentadas e aceitou o pedido de desligamento do cargo. A decisão de Gushiken de deixar o cargo foi tomada no dia 30 de outubro, um dia após o segundo turno da eleição presidencial, porque se sentia desprestigiado e isolado no governo. A informação foi transmitida à Agência Estado por pessoas próximas a Gushiken. Assume interinamente o cargo Oswaldo Oliva Neto, atual secretário-geral do NAE e coordenador dos trabalhos de planejamento estratégico consolidados no projeto Brasil 3 Tempos. Novo momento do PT Segundo as fontes ouvidas pela AE, Gushiken considera que sua saída simboliza um novo momento do PT na administração federal, pois o presidente Lula pretende formar um governo de coalizão, e os petistas precisam entender a nova conjuntura e abrir espaços para isso. "Têm de abrir espaços. Vou fazer minha malinha", teria dito Gushiken, após encontro com Lula na sexta-feira passada, no Palácio do Planalto. Freqüentador assíduo do gabinete presidencial nos primeiros dois anos do governo Lula, Gushiken caiu no ostracismo depois de deixar a Secretaria de Comunicação de Governo sob pressão de denúncias de interferências indevidas nos fundos de pensão das estatais e envolvimento na formação de caixa dois do PT em campanhas eleitorais. Em conseqüência, ele deixou de fazer parte do principal grupo de influência no governo Lula, que ficou conhecido como "núcleo duro", do qual faziam parte, entre outros, os então ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), além do atual ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e do vice-presidente da República, José Alencar. Reforma política Na carta de demissão, Gushiken diz que está orgulhoso e honrado com a vitória do presidente para um segundo mandato, e alerta que o governo não deve esquecer a crise política deflagrada há dois anos. "Esta experiência impõe na agenda uma profunda reforma política e a contínua modernização institucional, como forma de possibilitar maior transparência das atividades públicas e menor suscetibilidade do aparelho estatal às vicissitudes éticas inerentes ao jogo da política", defendeu. Para Gushiken, "o clima político-eleitoral envenenado pela maledicência turvou o ambiente, contaminou as percepções e estabeleceu juízos distorcidos", dos quais ele agora tenta se defender. "A elucidação dos fatos tem sido a luta incansável que travo, desde então, em defesa de minha honra", ressaltou. Íntegra da carta "Meu caro Presidente e amigo Lula, A memorável vitória neste segundo turno é, em grande parte, fruto de suas virtudes e talentos pessoais. Somente uma liderança forjada em genuínas lutas emancipatórias e dirigindo um governo que tem compromisso com a justiça e a marca generosa da inclusão seria capaz de receber o significativo voto de confiança que lhe foi outorgado nas eleições. No futuro, a história haverá de fazer o adequado registro desses avanços, dos momentosos acontecimentos, da força de sua autoridade e das conquistas civilizatórias de seu governo. Estamos todos muito orgulhosos e honrados. A sua reeleição significa um avanço no processo de identidade e autonomia política de grande parte da população mais humilde deste País que historicamente estiveram sujeitas à manipulação e a uma postura de subordinação. E, ao contrário de divisão, este desenvolvimento da auto-estima e a consciência de autonomia dos excluídos fortalecem o País como nação verdadeiramente integrada. A meu ver, este é o fator que contribuirá decisivamente para que o ambiente beligerante que marcou a disputa eleitoral venha a ceder espaços para que o País esteja unido na busca por maior progresso e justiça social para o nosso povo. Mas não devemos nos esquecer das lições da crise política deflagrada há dois anos. Esta experiência impõe na agenda uma profunda reforma política e a contínua modernização institucional, como forma de possibilitar maior transparência das atividades públicas e menor suscetibilidade do aparelho estatal às vicissitudes éticas inerentes ao jogo da política. Estes são, segundo penso, os positivos efeitos de purificação daquele processo. Por outro lado, os aspectos deletérios daquela crise também não podem ser esquecidos. Na voragem das denúncias abalou-se um dos pilares do Estado de Direito, o da presunção de inocência, uma vez que a mera acusação foi transformada no equivalente à prova de culpa. Com base nesse preceito execrável buscou-se destruir reputações. O clima político-eleitoral envenenado pela maledicência turvou o ambiente, contaminou as percepções e estabeleceu juízos distorcidos. Naquela conjuntura, em julho de 2005, fiz questão de ser destituído da condição de Ministro para que, em meio à crise política que se instalara, pudesse responder às acusações e evitar que as inúmeras ilações feitas contra minha conduta prejudicassem o governo. A elucidação dos fatos tem sido a luta incansável que travo, desde então, em defesa de minha honra. Nos foros adequados tenho apresentado a minha defesa e as provas documentais da correção de minha conduta. Estou absolutamente tranqüilo que, no exame sereno e fiel dos fatos, restará provada, de forma cabal e definitiva, a minha integridade pessoal, bem como a dos funcionários da Secom. Caro amigo Presidente, Esta é também uma carta de agradecimentos e despedida. Somos-lhe profundamente gratos, eu e meus familiares, pela confiança que depositou em minha pessoa nestes quatro anos de governo. Quero registrar também minha gratidão por um gesto generoso seu que está fixado na minha memória e que se refere a um fato aparentemente pequeno e trivial: o convite que me fez em maio de 2002 para ajudar na coordenação de sua campanha eleitoral, mesmo sabendo das enormes debilidades físicas às quais eu estava sujeito naquele momento. Sabe o amigo que sempre encarei as etapas mais decisivas de minha vida como transitórias. Foi assim em 1986 quando deixei a direção do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Em 1998, quando abdiquei de continuar no Parlamento, depois de três mandatos consecutivos, e dediquei-me à coordenação de sua campanha eleitoral, função a qual retornei em 2002, por ocasião da vitoriosa eleição presidencial. Sempre fui movido pela avaliação de que cumprido um ciclo, eu deveria perseguir novos desafios e trilhar outros caminhos. Encerro a presente etapa com minha missão cumprida, razão pela qual formalizo meu pedido de exoneração, estando plenamente satisfeito com as mudanças que ajudei a implementar na Secom. O NAE está organizado e elaborou com extrema dedicação o Projeto Brasil 3 Tempos, o qual deverá oportunamente ser apreciado. Registro, de modo especial, o diagnóstico e os estudos do NAE de que a Qualidade da Educação Básica, entre tantas prioridades, deve merecer a maior de todas as atenções pelo inegável poder de transformação da realidade social brasileira. Com a nova fase que se configura na vida política do País delineia-se uma ampla renovação de dirigentes na Administração Pública Federal, movimento natural e positivo para o seu segundo mandato. Expresso minha firme convicção de que o segundo mandato terá um duplo sentido histórico. Sem dúvida, será um ciclo de reafirmação da democracia brasileira e da definitiva consolidação das bases para que o Brasil seja reconhecido pelo mundo como nação justa e próspera para todos os seus cidadãos. Ao senhor, Presidente, meus votos de pleno êxito nesta empreitada histórica. Cordialmente, LUIZ GUSHIKEN"

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