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Derrota em SP com forte rejeição faz Planalto ''paparicar'' PMDB

Com 71% de crescimento eleitoral, PMDB obriga governo a evitar trombadas na disputa pela chefia do Congresso

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Por Beatriz Abreu , Ricardo Gadour , Rui Nogueira e JOÃO BOSCO
Atualização:

A agenda político-parlamentar do governo Lula nos próximos três meses é tão ou mais explosiva do que a da crise econômica. Líderes da base aliada no Congresso e assessores diretos do presidente da República admitem que três fatores conjugados deixam o Planalto em "estado de alerta". São eles: a engorda do PMDB nas eleições municipais, a disputa acirrada pelas presidências da Câmara e do Senado e - o pior de todos os sinais - a derrota do PT na disputa pela Prefeitura de São Paulo com altas taxas de rejeição a Marta Suplicy. O saldo das avaliações palacianas tirou uma óbvia fórmula de cautela para tocar a política até fevereiro, quando o Congresso reabre e seus presidentes são eleitos - primeiro no Senado e depois na Câmara. A meta é "não trombar com o PMDB", para não antecipar um racha na base partidária e fragilizar politicamente o governo Lula em tempo de crise econômica e pelo menos um ano antes das verdadeiras negociações para as alianças da disputa presidencial de 2010. Pragmático, o presidente vai "paparicar" o partido, disse um ministro, não deixando transformar a disputa pelas presidências em uma guerra do fim dos tempos. O cacife amealhado pelo PMDB nas eleições municipais, em contraste com o fraco desempenho do PT junto ao voto urbano do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, foi lido pelo Planalto como prenúncio de problemas na convivência entre petistas e peemedebistas. O que o governo quer, para já, é que a possibilidade natural e histórica de o PMDB deixar a aliança não seja antecipada, levando o partido a se juntar formal ou informalmente com a oposição - PSDB, DEM e PPS. O raciocínio desse temor tem como base uma planilha especialmente preparada pelos assessores presidenciais e que, na semana passada, repousava sobre as mesas de todos os gabinetes do Planalto. O levantamento da assessoria presidencial fez um corte para mostrar quem mais cresceu só entre os partidos da base. Destacadíssimo, em primeiro lugar, o gordo número de 71% de crescimento do PMDB grifado em negrito, com os demais partidos - entre aqueles que têm peso real na disputa parlamentar - não chegando sequer a 20% de alta. O que, em outras alianças, seria festejado como um reforço da base do governo no Congresso é lido no Planalto como uma ameaça. Diante do resultado municipal, o PMDB engrossou a disputa pelas presidências do Congresso e já fala em ficar como comando das duas Casas. Como disse um ministro do Planalto ao Estado, obriga o governo a tratar o assunto dentro de uma "equação aritmética". Tradução do próprio ministro: "Juntos, os dois partidos (PT e PMDB) podem tudo, mas se o PMDB se juntar a alguém (da oposição) eles também podem tudo. Então, nada de desfazer essa aliança prematuramente" para não perder, ao menos, essa "força numérica" que domina o plenário da Câmara. Boa parte da leitura política sobre a necessidade de manutenção formal dos peemedebistas o máximo de tempo possível na base e de disputar essa permanência na campanha de 2010 deriva da maneira como o PT perdeu a Prefeitura de São Paulo para Gilberto Kassab (DEM). Em algumas regiões da metrópole, Marta Suplicy teve porcentuais de rejeição que ficaram entre os 40% e 50%. O PT perdeu apoio na classe média, mas o fenômeno ainda mais marcante foi a perda de redutos históricos da militância petista, como Capela do Socorro. O bairro, tido como fortaleza da oligarquia dos petistas da família Tatto, que reinava absoluta desde os anos 80, viu Kassab ganhar a eleição, no segundo turno, por 50,5% contra 49,4% dos votos. Ao confrontar o jeito voluntarista como Marta foi para a disputa com a leitura política da pré-campanha, da disputa e dos votos e números saídos das urnas, o governo conclui que o PT perdeu a mística por completo nas eleições municipais deste ano e precisa de alianças tanto quanto outro partido qualquer. Marta, apurou o Estado, se fez candidata sem costurar ao menos os grupos petistas. Pelo contrário, disse ao jornal uma liderança paulista: "Quando ela parecia que ainda negociava a viabilização política da candidatura, descobrimos que Marta e o grupo dela já haviam contratado o marqueteiro João Santana." Sozinha, a candidata petista entrou e saiu da campanha com os mesmos, em média, 30% de votos. Para 2010, apesar da imensa popularidade do presidente Lula - na casa dos 70% em nível nacional, mas batendo nos 90% em alguns municípios do Nordeste -, os analistas dizem que as duas grandes pré-candidaturas do momento, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), vão partir de um patamar parecido com esse terço de votos e precisarão de uma aliança que os faça conquistar a maioria. E o PMDB, diante desse cenário, pulará para o lado que primeiro mostrar viabilidade eleitoral concreta.

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