Despejo no Pará é suspenso por 15 dias

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Por Agencia Estado
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O juiz substituto da 2ª Vara Cível de Ananindeua (PA), Paulo Roberto Vieira, determinou nesta sexta-feira a suspensão, por duas semanas, do cumprimento da liminar de reintegração de posse da área ocupada há vários anos por 1.200 famílias. Os 80 hectares pertencente à empresária Sueli Abdelnor. Na quinta-feira, durante tentativa de desocupação, houve confronto entre 120 homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar e 400 invasores. Sessenta e quatro pessoas ficaram feridas - 54 policiais militares e dez moradores do local. "Temos de esclarecer a real situação desse imóvel", disse o juiz, acrescentando que o julgamento do mérito será feito pelo juiz titular do caso, Raimundo das Chagas Filho, que deve retornar das férias no começo de março. Vieira explicou que a decisão levou em conta a gravidade dos incidentes, que ele disse ter visto pela tevê. Polícia x polícia A direção do Fórum Paraense pela Moradia criticou o juiz por conceder a liminar sem levar em conta o problema social das famílias da invasão, a maioria desempregados que não têm para onde ir. "Se o juiz não tinha maiores informações sobre como vivem as famílias nem deveria ter autorizado o despejo", afirma a entidade. Entre os moradores há vários policiais militares reformados, que também participaram do confronto contra os ex-colegas. Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Urbanos Sem-Teto (MTUST) garantem que estão dispostos a novo enfrentamento com a PM para defender o "direito de morar". Um dirigente da organização, adverte: "Podem ir preparando muitos caixões na PM e entre nós mesmos, porque vai morrer muita gente. E sei isso acontecer a culpa será do governo estadual, que até agora se mantém omisso para o nosso problema". Binóculos Para impedir uma ação de surpresa da PM, as famílias da invasão montaram postos de observação em locais estratégicos. Nas árvores da floresta que circunda a área, homens utilizam binóculos para vigiar a estrada que dá acesso aos 700 barracos de madeira. Crianças e mulheres também dizem não temer os militares. "Será que eles querem repetir o massacre de Eldorado dos Carajás?", questiona a dona de casa Marilda de Assunção Souza, de 31 anos. O marido dela, Elias foi feridos no peito por uma bala de borracha disparada pela PM. "Se é para morrer sem casa e sem emprego, então é melhor morrer lutando", disse Elias. Mas nem todos querem pagar para ver um novo confronto. Algumas famílias, temendo o pior, já começam a abandonar a área, levando apenas a roupa do corpo e alguns pertences. Se alguns saem, outros chegam. Osvaldo Teixeira, conhecido por Teixeirão, alojou-se hoje no barraco desocupado pela família de Luiz Carlos Farias Figueiredo. "Se eles não têm para onde ir eu não tenho sequer onde cair morto", justificou. Políticos-eleitorais O secretário de Defesa Social do Pará, Paulo Sette Câmara, acredita que há interesses políticos-eleitorais por trás dos invasores. "O nível de organização deles é grande e preocupante, até armas de fogo e coquetéis molotov eles têm", disse Câmara, para quem a estratégia de ataque dos invasores contra a PM foi "surpreendente". O deputado João Batista Araújo (PT-PA), o Babá, foi designado hoje pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados para acompanhar os acontecimentos e tentar uma negociação com as autoridades paraenses para evitar novas cenas de violência. Problema social Babá informou que irá se reunir com Sette Câmara, com o comandante-geral da PM, coronel Mauro Calandrine, e com entidades de direitos humanos para discutir a suspensão definitiva do despejo. "O problema é social e não policial e o governo paraense precisa dar uma resposta à sociedade", disse. No começo da tarde, a Polícia Civil anunciou que vai pedir a prisão preventiva de seis pessoas, cinco homens e uma mulher, acusadas de liderar os invasores no confronto com a tropa da PM. Eles foram ouvidos hoje na Divisão de Investigações e Operações Especiais (DIOE), onde estão presos. Quebra-quebra Um dos acusados é Samuel Machado Barros, conhecido por "João de Deus", que é engenheiro florestal e um dos diretores da Comissão de Bairros de Belém e do Fórum Paraense pela Moradia. Segundo a polícia, ele já foi preso em outras ocasiões, durante manifestações pela posse da terra, e teria participado, há dois anos, do quebra-quebra no prédio da Secretaria de Segurança Pública do Pará. Dos 54 militares feridos no episódio, apenas quatro continuam internados. O caso mais grave é o do soldado Eliclei Souza, que perdeu a visão em um olho depois de ser atingido por uma pedrada. Entre os sem-teto, o caso mais grave é o de Pedro Paulo Silva, que levou um tiro com bala de borracha no olho e também corre o risco de ficar cego.

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