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‘Desistência de Huck beneficia a centro-esquerda’, diz sociólogo

Antonio Lavareda, especialista em pesquisas eleitorais, diz que ‘terceira via’ precisaria encontrar candidato com dois dígitos nas pesquisas

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Por Pedro Venceslau
Atualização:

Especialista em pesquisas eleitorais, o sociólogo Antonio Lavareda, presidente do conselho do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), disse ao Estadão que os partidos que buscam uma “terceira via” nas eleições presidenciais de 2022, como alternativa à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), precisam encontrar um nome que atinja os dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto até o início do ano que vem. “Não temos histórico de candidato presidencial exitoso no Brasil que não tenha ingressado no ano da eleição com o patamar de dois dígitos”, disse. 

Em 2022 haverá espaço para um ‘outsider’? 

A demanda do eleitorado em 2022 vai ser semelhante ao que foi em relação aos prefeitos em 2020. Na eleição municipal do ano passado já houve um espaço reduzido para outsiders e a demanda por políticos experimentados. 

Luciano Huck durante entrevista no programa 'Conversa com Bial' Foto: TV GLOBO

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Os partidos do centro já apresentaram 15 potenciais presidenciáveis. Esse número deve ser reduzido para quantos?

O número de pré-candidaturas reflete a fragmentação do sistema partidário. É natural que haja muitos pretendentes. De um lado é importante que essa coordenação exista, mas de outro um ou dois candidatos precisam crescer em intenção de voto. Quem vai apontara viabilidade da terceira via é o eleitorado, e não os dirigentes partidários. Há uma questão de calendário. Não temos histórico de candidato presidencial exitoso no Brasil que não tenha ingressado ano da eleição no patamar de dois dígitos. É importante que haja exposição desses candidatos. Essas forças de centro poderiam se organizar para debater em espaços públicos com máximo de cobertura dos meios de comunicação. O candidato de centro está um ano e meio atrasado em relação ao percurso de Bolsonaro. 

Quem deve herdar as intenções de voto de Amoêdo, Huck e Moro?

A saída do Sérgio Moro beneficia os candidatos da centro-direita. A de Luciano Huck beneficia candidatos eventuais da centro-esquerda, porque ele tinha uma base forte entre o eleitorado de menor renda e do Nordeste. Moro tem apoio eleitoral concentrado no Sul, Sudeste e entre eleitores de renda média e alta. Ele tem temática mais cultivada pela centro-direita, que a moralidade e a corrupção. Isso se aplica também para os eleitores do João Amoêdo. 

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Se Ciro Gomes chegar aos dois dígitos no início de 2022, ele por pragmatismo pode ser opção para quebrar a polarização? 

De fato o desafio dele é avançar no eleitorado de centro e centro-direita. Ciro vai precisar tornar seu discurso mais compatível com as expectativas deste setor específico. Se conseguir isso, pode se viabilizar. Uma das questões da eleição do ano que vem é saber se eleitorado de centro-direita que tem crescido visivelmente de 2016 para cá vai continuar com o bolsonarismo ou vai retornar ao centro típico. 

Isso explica o discurso anti-Lula e antipetista? 

Exato. Ciro percebeu que o espaço à esquerda está praticamente ocupado. Guilherme Boulos (PSOL) e Flávio Dino (PCdoB) já perceberam isso e se afastaram da disputa presidencial. O Lula é hegemônico no eleitorado de esquerda. Tem 30% desse eleitorado. Dificilmente ele perde isso se for candidato.

Lula estará no 2º turno?

De todos os candidatos, ele é o que tem o processo histórico mais longo. É o líder político com maior participação em número de eleições no mundo democrático ocidental. Lula é candidato desde 1989. Isso leva naturalmente a uma fidelização maior do seu eleitorado. O eleitorado de esquerda no Brasil, segundo muitos estudos, responde a esse tamanho: pelo menos 30%. É muito difícil imaginar que Lula não terá esses 30%. E nunca houve alguém com 30% dos votos totais que não chegou ao 2° turno. 

Bolsonaro estará no 2º turno?

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O presidente Bolsonaro também é favorito por conta da curta tradição nossa de candidatos a reeleição, mas não se pode dizer que ele tem um eleitor consolidado do tamanho que o levou a vitória no segundo turno em 2018: 39% do total de eleitores no Brasil. No primeiro turno ele teve 34%. 

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