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Desistência é golpe na imagem da candidatura de Haddad, diz historiador

Lincoln Secco ressalva que militância, que pode ficar desanimada com saída de Erundina, tem cada vez menos espaço

Por Gabriel Manzano
Atualização:

SÃO PAULO - A saída de Luiza Erundina (PSB-SP) da chapa petista “é um golpe na candidatura de Fernando Haddad”, afirma o historiador Lincoln Secco, autor de 'A História do PT'. Se ela sai “cobrindo-se com o manto da indignação ética”, então “a candidatura Haddad representa o quê?”Mas o historiador alerta que a aliança do PT com o deputado Paulo Maluf (PP) - razão da saída de Erundina - não chega a surpreender. Pois “o PT vem desanimando sua militância desde os anos 1990, quando iniciou sua caminhada para tornar-se um partido da ordem, uma legenda meramente parlamentar”. Essa militância, observa, “tem hoje um espaço muito reduzido dentro do partido”.

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Como o sr. avalia a decisão de Luiza Erundina de abandonar a candidatura Fernando Haddad?É um golpe na imagem da candidatura de Haddad. Depois de aceitar ela decide sair, cobrindo-se com o manto da indignação ética. Ora, se ela encarna essa indignação ética, então a candidatura Haddad é o quê?

Qual o tamanho desse episódio nas mais de três décadas de existência do PT?Não é novidade que o PT tenha apoio de políticos de direita. O vice na chapa de Lula, em 2002, e depois em 2006, era José Alencar, um empresário tido como direitista. E cabe lembrar que a Erundina apoiou essa chapa nas duas ocasiões. A propósito, ela própria desafiou o PT, ao qual pertencia, quando aceitou ser ministra de Itamar Franco nos anos 1990. Naquele momento, o PT era oposição.

A militância petista não se sente hoje um pouco órfã?O PT vem desanimando sua militância desde os anos 1990. Aos poucos, ele foi se tornando um partido da ordem, meramente parlamentar. Abandonou suas origens, marcadas pela força dos movimentos sociais. Mas o partido tem um patrimônio que, desde a chegada de Lula ao poder, ele vem gastando. Ainda tem muito a gastar. Esse eleitor não vê alternativas à sua volta.

Ou seja, a militância perdeu seu papel?Ela tem hoje um espaço muito reduzido no partido. É basicamente formada por funcionários, militantes profissionalizados que são dependentes de deputados e vereadores, uma burocracia partidária.

E o papel de Lula nisso tudo?Surpreende-me que ele tenha voltado a fazer a “pequena política” dentro do petismo, coisa que tinha abandonado em 1989. Agora, o método que Lula empregou viola os métodos tradicionais da história do partido. Isso pode lhe custar caro.

Acredita que Erundina, aos 77 anos, foi embora porque preferiu cuidar de sua biografia?É difícil dizer. Os políticos, em geral, vão até o fim da vida pensando no poder. A trajetória dela é a de uma política que passou de uma esquerda radical para posições moderadas.

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Mas preservou a imagem de uma resistência a alianças.Ela foi eleita para a Prefeitura numa época em que as alianças do PT eram muito restritas. Só os partidos comunistas a apoiavam. E o que ela fez, na ocasião, foi empenhar-se em ampliar esse leque de alianças.

Eram alianças com forças ideologicamente mais próximas. O critério essencial para o PT, nesse tema, sempre foi outro: ele quer é a hegemonia - ou seja, ser o cabeça de chapa. Não importava tanto quem o estava apoiando. No caso inverso, quando ele é que apoiava, sempre houve problemas, mesmo quando a cabeça de chapa era algum socialista ou comunista.

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