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Deputado é acusado de explorar trabalho escravo

Gerente da fazenda Agrovas disse à PF que o presidente da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, tinha conhecimento das condições desumanas em que viviam seus funcionários

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Por Agencia Estado
Atualização:

O gerente da fazenda Agrovas, Antônio Alves dos Santos, de 35 anos, afirmou em depoimento à Polícia Federal que o presidente da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, proprietário da fazenda, tinha conhecimento das condições desumanas em que viviam seus funcionários. A afirmação consta do relatório elaborado pelos auditores fiscais do trabalho que detectaram a exploração de trabalho escravo na propriedade, localizada no Mato Grosso. Filho do presidente da Alerj, o deputado federal Leonardo Picciani também é diretor da Agrovas. Picciani nega as acusações. "O próprio gerente afirma em seu depoimento que o proprietário (Picciani) e seu procurador tinham plena ciência da situação em que se encontravam os trabalhadores, que não eram adequadas para um ser humano, mas nunca determinaram que os retirassem de lá", afirma o relatório obtido pelo Estado. "Em sendo os dois diretores da Agrovas autoridades do Poder Legislativo Estadual e Federal, não apenas conhecedores das leis, mas seus elaboradores, essa conivência com a degradação de seres humanos dentro das terras de seu domínio, nos parece injustificável", conclui o documento. No depoimento, segundo revelou uma fonte, Alves afirma que Picciani levava pessoalmente à fazenda o dinheiro para pagamento dos "gatos", intermediários responsáveis pelo aliciamento dos trabalhadores. Segundo os fiscais, não há dúvidas sobre a condição de escravidão em que eles eram mantidos. "Podemos afirmar que encontramos devidamente caracterizada na propriedade, a prática do que se denomina ?servidão por dívida?, considerada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), como a mais disseminada forma de escravidão contemporânea em todo o mundo", afirma o relatório. Os trabalhadores só podiam fazer compras nos armazéns mantidos pelos "gatos", com os quais foram apreendidas armas de fogo, e eram impedidos de deixar o serviço em função de suas "dívidas". Além disso, os trabalhadores, entre os quais adolescentes, eram obrigados a comprar as motosserras que usavam ilegalmente no trabalho de desmatamento. Eles viviam em "condições degradantes", sem direito a alimentação e água potável, dormindo em barracas feitas de plástico no meio da mata. Há também relatos de omissão de socorro a trabalhadores acidentados, que não eram dispensados do serviço e não recebiam atendimento médico. Pelo menos um deles teria morrido devido ao descaso.

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